segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

PARTE 05


Rose estava parada bem na minha porta. Ela ainda usava o vestido do baile. Era a primeira vez que ela vinha até esta ala e eu me perguntava como tinham deixado ela passar até aqui.
“Rose?” falei incrédulo.
“Deixe-me entrar” ela falou ofegante “É a Lissa.”
Eu me afastei de forma que ela pudesse passar. Ela entrou, com seus olhos percorrendo todo quarto e depois me olhando de cima a baixo. Foi quando me dei conta que eu estava vestindo apenas calças de pijama.
“O quê há de errado?” Perguntei. Ela não me respondeu, por um instante. rapidamente, o olhar de Rose passou de observador para luxurioso. Realmente eu não estava entendendo nada do que se passava. Até que ela veio na direção do meu tórax, parecendo verdadeiramente faminta, eu diria.
“Rose! O quê você está fazendo” Exclamei, instintivamente, numa reação de defesa, dando um passo para trás, antes que ela pudesse me tocar.
“O quê você acha?” O seu tom era extremante sensual. Ela se moveu novamente pra mim. Eu me afastei ainda mais, colocando as mãos no meu peito, num gesto protetor. Não parecia Rose. Definitivamente ela estava fora de si.
“Você bebeu?” perguntei enquanto me desviava dela. Ela só podia estar sob efeito de alguma coisa.
“Bem que eu queria.” Ela respondeu, tentando me alcançar novamente e então parou subitamente, com um fio de tristeza em seus olhos. “Eu pensei que você também queria – você não acha que eu sou bonita?”
Aquela não era uma pergunta para ser respondida assim, principalmente com algo tão estranho acontecendo. Eu tentei me desvencilhar dela mais uma vez. Felizmente, meu lado racional estava me guiando. Rose estava linda naquele vestido e escancaradamente se oferecendo a mim. Era a materialização, na minha frente de tudo que eu vinha desejando há um bom tempo. Mesmo assim, eu ainda conseguia ser coerente.
“Rose, eu não sei o que está acontecendo, mas você precisa voltar para o seu quarto.”
Ela ignorou completamente o meu apelo e veio novamente para cima de mim, foi quando eu a detive, segurando os seus pulsos. E, de repente, algo mudou tudo dentro de mim. Toda razão fugiu e eu só conseguia pensar em ter Rose. Foi como se uma corrente de desejo passasse dela para mim, consumindo todo o meu senso lógico. Tentei lutar contra aquilo, à medida que minhas mãos passavam dos seus pulsos para os seus braços. O toque na sua pele suave me fez sentir ainda mais atraído. Não dava para resistir aquilo. Puxei Rose para perto de mim com um dos braços e fui com a outra mão para os seus cabelos. Ah, como eu adorava aqueles cabelos dela. Muito. Eu passei meus dedos por eles, sentindo toda suavidade, a cada toque, e fazendo com que Rose inclinasse o rosto na minha direção. Nossos lábios ficaram bem perto um do outro. Eu sabia que eu não podia fazer aquilo, mas não importava. Eu precisava daquele beijo. E só importava o que eu queria.
“Você acha que eu sou bonita?” Ela perguntou. Sua voz era completamente entregue.
Eu a olhei seriamente, como eu sempre fazia quando queria que ela entendesse a importância do que eu estava dizendo.
“Eu acho que você é linda.” Meus pensamentos ainda estavam confusos, mas eu finalmente pude dizer algo que eu prendia desde que a conheci.
“Linda?”
“Você é tão linda, que às vezes chega a me doer.” Depois dessas palavras, a beijei. Comecei a sentir lentamente o toque nos seus lábios, que eram doces e macios. A cada toque, a intensidade foi aumentando, e o nosso beijo foi se tornando mais forte e faminto. Por mais que eu a beijasse, eu não conseguia me sentir saciado. Por mais que eu a puxasse para perto de mim, eu não conseguia sentir que era perto o suficiente. Em gestos quase que automáticos, passei minhas mãos para seus quadris, trazendo seu corpo para o meu. Sentindo o tecido do seu vestido, rapidamente comecei a tirá-lo, era como se nada devesse estar no nosso caminho, como se nada devesse atrapalhar a proximidade entre nós, ainda que fosse somente uma roupa. Eu não conseguia parar de beijá-la e tudo ficava melhor à medida que ela parecia se entregar cada vez mais. Finalmente, consegui tirar o seu vestido, passando pela cabeça e jogando no chão. Foi quando pude ver o corpo dela na sua totalidade. Ela era mesmo incrível. Rose tinha um corpo escultural, como eu nunca tinha visto em mulher alguma antes.
“Você se livrou rápido do vestido.” Rose falou em meio a nossas respirações. “Eu pensei que você gostasse dele.”
“Eu gosto. Eu amo.” Mas havia outra coisa que eu amava mais do que aquele vestido. Era ela. Então, eu a levei para a cama.
Aquilo era uma coisa enlouquecedora. Sentir o corpo de Rose em baixo do meu, totalmente nua, faziam os meus sentidos girarem. Eu percorria todo ele, aos beijos, conhecendo cada parte. Eu não conseguia raciocinar direito, tanto que só conseguia chamar seu nome em russo.
“Roza.. Roza...” era só o que eu conseguia repetir, como um mantra na minha cabeça. eu me sentia completamente excitado e não tinha maneira de não tê-la naquela noite. Algo me empurrava para ela, algo forte me levava a querer Rose mais do que tudo.
Ela se colocou em cima de mim e eu não podia fazer mais nada a não ser contemplar aquela garota que tinha feito meu mundo mudar por completo. Os cabelos dela caiam em mim. Eu inclinei a cabeça para poder continuar a olhando, quando ela passou os dedos pelas minhas tatuagens molnija.
“Você realmente matou seis Strigois?”
“Sim.”
Eu puxei o pescoço dela e o beijei, dando pequenas mordidas. Senti Rose amolecer com aqueles gestos.
“Não se preocupe. Você terá muito mais tatuagens que eu, algum dia.” Falei em meio aos beijos.
“Você se sente culpado?”
“Hum?”
“Por matá-los? Você disse na van que isso era a coisa certa a se fazer, mas ainda sim, isso lhe incomoda. É por isso que você vai à igreja, não é? Eu vejo você lá, mas sem estar em serviço.”
Ela tinha acertado em cheio, com sempre, e mais uma vez. Esse era um dos principais motivos que me levavam a igreja quase todos os domingos. Era como se ela pudesse me ver por um ângulo que ninguém via. Era como se ela pudesse me ver por dentro.
“Como você sabe dessas coisas? Eu não me sinto exatamente culpado... só triste, algumas vezes. Todos eram humanos ou dhampirs ou Morois. É um desperdício, só isso, mas como eu disse antes, é algo que eu tenho que fazer. Algo que nós todos temos que fazer. Algumas vezes me incomoda e a igreja é um bom lugar para se pensar neste tipo de coisa. Às vezes eu encontro paz lá, mas não sempre. Eu encontro mais paz com você.”
Senti toda paixão que eu tinha por ela arder dentro de mim. Então rolei por cima dela e a beijei de forma mais urgente que antes. Agora era a hora. Eu a queria muito e podia ver em seus olhos que ela me queria também e isso só aumentava o meu desejo. Sorri com aquilo, enquanto tirava a última coisa que ainda estava em Rose: o colar que ela havia ganho de Victor.
Eu o coloquei na mesa de cabeceira e então algo estranho aconteceu, assim que eu o soltei. Foi como se um balde de água fria tivesse sido jogado em mim. Rose também parecia ter despertado de um longo sono, sorrindo surpresa. Foi como se uma onda racional tivesse me atingido, me trazendo de volta o senso de responsabilidade. Ela me olhava diferente, toda a onda de sensualidade que ela tinha há pouco tempo, desapareceu.
“O quê aconteceu?” Perguntei, notando a mudança em seu semblante.
