segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

PARTE 04

Saí andando rápido do ginásio, meu sentimentos eram conflituosos. Apressei meus passos, me segurando para não correr. Nunca o caminho para o dormitório pareceu tão longo. Eu torcia mentalmente para não encontrar ninguém, conversar era tudo que eu não queria. Quando finalmente entrei no meu quarto, soltei um suspiro. Era como se minha respiração tivesse ficado suspensa durante todo percurso.
Cada vez, era realmente difícil me controlar perto de Rose. Eu repetia várias e várias vezes que eu não podia sentir isso, que eu não podia querer levar isso adiante. Não era certo. Eu era mais velho, tinha por obrigação me controlar e até mesmo, cortar de dentro de mim uma paixão insana dessas. Ainda que ela demonstrasse sentir algo, isso não deveria me alimentar como vinha sendo feito. Mas acontecia. Cada olhar, cada sorriso que ela me dava, era motivo para meu sono fugir à noite, para meus pensamentos se dispersarem, para eu não querer mais nada a não ser estar com ela. E isso era o oposto do que me era requerido. Eu sou um guardião, eu me preparei e me preparo todos os dias para proteger os Morois – para proteger Lissa. Eu não podia ser tão irresponsável. É uma vida que irá depender de mim e de Rose. No futuro, nós seremos guardiões de Lissa e era com ela que deveríamos nos importar. Era ela que deveria ser nosso foco, nossa prioridade. Isso dificilmente aconteceria se estivéssemos romanticamente envolvidos.
Era um sentimento antagônico. Eu sabia que não podia sentir, eu sabia porque não podia sentir, mas eu gostava de sentir, aquilo me revigorava e me dava perspectiva de vida, me levava a sonhar. Eu me sentia vivo, melhor, eu sentia que minha vida tinha sentido.
Eu fechava meus olhos e quanto mais eu tentava afastar aqueles pensamentos, mas eles me vinham. Era como se eu pudesse ainda sentir os cabelos de Rose passando pelos meus dedos, com se eu pudesse ainda me sentir segurando as suas mãos.
Foi uma longa noite.

Os dias seguintes mostraram que eu estava certo. Pouco a pouco, toda aquela fofoca levantada contra Rose foi esquecida. Outra coisa se tornou o comentário na escola. Lissa. Mas desta vez não foi algo ruim. Pelo menos, não aparentemente. Ela parecia ter retomado seu posto de realeza, cultivando amizades entre os da sua classe social, participando de eventos, liderando grupos. Quem olhava Lissa individualmente, com seu rosto de anjo e voz amável jamais imaginava que ela pudesse influenciar tanto as pessoas. Rose parecia não gostar nada da popularidade da amiga. Puro ciúme, assim eu pensava.
No domingo, fui à missa, como de costume. Sentei entre os últimos bancos, como sempre. Olhei os arredores e assumi que não era hora de manter a guarda. Não ali. Tentei reavaliar minha vida e deixar a paz que tinha dentro daquela igreja tomar conta de mim. Rose e Lissa sentavam alguns bancos à minha frente, sempre conversando uma com a outra, sempre dispersas do que o padre falava. De tempo em tempo, eu podia sentir os olhos de Rose discretamente me checando. Definitivamente, para ela, aquele era um lugar somente para encontros sociais.
Eu, ao contrário, procurei ouvir todo o sermão do padre, sempre tentando aplicar as palavras para o momento que eu estava vivendo. Podia parecer estranho, mas aquela era uma maneira de fugir um pouco de um passado e um futuro de mortes – ainda que fossem de Strigois - que rondavam a minha vida.
O resto do dia, eu estava de folga. Nenhum plantão para cobrir, nenhuma ronda para fazer. Estava seguindo para uma das áreas comuns da Academia, que possuía confortáveis poltronas e um clima aconchegante. Eu carregava um dos meus livros e tinha planos em me entreter com ele até a hora de dormir. Eu já estava alcançando a porta, quando uma voz me chamou.
“Hey, Belikov!” Virei e vi Peter Jones, um dos guardiões da Academia, que de uma certa forma, era meu amigo. Eu podia chamar assim, já que eu não cultivava amizades, mas ele insistia em se manter próximo. Eu dei um pequeno aceno e um meio sorriso. Provavelmente ele já estava acostumado com meu jeito fechado e continuou “soube que você está de folga hoje. Eu também estou, então estava pensado se poderíamos sair, dar uma volta pela cidade, ver umas garotas... você sabe...” Ele falou essa última parte, me acotovelando, em um tom mais baixo.
À principio me pareceu uma péssima idéia, mas de repente, se tornou simpática. Eu não podia viver a minha vida trancado dentro de um quarto sendo corroído por um sentimento estúpido por uma garota adolescente, que ainda por cima era minha aluna. Talvez eu precisasse disso mesmo, ver o mundo fora dos portões da Academia, ver outras garotas.
Olhei para Peter que esperava minha resposta. Dei um sorriso, que fez com que ele entendesse bem qual seria.
“É uma excelente idéia.” Falei baixo, mas ainda sorrindo e guardando meu livro em um dos bolsos do meu casaco. “Vamos.”
Passamos pelos portões, Peter guiando um Honda Civic pela pequena estrada que seguia até a rodovia principal. A Academia ficava em um local isolado, bastante remoto, entre as montanhas de Montana. Foi construída ali estrategicamente para que não chamasse muito a atenção dos humanos. Alguns minutos demoraram até que avistamos as primeiras luzes da cidade. Era o meio da tarde para os vampiros e isso significava que era o meio da noite para os humanos. Chegamos em um bar, onde tinha bastante bebida, muitas garotas e várias mesas de bilhar.
Entramos e seguimos para o balcão. Uma música alta tocava e pessoas se moviam de um lado para o outro. Eu era bem consciente da minha aparência, sempre sentia os olhares das mulheres em mim. Pedimos cervejas e fomos direto jogar bilhar. Há um bom tempo eu não praticava, mas não era algo que se esquecia. Começamos uma partida, animadamente, sempre rindo e conversando. Confesso que sair um pouco me fez muito bem. Eu me sentia bastante leve e descontraído.
Quando me abaixei para dar mais uma tacada na bola, senti uns dedos deslizando por minhas costas. Virei, imediatamente em alerta e me deparei com uma bela garota de cabelos louros e levemente ondulados, grande olhos azuis e um corpo escultural. Ela vestia um vestido curtíssimo, com alguns brilhos perto do busto.
“Acho muito sexy um homem atento.” Ela sussurrou, me encarando, obviamente tentando me deixar desconcertado, ela não sabia quem eu era. Isso seria inútil. Eu a olhei de forma imparcial, mas ela continuou “Eu estava lhe observando. Você tem uma tacada e tanto.” Sua voz ainda era baixa e envolvente. Eu entendi perfeitamente o duplo sentido e decidi que ia me deixar levar. Eu me abaixei, de forma que pude falar diretamente em seu ouvido, depois de olhá-la de cima a baixo. Senti que ela quase estremeceu com aquele olhar.
“Eu estava lhe observando. Você tem um vestido e tanto.” Respondi, em um tom provocativo, sentindo o cheiro doce do seu perfume. Ela sorriu e sem perder tempo, envolveu os braços em meu pescoço. Olhei por cima dos seus ombros e vi que Peter já falava com outra garota.
Com um rápido movimento, ela segurou a minha nuca e me beijou. Era uma ousadia que eu confesso que já esperava, considerando o local e o horário. Eu retribuí o beijo, sentindo que em alguns momentos, minha mente ia até Rose. Tentei me focar naquele momento, e afastar aqueles pensamentos. Ela se afastou por um momento.
“Como se chama?” Perguntei.
“Alexandra. E você?”
“Dimitri.”
“Hum...” Ela falou, completamente entregue “Adoro sotaques russos, Dimitri”
Nós nos beijamos por mais algum tempo e saímos dali.
Após uma noite de pura diversão sem compromissos, voltamos para a Academia já perto de amanhecer. Peter tinha bebido um pouco e não pôde voltar dirigindo. Ele vinha cantando alto e desafinado, no banco do carona, nem de longe lembrando o guardião sério e compenetrado que ele era quando estava em serviço. Eu me perguntava como ele assumiria suas atividades logo mais. Tinha sido uma noite divertida, como há muito tempo eu não tinha, na verdade, desde a época de Ivan. Eu me sentia bem, era como se eu tivesse tido a chance de comprovar para mim mesmo que ainda controlava meus sentidos. Eu estava vivendo muito preso dentro dos portões da Academia, de forma que acompanhar a vida de Rose era a única coisa que tinha me restado a fazer. Eu só podia estar confundindo os sentimentos, assim eu pensava. Quando vi novamente a vida acontecendo lá fora, cheguei a conclusão que eu estava só desenvolvendo uma fantasia estúpida, fruto das poucas opções que eu estava tendo ultimamente.
Como eu sabia que não teria muito tempo para dormir antes do meu expediente começar, então juntei minhas coisas e fui para o ginásio treinar, como sempre fazia antes de Rose chegar para a prática. Eu já estava pronto para começar a corrida, quando Rose entrou no ginásio. Ela vinha com o rosto fechado, visivelmente morrendo de sono. Quase que automaticamente, jogou sua mochila em uma das cadeiras e começou a se alongar, como se não existisse mais ninguém ali.
Ela não pôde perceber a reação que me causou.
Eu estava errado. Não era uma fantasia estúpida. Ver Rose naquela manhã trouxe de volta tudo que eu sentia por ela. Eu pude ver que não era algo que podia dizer que não sentiria, que eu teria uma opção entre viver com ou sem. Eu não poderia viver sem ela. Toda noite passada, tudo vivido morreu ali. Tudo passou a não ter sentido, diante dela. Eu era mesmo um idiota em pensar que superaria tudo tão facilmente, principalmente com uma garota qualquer, encontrada em um bar.
Seguimos com o treino e eu mantive minha serenidade durante todo ele, como sempre.

Alguns dias depois, próximo ao horário do almoço, eu seguia para o refeitório dos guardiões, quando Lissa me parou.