“Eu – eu não sei.” Ela falou, como se ainda tivesse tentando arrumar os pensamentos.
Eu também me sentia estranho. Eu ainda a desejava, eu ainda me sentia excitado e ainda a queria, mas não mais de uma forma tão louca e luxuriosa. Era como se minha razão tivesse voltado e minha mente tivesse restabelecido o controle dos meus sentidos.
Eu olhei para Rose e revivi, como um flash, tudo que tinha se passado. Rose não estava agindo normalmente, algo a estava impulsionando. Igual a mim. Algo parecia ter me possuído. Algo que parou quando o colar foi tirado. Eu me estiquei novamente para pegar o colar. No mesmo momento que toque nele, tudo voltou de forma devastadora. Novamente, eu não conseguia raciocinar e não queria mais nada a não ser possuir Rose. Comecei a beijá-la, quando ela sussurrou “Lissa... tem algo que eu preciso lhe contar sobre Lissa. Mas eu não consigo... lembrar... eu me sinto tão estranha.”
Realmente tinha algo naquele colar. Alguma espécie de feitiço. Encostei meu rosto na sua testa, convocando todo resto de controle em mim. Era difícil dizer não aquilo que estava acontecendo. Não era preciso um feitiço para eu querer Rose. Aquilo era tudo com o que sonhei por muito tempo. Mas eu nao podia me aproveitar dela daquela forma.
“Tem algo... algo aqui...” Falei, ainda tentando me afastar. “O colar. Esse é o colar que o Príncipe Victor lhe deu?”
Ela acenou e eu, juntando toda força que eu tinha, me afastei dela.
“O quê está fazendo? Volte aqui...” Ela quase choramingou. Eu fui para longe, ainda sentido aquela ânsia por ela, tomar conta de mim. Era uma vontade louca de voltar para a cama e a ter. Tentando ignorar aquilo, alcancei a janela, a abri e joguei o colar fora.
“O quê você está fazendo com –“ Rose se levantou e veio na minha direção quando viu que eu jogava o colar pela janela. “Não! Você sabe o quanto isso deve – “ ela parou sua frase na hora que a realidade a atingiu. Eu também me sentia completamente consciente agora. O feitiço tinha ido embora. Rose olhou em volta, para o quarto e para si, dando conta que estava totalmente nua, na minha frente. Eu tentava não olhar para ela, mas eu não conseguia. Era uma bela visão.
“Lissa.” Rose exclamou, enquanto ainda parecia processar tudo em sua mente. Sua expressão se tornou de uma intensa dor e desespero.
Eu queria ficar ali contemplando a beleza dela, mas diante daquela reação, o senso de dever me chamou de volta à realidade. Eu usei muito do meu esforço para a ignorar e perguntei o que estava acontecendo.
“Ela foi capturada, foi levada por alguém. Parecia guardiões, mas eles não estavam querendo protegê-la. Eles a atacaram. Foi terrível ela está presa em algum lugar e-”. Antes que ela pudesse terminar, entrei em ação. Ordenei que ela se vestisse e eu mesmo comecei a colocar rapidamente minhas roupas. Sim, eu queria ficar com Rose ali, mais do que qualquer coisa e foi difícil ignorar tudo. Eu tinha obrigação de proteger Lissa e agora ela estava em perigo.
Olhei de relance e vi que Rose já tinha colocado o vestido. De alguma maneira, mesmo sendo uma situação de perigo e extrema urgência, eu não conseguia me desconectar do que tinha acontecido entre eu e ela, há poucos minutos. Joguei para ela o primeiro abrigo que encontrei no meu armário, para ela vestir por cima do vestido. Talvez assim, esses pensamentos não ficassem voltando para mim.
Saímos no quarto e fui andando rápido, me forçando a manter meu foco em Lissa. Rose quase corria atrás de mim, tentando acompanhar meus passos. Nós não podíamos fazer muita coisa sozinhos, por isso, enquanto seguimos para o prédio dos guardiões liguei para Alberta avisando que precisava falar com ela. Eu realmente esperava que ela estivesse no dormitório descansando, mas não estava. Ela tinha voltado ao seu escritório por causa da briga que Rose teve no baile e estava reunida com Kirova. Eu não sabia que Rose tinha entrado em outra confusão, mas aquela não era a hora de me inteirar dos fatos.
Entrei rapidamente para o escritório de Alberta, Rose sempre me seguindo. Lá estavam alguns guardiões reunidos com elas, e antes que qualquer um dos que ali estavam pudesse falar algo, praticamente ordenei para eles.
“A Princesa Vasilisa foi seqüestrada. Temos que resgatá-la.” Exclamei.
“Vamos! Precisamos ir logo!” Rose falou logo após, mas ninguém parecia ouvi-la, já que todos começaram a falar ao mesmo tempo.
“Senhoras e senhores, vamos manter a calma!” A voz de Alberta ecoou sobre as demais. Todos voltaram para ela, em silêncio. “Precisamos ouvir o quê o Guardião Belikovtem a dizer.” Ela falou olhando diretamente para Rose, enfatizando as palavras ‘Guardião Belikov’, deixando claro que era para ela ficar calada. Rose respirou fundo, como se não estivesse conseguindo se conter dentro de si.
“A Princesa e Christian Ozera foram atacados no sótão da igreja. Eles a levaram cativa. Rose sentiu tudo por meio do laço e pode nos levar até ela.” Falei sem perder tempo.
“Sempre você, Srta. Hathaway.” Kirova falou, se voltando para Rose. “Depois do que você fez no baile, não acho que devemos dar ouvidos ao que vem de você. Temos uma aluna Moroi hospitalizada por sua causa. Você atacou uma Moroi e-“ sentindo que ela estava começando mais um dos seus sermões intermináveis, a cortei.
“Não estamos questionando a gravidade do quê quer que ela tenha feito. Estamos com uma situação urgente aqui. Quantas vezes temos que repetir isso? Alguém vá até o sótão prestar socorro ao Sr. Ozera e verificar que o que dizemos é verdade.”
Com um aceno de Alberta, dois dos guardiões que estavam na sala saíram. Um foi até a igreja e o outro, verificar se Lissa estava na escola. Os minutos se arrastaram até que eles voltaram com Christian muito machucado e confirmando a nossa história. Lissa não estava em parte alguma do campus. Um dos guardiões da sala virou para Rose e eu pude ver que ele tinha credibilidade em seu olhar.
“Quantos Strigois eram?” Ele perguntou.
“Como diabos eles entraram?” Outra voz falou mais atrás.
“O quê?”Rose perguntou confusa “Não eram Strigois.” Imediatamente todos pararam e olharam para ela.
“Quem mais a teria levado?” Kirova perguntou, sem perder tempo “Você deve ter visto errado pela... visão.”
“Não. Eu tenho certeza. Eles... eram... guardiões...”
“Ela está certa. Guardiões.” Christian falou, enquanto a Dra. Olendizki limpava um de seus cortes.
“Isso é impossível!” Alguém soltou com voz indignada.
“Não eram guardiões da escola!” Rose falou impaciente, com os dedos apertando a testa. “Dá para vocês se mexerem?”
“Você esta dizendo que um grupo de guardiões particulares veio até aqui para seqüestrá-la?” O tom de Kirova era como se insinuasse que Rose estava brincando.
“Sim.” Rose se desconectou um pouco e, após alguns segundos acrescentou “Eles trabalham para Victor Dashkov. São guardiões dele.”
“O Príncipe Victor Dashkov?” outro guardião perguntou incrédulo.
“Por favor, façam algo. Eles estão se afastando. Eles estão...” Ela segurou sua cabeça, como se lutasse contra algo forte. Eu estava ao seu lado, tentando controlar minha ansiedade. Rose continuou estreitando os olhos. “Oitenta e três, indo para o sul.” Ela falou precisamente a localização deles.