“Guardião Belikov!” ela chamou quando passei por uma das colunas do hall de entrada do prédio. “Eu estava lhe esperando.”
“Princesa” Falei inclinando levemente a cabeça, como forma de uma reverência “Em que posso lhe ajudar?”
“Ah, eu já disse que era para me chamar de Lissa, não foi?” Ela disse sorrindo. “Eu preciso falar com você. Tem um tempo para mim?”
“Claro. Tecnicamente, todo o meu tempo deveria ser dedicado a você, sou seu guardião.” Tentei manter um tom simpático, ensaiando um leve sorriso.
“Isso somente quando eu estiver fora desta Academia... você já deve saber que a escola está organizando um baile. Então Natalie ligou agora há pouco para tio Victor pedindo para ele nos levar para comprar vestidos para este baile. Ele aceitou e disse que irá pedir permissão à Diretora Kirova para nos levar ao shopping no próximo final de semana. Eu estava pensando se você não poderia dar um jeito de Rose vir conosco.”
Ela me olhava ansiosamente, esperando por uma concordância minha. Se Lissa ia sair da Academia, eu teria que ir junto, como seu guardião. A Diretora não negaria um pedido do Príncipe Victor Dashkov. Mas eu não podia me antecipar a ele.
“Eu não poderei falar nada antes que o Príncipe Dashkov faça o seu pedido, mas assim que ele o fizer, tentarei interceder para que Rose vá. Seria um ótimo treinamento para ela, ver como os guardiões trabalham de perto e de longe em ambiente públicos e abertos.”
“Você acha que consegue? Por favor, diga que sim.”
“Eu só prometo tentar.”
Ela agradeceu mais algumas vezes, e seguiu para o seu refeitório, quase eufórica. Eu balancei a minha cabeça. Eu confesso que não gostava muito de acompanhar compras em shoppings, principalmente quando se tratava de garotas. Mas era o meu trabalho, não tinha escolha quanto a isso. Eu iria tentar que Rose fosse, pelo menos o tempo passaria mais rápido.
No final da tarde, Kirova me chamou em seu escritório. Eu já sabia do que se tratava.
“Guardião Belikov, eu recebi uma solicitação do Príncipe Dashkov, ele gostaria de levar a filha para um passeio no shopping de Missoula, neste final de semana. Ele gostaria de levar Vasilisa com ele e alguma outra colega dela, da sua escolha.” Ela pausou e fez uma pequena careta, seguida por um suspiro impaciente “Como seu guardião, você deverá acompanhá-los.” Ela falou assim que entrei no gabinete. Eu ouvi em silêncio, sem querer revelar que Lissa já tinha me contado tudo.
“Claro. Eu os acompanharei.”
Ela limpou a garganta, torcendo os lábios. Então, eu já sabia o que viria dela.
“O Príncipe Dashkov também acha interessante que Rose Hathaway vá. Mas ele nos deixou livres para decidir sobre isso. Aparentemente, ele não gostaria de se responsabilizar por ela. Como ela tem se saído nos treinos?”
“Muito bem, ela aprende tudo com rapidez. Também tem aprendido disciplina e autocontrole. Temos que reconhecer que ela tem evoluído bastante.” Falei, mantendo meu rosto sério e o tom firme. Para minha surpresa, Kirova acenou em concordância.
“É... de fato, tenho que concordar com isso. A melhora no seu comportamento é visível...” Seu rosto era pensativo, como se ela buscasse na memória as cenas da vida de Rose.
“Acho interessante que ela nos acompanhe, porém com uma condição.” Falei, ainda em tom de negócios e ela me olhou intrigada. Eu prossegui, antes que ela pudesse argumentar qualquer coisa “não concordo que ela vá a passeio. Sua ida deverá ser como parte de um treinamento. Ela deverá se comportar como uma guardiã. Assim ela terá um bom campo prático, podendo observar como os guardiões trabalham em público e treinar isso.”
Kirova pareceu extremamente satisfeita com aquilo. Eu sabia que essa era a maneira de convencê-la a deixar Rose ir.
“É uma excelente idéia, Guardião Belikov. Desta forma, não vejo problemas em concordar que ela vá.”
Eu já me dirigia para a porta quando ela falou, no exato momento que toquei na maçaneta.
“Dependendo do comportamento de Rose nessa viagem, eu posso até considerar em permitir com que ela vá ao baile.”
Eu dei um leve aceno, disfarçando meu descontentamento e sai. Realmente eu não gostaria que Rose fosse a baile algum.
No dia seguinte, fui chamado às pressas para uma reunião com Alberta e Kirova. Novamente, alguém tinha tentado assustar Lissa. Desta vez colocaram uma pomba morta dentro de sua mochila. E mais uma vez, ninguém tinha visto nada. Nem mesmo os guardiões que estavam escalados para observarem coisas como esta. Eu tinha visto a pomba, depois que os zeladores recolheram do pátio. Com o susto, Lissa havia arremessado sua mochila para longe, derrubando a pomba morta de dentro. Ela estava dilacerada e havia muito sangue. Como das outras vezes. Era realmente uma brincadeira feita para assustar.
“Mas uma vez, ninguém viu nada.” Alberta falou em meio a um suspiro. “não deve ter sido nas salas de aula ou pelo campus. Nenhum guardião viu nada.”
“Você está sugerindo que isso foi dentro do dormitório?” Kirova falou, parecendo ofendida.
“Eu não estou sugerindo nada. Mas já que você mencionou isso, não vejo outro local. A pessoa que fez isso teve acesso ao quarto da Princesa. Isso restringe a nossa investigação.”
Kirova não teve argumentos e mas ainda parecia descontente em concordar que tudo podia estar vindo dos próprios colegas Morois de Lissa. Quando saímos do gabinete dela, Alberta me chamou, para um canto de pouco movimento.
“Parece um absurdo, Belikov, mas eu tenho uma leve suspeita de quem possa estar fazendo isso.” Ela sussurrou.
“E quem seria?”
“Tenho um pressentimento, na verdade. Devemos manter os olhos atentos em Natalie Dashkov.”
“Natalie?” Eu não sabia se achava um absurdo ou se achava coerente. Por um lado ela parecia totalmente apática e incapaz de qualquer gesto que fosse, quanto mais um cruel destes. Por outro lado, ela sempre estava por perto quando tudo acontecia, mas nunca tinha visto nada. Era, no mínimo, estranho.
“Sim. Acho que não custa nada mantermos a atenção redobrada nela. Você poderá observá-la nesta viagem. Qualquer atitude suspeita, deverá ser reportada.”
Eu concordei e segui para as minhas atividades do dia.

Rose ficou extremamente feliz quando soubre que iria com Lissa a este passeio. A Diretora Kirova a chamou em seu escritório e lhe deu a notícia de que ela poderia ir, sem entrar em detalhes. Alberta montou todo o esquema da guarda deste passeio e passou para mim e Stan, que também nos acompanharia. Guardar quatro Morois em um local público e cheio de humanos não era uma tarefa fácil. Tínhamos que fazer nosso trabalho sem chamar a atenção nem para nós e nem para eles. Nós iríamos de dia, já que o shopping funcionava em um horário humano e isso reduzia bastante as chances de termos algum ataque de Strigois, mas não era uma possibilidade nula. O local era fechado e sem incidência de luz solar. Eles podiam possuir tuneis na região e entrar com facilidade lá.
Quando finalmente chegou o dia tão esperado por Rose, nos encontramos próximo ao estacionamento dos carros da Academia. Eu tinha combinado com ela, para lhe passar suas atividades durante a viagem. Ela não pareceu nada contente em saber que a sua ida ao shopping estava atrelada a algumas pequenas condições.
“A Diretora Kirova acha que você tem se saído bem desde que voltou.” Iniciei, evitando sorrir. Rose usava seus cabelos presos em um pequeno coque, no alto de sua cabeça. Ultimamente, ela estava usando seus cabelos presos, sempre que não estava de folga. Ela estava seguindo o meu conselho, não só para isso, mas para muitas coisas.
“Fora o fato de quase ter começado uma briga durante a aula do Sr. Nagy?”
“Ela não culpa você por isso. Não inteiramente. Eu a convenci que você precisa de um tempo... e que você poderá usar isso como um exercício de treinamento.”
“Exercício de treinamento?” ela perguntou de forma excitada e eu lhe dei uma breve explicação de como funcionaria os trabalhos dos guardiões que acompanhariam a viagem, enquanto caminhávamos para o carro que nos levaria. De longe, avistei Victor Dashkov e Natalie abraçados. Imediatamente, me lembrei das suspeitas de Alberta. Natalie era uma garota Moroi totalmente sem graça. A olhando assim, era difícil de acreditar que ela seria capaz de matar uma formiga, quem diria aqueles animais. Mas eu também sabia que as aparências podiam enganar.
Por falar em aparência, a de Victor estava cada vez pior. Eu me perguntava como ele agüentaria um dia inteiro com garotas andando de um lado para o outro em um shopping. Ele parecia ter envelhecido ainda mais e tinha uma tosse intermitentemente. Os seus dois guardiões, Ben e Spiridon, também estavam com ele e nos acompanhariam. Stan iria conosco para guardar Camille Conta, que tinha sido convidada por Natalie para ir com elas. Camille não tinha guardiões, então sua proteção seria por conta da Academia.
“Camille e Natalie não têm guardiões.” Eu expliquei para Rose, enquanto todos se acomodavam na van que nos levaria. \"Ambas ainda estão sob proteção dos guardiões da sua família. Já que elas são estudantes da Academia saindo do campus, um guardião da escola tem que acompanhá-las – Stan. Eu vou porque sou o guardião responsável por Lissa. A maioria das garotas da idade dela não tem um guardião designado ainda, mas as circunstancias a fez especial.”
Eu me sentei no banco de trás, juntamente com Spiridon e Rose entre nós. Stan e Ben se sentaram nos bancos da frente. Os Morois nos do meio. Este sempre era um mapa de assentos bem estratégico. Spiridon parecia ter a mesma idade minha e era bastante simpático. Também parecia bastante solicito em passar lições para Rose. Lissa e Victor conversavam animadamente, enquanto Natalie e Camille apenas ouviam os assuntos da Corte.