“Oitenta e três? Já?” Alberta exclamou “Há quanto tempo eles partiram? Porque vocês não nos avisaram antes?”
Rose me olhou, com os olhos chocados, esperando que eu desse a resposta. Eu mantive meu rosto neutro e falei devagar e calmamente.
“Um feitiço compulsório,” fiz uma breve pausa, buscando as palavras certas. “Um feitiço compulsório foi colocado no colar que Victor Dashkov deu a Rose e fez com que ela me atacasse.” Falei torcendo para que ninguém perguntasse que tipo de ataque foi esse.
“Ninguém pode usar este tipo de compulsão!” Kirova exclamou “ninguém faz isso há séculos!”
“Bom, alguém fez. Até a hora que eu a contive e peguei o colar, já tinha passado muito tempo.” Continuei falando imparcialmente, embora estivesse com o coração disparado ao lembrar do ‘ataque’ de Rose. Ninguém mais questionou a história e finalmente, vi os guardiões entrarem em ação. De forma extremamente organizada, começaram a se mexer, montando os comboios para o resgate.
Rose começou a nos seguir, quando Kirova a impediu.
“Acho que você já deu sua contribuição, Sra. Hathaway. Pode voltar para o seu dormitório agora. Deixe o restante com os guardiões experientes.”
“Eu concordo plenamente.” Um dos guardiões acenou, quando abria a porta de uma das SUV. “Já temos problemas o suficiente.”
“Ela virá conosco.” Falei autoritariamente. “Rose irá nos dar a indicação exata da localização da Princesa. Já perdemos tempo demais, não podemos desperdiçar sua ajuda agora.”
Todos me olharam, sem ter argumentos para me contradizer. Fomos para o carro que nos levaria e estava estacionado mais à frente. Rose me olhava ansiosamente e, pela primeira vez, eu não sabia como agir com ela.
“Err... Você acha mesmo que tinha um feitiço naquele colar?” Ela perguntou levemente constrangida.
“Eu tenho certeza. O que mais causaria aquilo tudo?” Tentei manter a naturalidade, mas por dentro eu sentia meu coração arder. “O colar tinha um feitiço de luxúria. Mas obviamente eu não podia dizer isso aos outros.”
“Eu não sabia que isso era possível, como você descobriu?”
“Eu conheço muitas histórias, Rose. Usuários da terra encantavam objetos feitos de metais preciosos, em tempos antigos. Eu deduzi isso ao lembrar que o Príncipe Victor é usuário da terra e foi ele que lhe deu o colar.”
Eu sentei no banco do motorista e Rose no banco do passageiro. Tinha sido uma noite cheia de surpresas. E agora eu não tinha a menor idéia do que esperar. Eu me perguntava o que aqueles guardiões queriam com Lissa. Era surpreendente que guardiões tenham feito isso.
“Eles ainda estão na Oitenta e Três... mas estão se aproximando de uma entrada. Eles não estão correndo. Não querem ser parados.”
Eu acenei e pisei no acelerador, andando no limite da velocidade permitida. Eu mantive minha atenção na estrada e nós não conversamos outro assunto a não ser as coordenadas do caminho. Honestamente, eu não sei dizer se queria ou não conversar com ela sobre qualquer coisa. Tudo trazia à minha mente o que tinha acontecido. Eu não sabia como lidar com aquilo. Eu tinha assumido que eu iria trancar dentro de mim tudo que eu sentia por ela e nunca levaria isso adiante, que eu nunca iria me permitir sonhar em ter Rose retribuindo isso tudo. Mas agora, depois de ver como ela tinha ficado tão entregue... ela realmente sentia o mesmo por mim. Se eu bem lembrava como funcionava esse tipo de feitiço, ele não funcionaria se ela não sentisse nada.
“Eles estão fazendo uma curva.” Ela falou de repente, interrompendo meus pensamentos. “Eu não consigo ver o nome da rua, mas vou saber quando estivermos perto.”
Eu dei um resmungo, em entendimento, sem olhar para ela e sem querer qualquer contato com ela, mesmo que fosse só verbal. Percebi que Rose se afundou no banco, olhando pela janela. Eu mantive minha atenção na estrada, mas me perguntava até que ponto, uma garota tão jovem como ela podia chegar em matéria de sentimentos. Provavelmente, o que ela sentia por mim não passava de uma paixonite de uma aluna para um professor. Uma coisa muito comum, como tantas histórias que acontecem em tantas escolas. Não deveria ter a mesma intensidade para ela do que tinha para mim.
“Ali.” Ela falou apontando para uma pequena estrada de terra, cerca de vinte minutos depois de ter falado pela última vez. Acelerei pela estrada, sabendo que o nosso tipo de carro tiraria uma vantagem sobre o carro deles. Um redemoinho de terra subia, à medida que avançávamos.
“Eles fizeram outra curva.”
Eu me guiei pelas instruções de Rose, um pequeno comboio nos seguia. Até que ela avisou que eles tinham parado.
“Eles estão do lado de fora de uma pequena cabana. Eles estão a levando –“
Eu olhei para ela e percebi que seu semblante tinha se tornado vazio. Eu já conhecia aquilo. Eu continuei dirigindo, acelerando o máximo possível. O carro se debatia na estrada desnivelada. Eu sentia a tensão tomar conta de mim, à medida que nos aproximávamos do nosso destino. Tentei me focar ainda mais na missão mas sempre meus pensamentos voltavam para aquele quarto e o que quase aconteceu conosco.
Seguimos ainda pela estrada, quando Rose deu um enorme grito. A princípio, eu levei um susto, pois estava totalmente concentrado no caminho que seguíamos. Eu dei uma enorme freada, de forma que a SUV quase girou na pista. Olhei alarmado para ela, esperando entender o que se passava.
“Não, não! Continue! Nós temos que chegar lá!” Ela gritou pressionando as têmporas.
“Rose, o quê está acontecendo?” Alberta, que estava no banco de trás, tocou no ombro de Rose, preocupada. Eu tinha quase esquecido que ela estava lá atrás.
“Eles estão a torturando... com ar. Um cara... o Kenneth... está fazendo uma pressão com ar na cabeça dela. A pressão é insana. É como se – o crânio dela fosse explodir.” Sua voz era quase chorosa.
Eu olhei para ela pelo canto do olho e acelerei ainda mais. Olhei novamente para ela e vi que ela estava de novo com Lissa. Quando ela voltou, senti que o desespero tomava conta dela. E mais uma vez, Alberta perguntou o que tinha acontecido.
“Eles a torturaram mais e mais. Ela não suportou e cedeu, usando a sua mágica. Ela curou Victor Dashkov. Lissa usou muita magia para isso e ela está fraca, muito fraca. Não foi fácil para ela. Ele está restaurado, mas é como se sugasse boa parte da vida dela para fazer isso. Victor não está mais velho. Ele é jovem de novo. E Lissa... ela desmaiou exausta.” Rose narrou quase aos prantos. O pânico era latente em sua voz.
Senti um grande ódio por Victor tomar conta de mim. Eu tinha vontade de acabar com ele. Até que ponto uma pessoa poderia ir para atingir seus objetivos? Passar por cima de todos e de tudo dessa forma, usar o dom de uma pessoa meramente para o seu deleite era algo desprezível.
“Filho da puta.” Xingie baixo em Russo “queria poder acabar com ele.” Apertei o volante, sentindo todo o instinto de proteção tomar conta de mim.
Rose me olhava, assustada, sem entender uma palavra sequer. Eu não me dei o trabalho de traduzir.
Quando avistamos de longe a cabana, nós paramos. Alberta ligou para os demais que nos seguiam e todo comboio parou. Todos os guardiões saíram e se reuniram para montar uma estratégia de invasão. Mandamos um de nós averiguar o ambiente. Pouco tempo depois ele voltou, contando tudo que tinha visto, principalmente o número de pessoa dentro e fora da cabana. Quando todos começaram a tomar seus postos, Rose saiu do carro e começou a me seguir. Eu senti meu coração apertar. Rose não estava preparada para aquele tipo de luta que encontraríamos. Ela tinha pouco treinamento ainda, não podia lutar com guardiões experientes.