“Teoricamente, ela não deveria ter dois guardiões? Príncipes e Princesas geralmente têm.” Rose perguntou para mim. Antes que eu pudesse responder, Spiridon assumiu falando.
“Não se preocupe. Ela terá vários, quando a hora chegar. Dimitri já é um deles. Há chances de que você seja a outra. É por isso que você está aqui hoje.” Ele falou casualmente. Sua postura não era tão rígida como a maioria dos guardiões e, apesar disso poder passar uma imagem descansada, eu sabia que ele era muito bom.
“Faz parte do treinamento.” Rose acrescentou.
“Sim. Você será parceira de Dimitri” Ele soltou quase mecanicamente e um silêncio constrangedor passou por mim e Rose. Ela me olhou como se soubesse o que eu queria, pior como se quisesse ser minha parceira de uma forma que não fosse a profissional.
“Parceira guardiã.” Falei inutilmente, somente para me sentir um idiota. Não havia necessidade de especificar isso e não sei porque eu fiz. Ninguém estava falando de outro tipo de parceria que não fosse profissional.
“É.” Concordou Spiridon que parecia totalmente alheio aquela tensão que irradiava entre mim e Rose. Ele continuou explicando a ela como funcionava os trabalhos de um guardião no mundo real, embora tudo parecesse decorado dos livros. Mas no fundo, eu agradecia mentalmente a ele por ter quebrado aquele silêncio. A tensão pelo comentário anterior ainda estava tomando conta de mim.
“O mais comum é que guardiões trabalhem em dupla.” Spiridon explicava, enquanto Rose ouvia a tudo atentamente “um guardião fica próximo do protegido enquanto o outro observa os arredores, de longe. É o que chamamos de guardião de perto e guardião de longe.”
“Você provavelmente sempre será a guardiã de perto.” Eu falei para Rose “você é mulher e da mesma idade da Princesa. Poderá ficar perto dela sem chamar muita atenção.”
“E eu não poderei nunca tirar meu olhos dela. Ou você.” Rose falou, como uma boa aluna. Novamente senti uma tensão tomar conta de mim, mas controlei meus pensamentos. Inconscientemente Rose tinha falado outra coisa importante em nosso trabalho: meus olhos deveriam estar em Lissa e não em outra coisa, ou outra pessoa...
Meus pensamentos foram cortados pela risada de Spiridon. “Você tem uma estudante brilhante aqui.” Ele falou erguendo as sobrancelhas “deu a ela alguma estaca?”
“Não. Ela não está pronta.”
“Eu estaria se alguém me mostrasse como usar uma.” Rose disparou, olhando para mim.
“Existe mais do que simplesmente usar uma estaca. Você ainda terá que estudá-las. E ainda deverá ser capaz de matá-los.” Falei assumindo o meu modo de mentor sábio.
“Por que eu não seria capaz?”
“A maioria dos Strigois eram Morois que se transformaram de propósito. Às vezes, eles eram Morois ou dhampirs que foram forçados a se transformarem. Não importa. Tem uma probabilidade bastante alta de que você reconheça alguns deles. Você seria capaz de matar alguém que você conhecia?”
A expressão dela se tornou séria e hesitante. “Eu acho que sim.” sua resposta foi sem firmeza “eu teria que fazer isso, certo? Se estiver entre eles ou Lissa...”
“Ainda sim você poderia hesitar. E essa hesitação poderia matar a você e a ela.”
“E como você se certifica que não vai hesitar?”
“Você tem que ficar repetindo para sim mesmo que aquelas não são mais as pessoas que você conhecia. Elas se transformaram em algo negro e distorcido. Algo que não é natural. Você tem que abandonar o que ligava você a eles e fazer o que é certo. Se eles pudessem ter algum vestígio de si mesmo, certamente ficariam agradecidos.”
“Agradecidos por eu matá-los?”
Eu a olhei firmemente. Estávamos falando de um assunto muito sério e eu queria que ela entendesse isso. “Se alguém lhe transformasse em uma Strigoi, do que você gostaria?”
Ela engoliu seco. Pelos seus olhos eu podia ver sua mente girando com essa situação hipotética. Eu mantive meus olhos fixos nos dela, ainda a pressionado.
“O quê você iria querer se soubesse que eles iriam lhe converter em uma Strigoi contra a sua vontade? Se você soubesse que iria perder todo senso de moral e entendimento do que é certo e errado? Se você soubesse que iria passar o resto de sua vida – sua vida imortal – matando pessoas inocentes? O quê você iria querer?”
Ela permaneceu me olhando profundamente. A van ficou estranhamente silenciosa. Foi como se todo mundo tivesse parado para ouvir a nossa conversa. Mas para mim era como se só existisse Rose e eu. Eu sabia que ela podia entender onde eu queria chegar. Rose tinha um profundo senso de certo e errado. Conhecia bem os deveres de um guardião. E eu podia me enxergar nela. De uma maneira diferente, ela parecia comigo. É difícil de explicar.
“Se eu me transformasse numa Strigoi... eu ia querer que alguém me matasse.” Ela falou por fim, refletindo em todas as palavras os meus pensamentos. Era o que eu iria querer também, em uma situação dessas.