“Não, Roza, você fica aqui.” Falei gentilmente, segurando seu ombro. Eu podia sentir todo afeto que eu tinha por ela tomando conta de mim. Eu não queria colocá-la em perigo.
“Pro inferno com isso! Eu preciso ajudá-la!” Ela ignorou o meu apelo, quase explodindo.
Eu seguei seu queixo, levantando um pouco, de forma que eu pude olhar diretamente nos seus olhos. Como eu gostava dela. Eu arriscaria dizer que eu queria mais a segurança dela do que a de Lissa. E isso era errado para uma guardião.
“Você a ajudou. Seu trabalho está feito. Você o fez muito bem. Mas este não é um lugar para você. Ela e eu, ambos, precisamos que você fique segura.” Falei com toda sinceridade que eu tinha. Lissa podia ter necessidade de Rose, mas eu não conseguiria saber o que seria de mim se algo grave acontecesse com ela. Eu ainda a olhei por poucos segundos. Ela pareceu se acalmar um pouco, e eu consegui ver um fio de concordância em seus olhos. Eu acenei, soltando seu rosto. Ela retribuiu o meu aceno e eu segui para dentro da floresta, me perdendo entre as árvores.
Corremos pela floresta, sorrateiramente nos escondendo nas sombras das árvores. Era dia e o sol brilhava no céu, o que nos deixava mais vulneráveis e visíveis. Nós avistamos a cabana e fiz um sinal para que cada um tomasse sua posição. Os guardiões se espalharam em pontos estratégicos, se preparando para o ataque. Dois seguranças de Victor estavam do lado de fora e eram Morois. Muitos Morois, de classe mais baixa se dedicavam a algumas tarefas sujas em troca de dinheiro e reconhecimento. Eles estavam armados, por isso tínhamos que preservar o elemento surpresa da ação.
Nos aproximamos cada vez mais, até que os atacamos de forma silenciosa e precisa, tal como uma serpente. Em poucos segundos eles estavam mortos e nós invadindo a cabana. De forma perfeitamente sincronizada, os guardiões entraram pela porta da frente, janelas e porta dos fundos, surpreendendo a todos e não dando chances alguma de defesa. Mesmo assim, alguns dos guardiões de Victor tentaram resistir e foram mortos. Eu só não dizia que era uma pena, devido ao baixo número de guardiões, porque eu acreditava que era melhor nenhum guardião a lidar com a corrupção entre eles.
Eu entrei na cabana e meus instintos buscando somente uma pessoa: Lissa. Nada mais interessava para mim a não ser resgatá-la sã e salva. Meus olhos varreram o local à sua procura, mas não havia vestígios dela. Corri pelos ambientes em busca dela, sem sucesso. Na cozinha, guardiões seguravam Victor Dashkov. Quando olhei para ele o choque me varreu. Ele estava jovem e vigoroso novamente. Seus olhos verdes brilhavam e sua pela era viçosa. Eu senti uma onda de ódio me tomar e fui até ele, forçando para me manter em controle.
“Onde está Lissa?” perguntei entre os dentes, segurando-o pela gola do casaco. Ele apenas sorriu.
“Ela saiu pela janela.” O outro guardião, que estava imobilizado, respondeu. Todos nós nos voltamos para ele.
“Como?” Peter, um dos guardiões do nosso comboio perguntou.
“Ela se levantou do sofá e saiu pela janela. Ela pediu para fazer isso e eu deixei.” Ele falou calmamente e com olhos maravilhados. Todos trocaram olhares de entendimento e mostrando conhecer aqueles sintomas. Lissa tinha usado compulsão nele.
Soltei Victor e sai da cabana correndo, com todos os meus sentidos em alerta, escaneando cada pedaço da floresta onde eu passava. Nem sinal dela. Eu detestava admitir isso, mas eu não tinha a menor idéia por onde ir. Continuei correndo, quando escutei o som distante de tiros, vindo da direção oposta da que eu estava indo. Sentindo meu corpo todo responder aquele som, praticamente voei por entre as árvores. Eu não sabia dizer o que estava acontecendo, mas algo me dizia que não era nada bom.
Corri e me encontrei com outros guardiões que também tinham entrado em ação devido ao estopim das balas. Alguns minutos depois, encontramos uma pequena clareira. E me senti esfriar quando vi o que tinha lá. Vários psi-hounds estavam mortos, Lissa e Christian amparados um no outro. E Alberta erguendo Rose desacordada em seus braços.
Eu cruzei a clareira como um raio até elas, esquecendo tudo e todos à minha volta. Eu não podia acreditar que Rose tinha ignorado o meu pedido para ficar no carro. Eu devia ter previsto que ela não agüentaria ficar fora de ação e, agora, as conseqüências foram estas.
“Belikov,”Alberta chamou, quando me avistou. “Ajude-me aqui, temos que levá-los para ver um médico imediatamente.” Ela me falou enquanto me entregava Rose desfalecida.
“O quê aconteceu aqui? Eu mandei que Rose esperasse no carro!” Exclamei, sentindo o desespero em minha voz e em mim, enquanto constatava como Rose estava. Ela tinha um grande corte perto da linha dos cabelos, por onde o sangue jorrava. Muitos outros cortes e arranhões se espalhavam pelo resto de seu corpo. Várias partes de sua roupa estavam rasgadas. Sentir o seu corpo esmorecido em meus braços fez uma onda aflição tomar conta de mim.
“Psi-hounds os atacaram. Provavelmente enviados pelo Príncipe Victor. Não se aborreça com Rose, Belikov. Teria sido pior se ela não estivesse aqui. Ela lutou bravamente para protegê-los.” Alberta falou acenando com a cabeça em direção a Christian e Lissa que ainda se amparavam. Foi quando me dei conta que eu só estava preocupado, novamente, com o estado de Rose.
“Como eles estão? O quê Christian Ozera faz aqui?” Perguntei.
“Eu já disse, eles precisam ver um médico. Devemos ir agora e depois tentamos entender tudo.” Alberta falou autoritariamente, deixando claro que era para todos baterem em retirada. Eu andei a passos largos, ainda carregando Rose. No carro, tentei acordá-la diversas vezes, em vão. Nunca uma viagem me pareceu tão longa. Lissa sentou no banco de trás conosco.
Durante o caminho de volta, contou resumidamente o que tinha acontecido. Ela havia fugido da cabana, mas ainda estava muito fraca, sem ter idéia para onde seguir. Provavelmente, Rose sentiu isto pela ligação e foi até ela. Foi quando os psi-hounds apareceram e os atacaram. Rose partiu em sua defesa e acabou bastante machucada. Christian também foi gravemente ferido. Lissa também não sabia dizer o que Christian fazia ali, tentou curá-lo, mas toda a sua energia tinha sido sugada por Victor. Então, Rose se ofereceu como alimentadora para que ela pudesse se restabelecer e salvar Christian, que já estava à beira da morte.
Minha mente tentava processar tudo. Alberta repetia que Rose tinha tido um ato heróico e eu realmente via assim. Eu a olhava angustiado, torcendo que sua recuperação se desse sem problemas. Eu sabia que Lissa e Christian também tinham sido afetados e forcei a minha mente a tentar pensar neles em primeiro lugar. Eu repetia e repetia o mantra dos guardiões, mas não adiantava. A verdade era que eu pouco ligava para eles, com Rose naquele estado diante de mim. E isso era uma das piores coisas que podia acontecer a um guardião.
Os carros dispararam pela estrada e finalmente, avistei as torres da Academia surgirem no horizonte. Equipes médicas nos aguardavam, pois Alberta tinha passado o alerta por telefone, enquanto estávamos no caminho. Assim que paramos, Rose foi colocada em uma maca e, ainda desacordada, foi levada para a clínica médica. Eu acompanhei a equipe da Dra. Olendizki e observei, em pé, no canto da sala, as ordens gritadas enquanto vários procedimentos eram realizados. A coisa que eu mais queria era que ela dissesse que Rose ficaria bem.
Algumas horas se passaram até a Dra. Olendizki nos informar que todos já estavam fora de perigo e ficariam bem. Uma onda de alívio passou por mim, assim que eu ouvi essas palavras dela. Christian e Lissa foram liberados, mas Rose precisaria ficar internada por alguns dias, sob medicação. Eu cogitei em ficar ali, mas Lissa não abriu mão em ficar do lado de Rose, se tornando desnecessária a minha presença. Eu ainda me sentia mal por deixá-la, e fiquei por lá, na sala de espera, esperando que ela acordasse. Eu estava com a cabeça abaixada e os braços apoiados nos meus joelhos, quando alguém tocou no meu ombro. Levantei os olhos e era Alberta.
“Você precisa descansar um pouco, Belikov. Precisaremos da sua ajuda para elaborar o relatório de toda essa operação para a Corte, logo mais. Você já está acordado há mais de dois dias.”
“Eu estou bem. Não se preocupe comigo.”
Alberta acenou e me estudou por alguns momentos. Eu olhei de relance para ela e seu olhar sábio quase me chocou. Então ela se abaixou, sentando ao meu lado e dando um longo suspiro. Poucos segundos de silêncio se seguiram e eu comecei a me sentir incomodado, mas tentei não demonstrar isso.
“Estes foram acontecimentos muito reveladores.” Alberta falou pensativa. Eu assumi que ela estava se referindo a mágica de Lissa e permaneci calado, olhando para frente. “Dimitri,” ela me chamou, com um tom gentil, e eu a olhei surpreso por ela ter usado meu primeiro nome. “Vá para o seu quarto, pense um pouco e descanse. Rose ficará bem. E lembre-se: ela é apenas a sua aluna. Nada mais que isso.” Ela deu dois tapinhas na minha mão direita e vi em seu rosto a pretensão de um sorriso. Eu tentei esconder ainda mais o choque que me varria, enquanto ela se levantava e saía.
Uma onda de compreensão tomou conta de mim. Meu Deus, o quê eu estava fazendo? Como eu podia ter deixado o meu lado emocional tomar conta de mim daquele jeito? Tanto que outras pessoas já estavam notando o que estava se passando comigo, como deixei chegar a este ponto? Eu realmente não podia me render a isso.
Obedecendo a um impulso, me levantei rapidamente e caminhei a passos largos até o meu quarto. Não havia outro lugar pior para ter ido. Entrar lá foi uma das piores coisas que já experimentei. Era como se, a cada momento, eu fosse virar e ver Rose. A presença dela ali ainda era muito forte. Tomei um banho e deitei na cama fria tentando dormir um pouco, mas foi pior. Eu fechava os olhos e quase podia sentir Rose ali comigo, sua pele, seu calor. O cheio dela ainda estava nos lençóis e não tinha como me libertar daquilo tão fácil. Eu ia acabar enlouquecendo.
Assumindo que deveria fazer de tudo para retomar o meu antigo controle, decidi que me manteria longe de Rose por um período. Por isso, não a visitei mais na clínica médica e suspendi as aulas dela por tempo indefinido. Vez por outra eu tinha notícias sobre seu estado de saúde, que eram cada vez melhores. Mesmo assim, ignorar Rose não era nada fácil. Às vezes eu pensava que era impossível.
Mergulhei de cabeça no muito trabalho que me esperava. Os acontecimentos do seqüestro de Lissa nos forçaram a preparar, para a Corte, longos e detalhados relatórios sobre cada fato ocorrido. Desde os animais mortos, usados para assustar Lissa, até todo desenrolar do resgate. Encontrei Alberta no dia seguinte, após a nossa breve conversa na clínica médica, mas foi como se ela nunca tivesse falado nada para mim. Ela agiu da mesma forma imparcial e profissional de sempre e eu não ousei mencionar nada.
Victor Dashkov ficou preso em uma das celas da Academia, aguardando uma definição vinda do Conselho Moroi. Ele certamente passaria por um julgamento e seria condenado, considerando as provas incontestáveis, que levantamos contra ele. Nós vivíamos dentro de países com suas próprias leis, mas os Morois se regiam por códigos que eram aplicados de forma rígida, porém discreta. Natalie também ficou sob observação dos tutores da Academia, ela tinha sido usada pelo pai como parte do seu plano, mas não foi considerada de todo inocente.
Recolhemos depoimentos de todos que participaram da operação e Lissa teve que dar longas explicações sobre o seu dom. O interrogatório de Rose ficou por conta de Kirova, eu nem se quer o peguei para ler. Poucas pessoas tiveram acesso a todo esse processo, já que usuários do espírito eram raros e sempre despertavam o interesse, geralmente de forma negativa, nas pessoas. Como foi com Victor.
E por falar nele. Mesmo passado alguns dias, a Corte ainda não sabia ao certo como agir. Ele era um príncipe Moroi, ou seja, membro da alta realeza. Realmente, não seria fácil para seus pares lhe aplicarem qualquer tipo de punição, ainda que seus atos tenham sido desprezíveis. Ele foi mantido na Academia, sob forte vigilância, até que seu destino fosse decidido. Eu fui escalado para um turno de guarda, em frente a sua cela, no terceiro dia depois da sua prisão.
Ele sorriu quando me viu puxando uma cadeira e sentando. “Ora, ora, ora. Vejam quem veio me fazer companhia.” Ele falou de forma divertida.
Eu o ignorei e peguei meu livro, abrindo na página marcada. O sorriso dele se tornou uma gargalhada. Eu permaneci estático.
“Guardião Belikov, eu esperava mais gratidão vinda de você.” Sua voz foi afiada como uma espada, porém baixa, ensaiava uma ofensa. Eu não respondi e ele pareceu não se importar com a minha indiferença. “Suponho que você tenha gostado bastante dos momentos que lhe proporcionei.” Ele falou alto, chamando a atenção dos outros guardiões que também estavam de plantão. Eu olhei mortalmente para ele por cima do livro.
“Sr. Dashkov, não estou interessado em conversar com o senhor.”
“Pois deveria. Eu tenho trunfos que podem destruir a sua carreira, você sabe.” Ele falou, estudando casualmente suas unhas e depois se aproximou da grade da cela, apertando o rosto entre elas. “Basta uma palavra minha e você ocupará a cela ao lado.”
“A sua palavra não é algo que as pessoas confiem muito, ultimamente.” Blefei. Mas ele estava certo. As lei Morois eram severas, principalmente quando se tratava de abuso de menores.
“Certamente. Mas contra fatos, não há argumentos. Qualquer um que observar mais atentamente chegará a mesma conclusão que cheguei.”
Eu me mantive neutro, sem demonstrar qualquer reação. Mesmo assim, eu lembrei do olhar e das palavras de Alberta na clínica médica. Mais uma vez, me senti vulnerável, mas tranquei isso dentro de mim. Cruzei os braços e lhe lancei um olhar desafiador, eu não podia deixar que ele me intimidasse.
“Você me decepcionou muito, Belikov.” Ele prosseguiu. “Antes, você sempre foi conhecido pela sensatez e seriedade. Como pôde se entregar a algo tão insano e infantil?” Ele fez um som de estalo com a boca ‘tsc tsc tsc’. “Que a jovem Rosemarie tenha desenvolvido uma paixão adolescente por você, é esperado - e até aceitável. Adolescentes se apaixonam a todo o momento. Mas você? Um homem adulto e experiente se aproveitando de uma criança? Não, isso não! Isso é repugnante...” Seu tom sugeria uma falsa indignação.