“Eu também.” Falei muito baixo, só para ela ouvir.
“Isso me lembrou Mikhail caçando Sonya.” Victor murmurou pensativo.
“Quem eram Mikhail e Sonya?” Lissa perguntou.
“Bom, eu pensei que você soubesse. Sonya Karp.” Victor respondeu, parecendo surpreso.
“Sonya Kar... você quer dizer a Sra. Karp? O que tem ela?” Ela perguntou olhando entre Victor e Rose.
“Ela... ela se transformou em uma Strigoi.” Rose respondeu, olhando para baixo. “Por escolha.”
Lissa parecia estar em choque. Sonya Karp era uma professora da Academia que tinha supostamente enlouquecido e virado uma Strigoi.
“Mas eu não sei quem é esse Mikhail.” Rose acrescentou.
“Mikhail Tanner” falou Spiridon.
“Ah, o Guardião Tanner. Ele estava na escola, antes de partirmos.” Rose falou pensativa e levemente assustada, como se estivesse associando as peças “Mas porque ele estava perseguindo a Sra. Karp?”
“Para matá-la.” Eu respondi secamente “Eles eram amantes.”
Um ar pesado tomou conta de toda a van. Eu sabia por quê. Uma coisa é você matar um Strigoi que lhe ataque. Outra coisa é você caçar uma pessoa que você ama, que se transformou, para matá-la.
“Talvez esteja na hora de falarmos sobre outra coisa.” Victor quebrou o silêncio, com uma voz gentil “Hoje não é dia para arrastarmos tópicos deprimentes.”
Com isso, as conversas se voltaram aos assuntos amenos da Corte. Rose mergulhou em um profundo silêncio, se tornando muito pensativa. Eu e Spiridon ainda passamos algumas lições para ela, mas ela ouviu a tudo, sem questionamento ou dar sua opinião. Mesmo assim, todos pareciam aliviados quando chegamos ao shopping.
Spiridon e Stan andavam sempre ao lado de Victor. Eu e Ben fomos para longe, todos nós nos comunicando por meio de rádios conectados a discretos fones de ouvidos. Antes de nos afastarmos Rose veio até mim.
“Hey, Camarada, onde está o meu radio comunicador?”
Eu me mantive sério, enquanto prendia os fios do fone de ouvidos na gola do meu casaco, “Para quê você quer um rádio comunicador?”
“Ora essa! Eu estou em serviço, não estou? Eu preciso me comunicar com vocês” ela exclamou em exaspero.
“Você não precisa. Irá aprender mais se não estiver usando um. Apenas observe. Se você aprender como se faz a proteção do jeito antigo, sem o uso de tecnologias, irá poder lidar com qualquer coisa.” Falei seriamente, com ar de negócios e tom de final de assunto. Embora quisesse rir daquilo. Rose tinha mesmo assumido o papel de guardiã, de que esta saída da Academia era trabalho e não passeio.
Rose permaneceu andando ao lado de Lissa e parecia extremamente feliz. Era metade do mês de novembro e o shopping estava repleto de pessoas e completamente enfeitado para o natal, que deixava tudo mais aconchegante. Começamos uma verdadeira maratona de compras.
Eu andava distante, me esforçando para não parecer um perseguidor e chamar a atenção das pessoas para isso. No máximo, se alguém notasse, eu passaria como um segurança de alguém muito rico. Eu percebia que Rose não tirava os olhos de mim, ou bem, no trabalho que eu estava fazendo, achei melhor pensar assim.
Uma verdadeira maratona de compras começou. À princípio, Victor acompanhava tudo, mas logo depois, resolveu esperar sentado em um dos bancos do passeio do shopping. Quando elas entravam em lojas pequenas, eu e Ben nos mantínhamos do lado de fora, observando tudo de longe.
Entramos em uma loja gigantesca de departamentos. Esta tinha alas masculinas e femininas, então eu poderia ficar por lá sem levantar suspeitas. Passei pelos cabides de roupa pegando algumas peças, mas sem realmente ver nada. Minha atenção estava totalmente voltada para os arredores e para as garotas que, inacreditavelmente, ainda encontraram mais coisas para comprar. Pilhas e pilhas de roupas foram se acumulando nos ombros de Lissa, Natalie e Camille. Rose apenas andava com elas, passando a vista pelas peças. Cada roupa que ela pegava, procurava por mim, como se buscasse a minha aprovação. Era engraçado aquilo. Eu nunca tinha imposto nenhuma restrição a ela quanto as suas vestimentas, mas era como se ela quisesse que eu aprovasse o que ela escolhia.
“Isso é tão você” Lisa estendeu para Rose um cabide com uma blusa. “Eu vou comprar para você.”
Os olhos de Rose brilharam, enquanto ela contemplava a blusa. E, novamente, ela me procurou e balançou negativamente a cabeça.
“O inverno está chegando. Eu vou ficar com frio.”
“Isso nunca foi um impedimento para você” Lissa falou, enquanto pegava mais calças jeans. “Você já comprou três camisas térmicas e uma canguru. Você está agindo como uma chata comigo.” Pelo visto, Lissa não aprovava as compras de Rose.