Eu me levantei, rápido como um flash e, com um único passo, me coloquei em frente às grades, encostei minha testa na dele, olhando para ele diretamente nos olhos. Senti uma grande ira se apoderar de mim. Mais uma vez, as emoções estavam falando mais alto.
“Você não vai falar nada. Você só faz o que lhe traz algum proveito. Revelar isso não lhe serviria para nada. Não agora e nem depois e, além do mais, você não sabe do que eu sou capaz. Então porque você não fica quieto e cala essa sua maldita boca?”
No fundo de seus olhos verde-jade, eu pude ver um fio de medo passando por eles. Apenas um fio, mas foi suficiente para mim. Ele deu um pequeno e irônico sorriso.
“Ah, é sempre um prazer conversar com você, Guardião Belikov.” Ele se afastou das grades, me dando as costas, e se dirigiu a uma pequena cadeira, que estava próxima a uma mesa. Antes de sentar ele acrescentou, sem me olhar “claro que eu sei do quê você é capaz. Você tem uma bela fama. É você que não sabe do que eu sou capaz.”
Ele se sentou e ficou olhando para a parede, em silêncio. Momentos depois, eu voltei para o meu posto, peguei o meu livro, mas não consegui ler mais nenhuma linha. Filho da mãe ou não, ele tinha toda razão. Eu tinha perdido todo o controle da minha vida.
No dia seguinte, levantei cedo e fui ao ginásio treinar um pouco. Quando estava saindo, escutei a porta de um dos escaninhos fechando. Curioso para saber quem estaria ali tão cedo, diminui meus passos, para dar tempo da pessoa se revelar. Senti meu corpo esfriar quando vi quem era. Rose. Ela vinha com uma mochila na mão e parou quando me viu. Mantendo a minha decisão de ignorá-la, comecei a passar por ela, mas meu coração apertou dentro de mim. Não tinha porque traté-la mal. Então, parei. Busquei mentalmente palavras e palavras para falar com ela, mas nada parecia apropriado. Um desconforto cresceu ainda mais, à medida que ela também permaneceu em silêncio.
“Rose... Você precisa reportar o que aconteceu conosco.” Foram as coisas mais sensatas que me ocorreram. Aquilo parecia o certo a ser feito, embora isso fosse me prejudicar por completo. Mesmo assim, eu tinha obrigação de orientá-la. Eu já tinha me aproveitado demais da situação, talvez as conseqüências de tudo me servissem como uma espécie de remissão.
“Eu não posso fazer isso. Eles vão lhe despedir. Ou pior.”
“Eles deveriam me demitir. O quê eu fiz foi errado.”
“Você não podia impedir. Foi o feitiço.”
“Não importa. Foi errado. E idiota.” Soltei e percebi que Rose mordeu os lábios, engolindo um choro. Não podia ser. Ela não podia chorar ali, diante de mim. Colocaria toda a minha determinação a perder.
“Olha, não foi grande coisa.”
“Foi sim, grande coisa! Eu me aproveitei de você!” Senti que meu autocontrole estava por um fio.
“Não. Você não se aproveitou.” Sua voz soou extremamente compreensiva.
Fiz um esforço quase que sobrenatural para manter a minha dureza. Se ela tivesse prestado mais atenção nas minhas palavras, teria visto o real sentido delas. Se eu tivesse sido somente guiado pelo feitiço não teria sido nada errado e idiota. Teria sido somente uma coisa que eu não podia controlar. Percebendo que ela tinha acreditado no que eu tinha dito, prossegui. Tentando soar forte.
“Rose, eu sou vários anos mais velho que você. Em dez anos, isso não significaria muito, mas agora, é o suficiente. Eu sou um adulto e você uma criança.” Praticamente repeti as palavras de Victor que ainda ecoavam nos meus ouvidos. Rose deu um passo atrás, seu rosto transparecendo uma grande decepção. Eu sabia que ela não gostava de ser tachada como infantil.
“Você não pareceu achar que eu era uma criança, quando estava em cima de mim.” Ela grunhiu. Aquelas eram palavras típicas dela e me deixaram, um pouco, sem ação. Só um pouco.
“Só porque o seu corpo...” Lembrar do corpo dela, quase me trouxe de volta todo aquele desejo que eu tive naquela noite. Com a diferença que não tinha feitiço algum aqui. Rapidamente afastei aqueles pensamentos. “Bom, isso não faz de você uma adulta. Nós estamos em dois lugares bem diferentes. Eu conheço a vida. Eu vivi sozinho. Eu já matei, Rose – pessoas, não animais. E você... você está apenas começando. Atualmente, sua vida se resume a dever de casa, roupas e bailes.” Eu sabia que ia soar ofensivo e dar a ela uma visão fútil da vida, mas eu só queria que ela percebesse a diferença entre nós.
“É só com isso que você acha que eu me importo?” Seu tom era totalmente indignado, como eu esperava.
“Não, é claro que não. Não totalmente. Mas tudo isso faz parte do seu mundo. Você ainda está crescendo e descobrindo quem você é e o que lhe é importante. Você precisa continuar esse caminho. Você precisa ficar com garotos da sua idade.” Senti estas últimas palavras me cortarem. Ela ficou em silêncio e eu não sabia dizer, pela sua expressão, como ela tinha processado aquilo. Eu busquei forças dentro de mim para falar o que eu estava pretendendo.
“Mesmo que você escolha não reportar nada, você precisa entender que foi um erro.” Falei firmemente. “E nunca mais vai acontecer de novo.”
“Porque você é muito velho para mim? Porque isso não é responsável?” Sua voz era dolorosa e eu travei uma verdadeira batalha interna para não esmorecer diante dela. Era tão claro para mim agora que ela realmente estava apaixonada por mim, o que tornava tudo ainda mais difícil. Eu tinha um grande senso ético e não podia deixar que uma paixão vencesse todos os valores construídos durante uma vida. Forcei para me manter neutro. Eu precisava fazer o que era certo, não importava como eu me sentia. Ou como ela se sentia. Não podíamos levar isso adiante.
“Não.” Senti minha voz sair gélida e indiferente, em nada refletindo a tempestade que estava dentro de mim. “Porque eu simplesmente não estou interessado em você desse jeito.”
Ela me encarou, tentando parecer forte, diante daquela cruel rejeição. Com a voz firme e o queixo erguido ela ainda teve força para me laçar o olhar mais doloroso que uma pessoa poderia ter. Eu senti meu estômago revirar e meus joelhos baterem. Resgatando o último vestígio de controle que eu ainda tinha, acrescentei, mais para mim do que para ela.
“Aquilo só aconteceu por causa do feitiço. Você entendeu?”
Ela simplesmente acenou em concordância, sem discutir, sem reagir. “Sim. Eu entendi.”
Rose colocou a mochila nas costas e saiu do ginásio, sem olhar para trás. Eu observei cada passo dela, até que a porta se fechou e eu fiquei sozinho. E então, desabei, de joelhos, sentindo como se o mundo inteiro se desmoronasse em cima de mim. A vontade que eu tinha era de sair correndo atrás dela e jogar tudo para o alto. A pior coisa que podemos fazer é tentar matar um amor. E era isso que eu estava tentando fazer. Mas eu não estava conseguindo. Por mais ético e sensato que eu fosse, eu a desejava mais do que qualquer coisa. Enquanto minhas palavras diziam uma coisa, todos os meus sentidos gritavam outra. Era de se admirar que ela não conseguisse ouvir meu coração, de tão forte que ele batia por ela. O pior de tudo era ver, em seus olhos que ela sentia o mesmo. O pior de tudo era machucá-la, mas era para um bem maior, eu tentava me convencer disso. Mas, mesmo sabendo disso, não conseguia me sentir menos culpado pelo que eu tinha dito, por ter machucado a Rose.
Victor tinha razão. Adolescentes se apaixonavam todos os dias e, em breve, ela se esqueceria de tudo isso. Linda do jeito que ela era, não demoraria que outra pessoa ocupasse esse lugar em seu coração. Alguém apropriado para ela. Eu é que não conseguiria a esquecer nunca.
Passei o resto do dia me sentindo péssimo. O meu habitual humor introspectivo se tornou em uma profunda irritação. Eu não conseguia ter paciência com nada e ninguém, por isso pedia a Alberta para passar o resto do dia, depois das aulas, e à noite, cobrindo turnos de guarda. Caminhar pelas fronteiras do campus, sozinho, poderia aliviar minha mente um pouco. Por mais que eu tentasse, os pensamentos em Rose não me abandonavam. Os tristes olhos dela pairavam diante de mim, a todo o momento. Eu realmente me sentia horrível. Quando amanheceu, eu entreguei meu turno para o próximo guardião de plantão e segui para o meu quarto, eu precisava tentar dormir um pouco. Quando cheguei ao hall do dormitório, lembrei que tinha deixado umas coisas minhas no escaninho do prédio dos professores. Fui até lá buscar pois, entre elas, estava o livro que eu estava lendo. Passei rapidamente pelos pátios, que ainda estavam quase silenciosos, ainda era muito cedo, tinha apenas alguns estudantes que se dirigiam à cafeteria para tomar café da manhã. Olhar para eles fez meu estômago revirar de fome e percebi que não havia comido nada.
Passei pela a área comum dos professores, uma ante sala de uma pequena cantina que tinha lá, cheia de mesas, que estava totalmente vazia, também devido ao horário. Estranhamente, uma caneca de café estava ao lado de um grande livro aberto, em uma mesa do canto esquerdo. Alguém provavelmente tinha saído às pressas e deixado aquilo ali. Fui até a mesa para pegar o livro e verificar de quem era, mas acabei tropeçando em algo. Quando olhei para baixo o espanto me varreu.
O Sr. Nagy, estava desacordado, estendido no chão. Eu me abaixei para checar seus sinais vitais e verifiquei que ele estava sem pulso. Ele estava morto. Sua pele estava totalmente pálida como se estivesse... sem uma gota de sangue. Fui rapidamente até seu pescoço e lá tinha as duas marcas das presas de um vampiro. Os olhos dele estavam abertos e vidrados. Cheguei rápido a conclusão que algum Moroi tinha bebido dele até matá-lo. Algum Moroi tinha se tornado um Strigoi, dentro da Academia. O corpo dele estava rígido e frio, indicando que já estava morto há um tempo. Entrei imediatamente em ação, segurando minha estaca firmemente. Sai correndo pelo prédio, meus olhos vasculhando cada canto, cada local. Não encontrei nada. O Strigoi não estava ali, mas certamente estava na escola. Ele não conseguiria sair, devido as wards. Parei na recepção, escondendo discretamente minha estaca, atrás das costas.
“Você viu algo diferente acontecer hoje de manhã aqui?” Perguntei casualmente à recepcionista, tentando manter minha calma.
“Algo diferente? Humm, não.”
“Alguém agindo diferente?”
Ela ficou pensativa “Hum, acho que não... Bem, hoje não. Ontem à noite, perto do toque de recolher. Aquela garota, Natalie Dashkov. Ela esteve aqui procurando o Sr. Nagy, disse que tinha um trabalho extra para lhe entregar e que estava atrasada. Eu achei estranho, pois ouvi dizer que ela estava em detenção, sem poder sair de seu quarto, mas como o assunto era escolar, achei que não tinha nada demais.”
“E você chamou o Sr. Nagy aqui?”
“Não. Ele estava na área comum, como sempre faz todas as noites. Eu mandei que ela fosse para lá, encontrar com ele.”
“E a que horas ela saiu?” Minha mente começou a girar a mil. Não era possível que Natalie tivesse se transformado em uma Strigoi. Mas tudo indicava isso.
Percebi que a recepcionista estava ficando um pouco nervosa, com meu interrogatório, mas não me importei.
“Err... eu não a vi saindo... como eu disse, foi perto do toque de recolher. Quando deu a minha hora, eu fui logo embora, nem lembrei que ela ainda estava lá.” Ela falou um pouco constrangida. Eu agradeci e sai caminhando rápido, tentando não chamar a atenção.
“Desculpe-me, Guardião Belikov!” Ainda ouvi a recepcionista falando, enquanto eu saia pela porta de vidro.
Claro Era óbvio que tinha acontecido. Noite para os Morois, significa que o sol está brilhando forte no céu. Provavelmente, Natalie, sendo um Strigoi, se escondeu em algum lugar, esperando anoitecer novamente para cumprir o seu plano, qualquer que fosse ele. E tinha acabado de anoitecer, os Morois estavam acordando, aos poucos, a escola estava ficando agitada. Enquanto me perguntava o que Natalie pretendia, corri para o prédio dos guardiões, mas Alberta ainda não estava lá. Quando eu estava saindo do seu escritório, escutei um som estranho, porém familiar, vindo do andar de cima, onde ficavam as celas da prisão. Era som de luta. E logo a resposta veio para mim de forma clara e precisa. Natalie estava tentando libertar o pai.
Sem pensar em mais nada, segurei minha estaca e, mais rápido que um raio, voei pelas escadas, até o andar de cima. Quando dobrei o corredor das celas, encontrei os dois guardiões que estavam em guarda caídos e desacordados. Foi quando eu vi Natalie segurando Rose e a arremessando contra uma parede. Tão rápido quanto a jogou, partiu para cima dela, com fome nos olhos, tanto que não viu que eu estava lá. Sem hesitar um segundo sequer, atravessei o corredor, com minha estaca em punho, pronto para o combate.
Percebendo minha aproximação, ela esqueceu Rose e se voltou para mim, em um rápido ataque. Natalie podia ser uma Strigoi e isso lhe dava força e rapidez nos seus gestos, mas ela, enquanto Moroi, não tinha tido treinamento algum, fazendo com que seus golpes seguissem apenas a sua intuição, não tendo técnica.
Forçando minha mente para não lembrar da antiga e frágil Natalie, travei com ela uma luta sincrônica. À medida que ela atacava, eu revidava, formando assim, um perfeito balé. Era quase como uma dança. Sempre que eu lutava, sentia meu corpo todo em alerta em perfeita sincronia com minha mente. Levei alguns golpes e dei outros tantos, somente esperando uma abertura. Uma chance que veio, poucos minutos depois e eu não a desprezei. Puxei minha estaca e, em um movimento quase que invisível aos olhos, a cravei em seu coração. Observei enquanto ela caia agonizante. Quando tive certeza que ela estava morta, retirei minha estaca dela e fui rapidamente até Rose, que assistia a tudo, quase que desfalecida, estendida no chão.
Eu tinha visto a força com que Natalie a tinha arremessado contra a parede e, certamente, seu estado era grave. Embora eu quisesse encher Rose de perguntas e tentar entender o que ela fazia ali, sabia que não tinha tempo para isso. Ainda sentindo a adrenalina da luta no meu corpo, corri para ela e a ergui nos meus braços.
Ergui Rose em meus braços, e sai correndo. Eu só pensava em chegar à clínica médica o quanto antes. Um golpe de um Strigoi tinha uma força sobrenatural e podia causar sérias lesões a uma pessoa. E ela não me parecia nada bem.
“Ei, Camarada” Rose chamou, com a voz sonolenta, enquanto eu corria pelas escadas. “Você estava certo sobre os Strigois.” Eu olhei para ela e percebi que ela estava desfalecendo. Se fosse uma concussão, tudo se complicaria se ela ficasse inconsciente. Por um momento eu pensei que a estava perdendo. Desta vez, definitivamente. Senti o desespero tomar conta de mim.
“Rose. Roza. Abra seus olhos. Não durma agora. Ainda não.” Minha voz saiu rápida e sem controle. Ela abriu os olhos e olhou em volta, eu sai do prédio dos guardiões, indo o mais rápido que eu podia.