“Hey, eu não vejo você comprando tops de vadias.” Rose replicou.
“Não sou eu que os uso.” Lissa provocou.
“Muito obrigada.”
“Você sabe o que eu quero dizer. Veja só, você até está usando o seu cabelo preso.”
Rose ficou pensativa, provavelmente ela ainda não tinha se dado conta de sua mudança de comportamento. Realmente, ela estava bem mais séria e responsável. Continuei andando por entre os cabides, e a conversa delas ficou distante, de forma que não conseguia mais ouvir. Mas eu não podia simplesmente ficar parado, em pé, no meio da loja e continuei circulando.
Casualmente, me aproximei novamente do grupo, enquanto Lissa e Camille entram nos provadores. Rose passava os olhos por uma arara de calças jeans, obviamente desejando poder ter uma delas, ou todas elas. Ela não tinha recursos para comprar tantas roupas como as outras, mas eu duvidava que Lissa negaria qualquer coisa que ela quisesse, mas mesmo assim, Rose não escolheu nada. Natalie estava mais distante, olhando algumas blusas, quando Lissa colocou a cabeça para fora do provador.
“Rose! O que você ainda está fazendo aí? Não escolheu nada?”
“Hum... Não...” Rose respondeu, enquanto olhava na minha direção.
“Não estou lhe reconhecendo!” Lissa falou, com voz incrédula. “Venha, venha, preciso da sua opinião”.
Rose andou calmamente, para a porta do provador, colocando a cabeça e metade do corpo para dentro. Eu observava aquela cena tão distraído que não percebi onde eu tinha parado. Por isso fui pego de surpresa, com um toque no braço. Imperdoável para um guardião.
“Posso ajudá-lo?”
Virei e vi que eu estava encostado em um grande balcão de vidro, repleto de maquiagens, perfumes e todo tipo de cosméticos. Uma garota, que não parecia ser mais velha que Rose, sorria do outro lado, usando um impecável uniforme da loja e o rosto extremamente maquiado.
“Não, obrigado.” Respondi mecanicamente, tentando esconder meu constrangimento, olhando para o que tinha ali. Foi quando lembrei de como Rose tinha reclamado porque seu gloss estava acabando. Sinceramente, eu não sabia o que era um gloss, até ver Rose passando um nos lábios. Todo final de treino, ela sempre abria sua mochila e tirava um pequeno frasco, sacudindo muito.
“Não acredito que não tem mais nada! Não sei como poderei conseguir um gloss novo.” Ela resmungou certa vez, enquanto eu arrumava uns pesos de mão no suporte. Eu fingi que não estava ouvindo, como sempre fazia quando o assunto não era da própria aula.
De volta à loja, a vendedora ainda me olhava, notando que eu tinha permanecido ali, em pé, de frente para o balcão.
“Pensando melhor, você tem algum gloss?” Perguntei.
Ela sorriu, e de uma forma extremamente solícita voltou rapidamente com uma caixa transparente contendo dezenas de pequenos vidros. Tive a leve impressão que escolher um não seria uma tarefa fácil. Olhei para as meninas e Rose ainda estava na porta do provador, falando algo com Lissa. A garota começou pegando um frasco, pronta para me dar uma aula completa sobre as cores usadas na estação, quando eu a cortei.
“Eu vou ficar com este. Você pode embrulhar para mim?” Falei pegando um frasco aleatório e entregando a ela.
“Claro. Não quer aproveitar para levar também-“
“Não. Eu quero só isso.” Eu a cortei.
“Forma de pagamento?”
Depois que paguei, dobrei a pequena sacola e coloquei em um dos bolsos do meu casaco, tentando imaginar em qual ocasião eu poderia dar aquilo a Rose. Certamente, ela ficaria muito feliz. Quando levantei meus olhos, percebi que Natalie me olhava fixamente. Encontrando os meus olhos, ela corou um pouco e acenou com um sorriso tímido. Aquilo realmente me intrigou. Eu não consegui entender porque ela estava me observando de forma tão compenetrada. Sustentei o olhar e ela olhou para baixo, completamente embaraçada.
Ainda fiquei intrigado, mas afastei aqueles pensamentos assim que Lissa saiu do provador, falando com Rose e puxando um vestido preto que estava no cabide, perto da porta. Ela estendeu o vestido, com o rosto iluminado, mostrou para Rose.
“Você nasceu para esse vestido.” Lissa exclamou “Eu estou me lixando para o quão prática você é agora.”
Rose pegou o vestido, colocando em cima do seu corpo. Eu quase perdi os meus sentidos. Definitivamente, aquele não era um vestido qualquer. Era um vestido espetacular e era quase como se eu pudesse ver ela vestida com ele. Isso poderia ser mais perigoso do que um bando de Strigois.
“Esse é o meu vestido.” Rose falou, ainda hipnotizada por ele.
“Experimente.” Lissa praticamente ordenou. Rose negou com a cabeça, colocando o vestido de volta no lugar onde estava, começou a se afastar.
“Não posso. Comprometeria você. Um vestido não vale sua morte horrenda.”