“Ele estava certo?” A voz dela era quase desarticulada.
“Quem?”
“Victor... ele disse que não teria funcionado. O colar.”
“O quê você quer dizer?” Perguntei a sacudindo um pouco, tentando mantê-la acordada e consciente, pois percebi que ela tinha começado a desfalecer novamente.
“O feitiço. Victor disse que você tinha que me querer... que se importar comigo... para funcionar.”
Então foi isso. Isso que ela tinha ido fazer na ala da prisão. Ela foi saber sobre o feitiço e ele certamente tinha explicado a ela como funcionava. O sentimento de culpa se juntou ao que já estava se passando dentro de mim. Rose só estava desse jeito agora por culpa minha. Se eu não tivesse mentido para ela no ginásio, ela não teria ido procurar Victor e nada disso teria acontecido. Eu senti meu corpo esfriar e não sabia dizer se era por ter meus sentimentos revelados ou pelo medo de perdê-la. Eu simplesmente não consegui responder.
“Você queria? Você me queria?” Ela falou tentando segurar minha camisa e se erguer, mas estava fraca demais para isso.
“Sim, Roza. Eu queria você. Eu ainda quero. Eu queria... que nós pudéssemos ficar juntos.” Falei com toda sinceridade do meu coração. Tinha sido difícil demais mentir para ela, no dia anterior, agora era praticamente impossível. Todo amor que eu sentia por ela estava me invadindo de uma forma que eu não podia impedir.
“Então porque você mentiu para mim?”
Olhei para frente e vi que estávamos chegando à clínica médica. Umas enfermeiras que estavam lá se alarmaram em me ver carregando Rose daquele jeito e começaram a se mover para o socorro.
“Por que nós não podemos ficar juntos.” Falei baixo, perto do seu ouvido.
“Por causa da idade, certo? Porque você é o meu mentor?” Lágrimas brotaram dolorosamente de seus olhos. Sentindo meu coração apertar, limpei gentilmente uma que corria pela sua bochecha. Percebi que uma das enfermeiras tinha corrido para chamar a médica, e entrei correndo para uma das enfermarias.
“Isso é parte do motivo. Mas também... bem, você e eu seremos guardiões de Lissa, algum dia. Eu preciso protegê-la a todo custo. Se um grupo de Strigois vier, eu preciso jogar o meu corpo contra o dela, para protegê-la.” Eu fiz uma analogia, para explicar o que eu sentia, pois Rose estava novamente perdendo a consciência.
“Eu sei disso. É claro que é isso que você tem que fazer.” Sua voz foi fraca e distante.
“Não. Se eu me deixar amar você, eu não vou me jogar na frente dela. Eu vou me jogar na sua frente.”
Ela olhou sorrindo para mim, exatamente na hora que a Dra. Olendizki entrou na sala e assumiu o comando dos procedimentos médicos. Senti o pavor tomar conta de mim, ao observar o puro desespero da equipe médica, tentando salvar a vida de Rose. Ela tinha uma concussão e estava tendo uma hemorragia interna. Fiquei observando tudo, em pânico, até que alguém percebeu minha presença ali.
“O que ele faz aqui? Tirem ele daqui!”
Uma enfermeira veio na minha direção, me empurrando para fora da enfermaria e fechando a porta. Eu fiquei ali no corredor, em pé olhando para o chão, me sentindo derrotado. A vontade que eu tinha era de sentar ali e chorar até não poder mais. Mas eu não podia fazer isso. Eu não era mais criança e não chorava por nada, há anos. Poucos minutos depois, que mais pareceram horas, a porta do corredor abriu. Olhei e para frente e era Alberta.
“Belikov! O quê aconteceu? A recepção do prédio dos guardiões me avisou que você saiu de lá correndo com Rose desmaiada em seus braços!”
Eu lutei para manter aqueles sentimentos tempestuosos sob controle e forçar minha mente a trabalhar de forma coerente.
“Natalie Dashkov tentou libertar o pai.” Falei pausadamente, sentindo minha voz surpreendentemente calma. “Ela se transformou em uma Strigoi por vontade. Eu a matei, mas antes ela tinha atacado Rose.”
O rosto de Alberta era indecifrável. Ela avaliava a situação, enquanto eu relatava cada minuto do que tinha se passado, desde que eu encontrei o corpo do professor Nagy, até o presente momento. Ela suspirou fundo quando terminei.
“Vou averiguar os locais do incidente. Você vem comigo? Qualquer fato, a equipe médica nos avisará.”
“Não. Não vou sair daqui.”
Seu rosto continuou ilegível. Ela apenas acenou e saiu. E logo, eu estava sozinho novamente, pouco me importando com o que pensariam de mim. Mas minha solidão ali, durou pouco, novamente. Mal Alberta saiu, a porta abriu e Lissa passou por ela, em prantos.
“O quê aconteceu com Rose?”
“Um Strigoi a atacou.” Falei secamente.
“Um Strigoi? Onde foi is-“
Ela foi interrompida pela Dra . Olendizki que saiu da sala. Seu rosto era completamente desanimado e a sua voz mais ainda.
“Eu preciso de um bloco cirúrgico. Não sei se conseguiremos removê-la a tempo para um hospital.”
“Você está querendo dizer que Rose pode morrer?” Lissa perguntou incrédula.
“Não há muito que possa ser feito, não nestas condições que temos aqui.”
“Eu posso ajudar. Deixe-me tentar. Eu posso curá-la.”
“Princesa, não acho prudente. Não conhecemos seu dom por completo, temo que possa resultar somente na troca de uma vida pela outra.” O tom da voz da médica era finalístico.
“Eu posso fazer isso, eu sinto!” Lissa exclamou, entrando autoritariamente na sala. Eu a segui e lá ela se aproximou de Rose que parecia apenas dormir. Então, ela colocou as mãos em cima dela e fechou os olhos. Nada de anormal aconteceu. Aparentemente, nada estava sendo feito.
Pequenas gotas de suor brotaram da testa de Lissa e, alguns minutos depois, ela se afastou de Rose, cambaleando.
Alguns exames foram repetidos e a equipe da Dra. Olendizki chegou a conclusão que Rose estava curada, mesmo assim, ela foi mantida sob observação por alguns dias. Lissa e Christian não saiam do lado dela por nada. E por falar nestes dois, eles assumiram o namoro para todos, pouco se importando com que iriam pensar ou falar. Lissa recebeu medicações contra ansiedade e depressão, acreditava-se que isso amenizaria os efeitos colaterais da sua mágica. Funcionava com os usuários dos outros elementos e esperávamos que funcionasse com o espírito.
Victor Dashkov tentou fugir, em meio ao caos, mais foi detido pelos guardiões e voltou para mesma cela que ocupava antes. Quando foi capturado, apenas sorria. Ou ele era sínico ou era louco, assim eu pensava.
Após os dias de resguardo, Rose foi liberada para retomar a sua rotina normalmente. Ela voltou a treinar e nós nos tratávamos como professor e aluna, quase que em todo o tempo. Exceto quando eventualmente nossos olhos se encontravam e quase trazia tudo a tona novamente. Mas nós assumimos que era algo com o qual teríamos de viver e que teríamos que aprender a lidar.
Uma certa tarde de domingo, eu caminhava pelo pátio da Academia, quando avistei de longe, Rose em pé, junto a uma árvore do jardim. Ela brincava com um corvo que estava próximo a ela. Fiquei olhando aquela cena e imaginado como minha vida tinha mudado completamente por causa dela. A minha Roza.
**FIM**







Um comentário:

  1. Muito feio isso querida plagiar historia alheia viu. Vou postar sua pagina em todos as páginas que tenho e que conheço relacionado a VA e vou pedir para não acessarem. E vou divulga a verdadeira autora. Coisa feia isso dá processo tá querida.


    PS: Segue a página da verdadeira autora com todos os livos.

    https://fanfiction.com.br/u/87279/

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