“Então, vamos simplesmente comprar, sem que você experimente.” Lissa falou juntando o vestido ao restante de suas compras e indo direto ao caixa.
Era um erro. Comprar aquele vestido para Rose era um erro quase imperdoável.
A tarde de compras continuou, e elas pareciam incansáveis. Com exceção de Rose que parecia não se divertir muito, à medida que a hora avançava. Mas mesmo assim, ela não baixava a guarda, sempre assumindo papel de guardiã dedicada. Nós estávamos no horário humano, conseqüentemente, nossa hora de dormir estava trocada e eu também me sentia um pouco cansado daquilo, embora me mantivesse concentrado para não demonstrar isso para os demais.
Depois de uma parada para lanche, fomos para última loja. Uma joalheria. Victor já parecia completamente exausto, mesmo assim, fiquei impressionado por ele ter agüentado tudo, sem reclamar, sempre parecendo paciente e solicito com as garotas.
“Aqui vamos nós!” Lissa apontou para uma jóia que estava exposta “O colar perfeito para aquele vestido.” Ela pegou uma delicada corrente, com brilhantes cor de rosa. Rose olhou para ela, ainda parecendo desanimada.
“Eu odeio coisas cor de rosa.”
Lissa puxou a etiqueta do preço e logo o seu sorriso desapareceu. Foi a vez de Rose sorrir vitoriosa.
“Oh, veja isso. Até mesmo você tem limites! Seus gastos desenfreados finalmente terminaram.”
Nós saímos da joalheria, mas Victor e Natalie ainda permaneceram lá, terminando umas compras. A quantidade de sacolas era algo impressionante e as garotas pareciam exaustas, porém satisfeitas.
Quando nos acomodamos no carro, já a caminho da Academia, todos estavam silenciosos. O sol ainda brilhava alto no céu e isso significava que era o meio da madrugada para os vampiros. Como exceção dos guardiões, todos os demais se acomodaram para dormir. Rose, que não estava acostumada a virar a noite em turnos como nós, se reclinou contra o banco, soltando um longo bocejo. Todo o seu braço direito tocava no meu, tanto que eu podia sentir um pouco do peso do seu corpo se apoiando em mim. Aquela proximidade fez algo queimar em mim. Olhei pela janela, tentando não pensar nisso.
“Algum dia eu ainda vou poder experimentar roupas de novo?” ela perguntou sonolenta, não deixando a minha atenção ir para longe.
“Não pode quando estiver em serviço. Poderá fazer quando estiver de folga.” Falei mantendo o tom profissional. Victor ainda estava acordado, mas não parecia muito atento em nós.
“Eu nunca vou querer folga. Eu quero sempre estar cuidando de Lissa.” Ela bocejou novamente. “Você viu aquele vestido?”
“Eu vi o vestido.” Respondi tentando manter a dureza na voz. Por que ela tinha que me perguntar aquilo? Parecia que ela podia sentir que imaginar ela usando aquele vestido quase me tirou de tempo.
“Você gostou?”
Eu não podia responder. O que eu ia dizer? A verdade? Que o vestido era fantástico e que seria desnorteante quando ela usasse? De jeito nenhum que eu falaria isso. Também não iria mentir, não tinha necessidade disso. Achei melhor ficar calado, eu nunca me arrependia do meu silêncio.
“Eu vou por em perigo minha reputação se eu o usar no baile?”
“Você vai por em perigo a escola.” Eu falei em um sussurro que nem eu mesmo ouvi direito. Na verdade, foi mais um pensamento que escapou, do que palavras de verdade.
Ela sorriu e adormeceu.
A viagem seguiu silenciosa. As garotas dormiam e Victor apenas cochilava de tempos em tempos. Stan dirigia o carro. Spiridon e Ben permaneciam acordados e extremamente atentos. Eu olhava pela janela, perdido nos meus pensamentos. Ao meu lado, mergulhada em um sono profundo, Rose deu um suspiro. Eu olhei para ela e percebi que ela estava um pouco trêmula. Era quase o final da tarde e a temperatura tinha caído um pouco. Com bastante cuidado para não acordá-la, a afastei um pouco. Ela ainda estava, quase que totalmente apoiada em mim. Tirei meu casaco e coloquei por cima dela, de forma que ela ficou completamente coberta. Era um casaco grande e de couro, um sobretudo. Spiridon estava ao lado de Rose, observou tudo, com rosto ilegível.
Eu sabia que, como professor, não deveria demonstrar tanto cuidado em uma aluna, mas não me senti bem vendo Rose passar frio, enquanto eu estava agasalhado. Era parte o meu instinto protetor que me fazia cuidar dela.
“Você deveria ensinar a ela que um guardião não pode dormir em serviço.” Spiridon falou baixo e de forma irônica.
“Ela não é uma guardiã ainda. É uma estudante igual as outras três garotas.” Respondi diretamente, fazendo um movimento com a cabeça na direção dos bancos da frente, onde Lissa, Natalie e Camille estavam.
“Se eu não estou enganado, ela veio a serviço, não foi?”
“Não. Você não está enganado.”
“Relaxe, Belikov. Estou apenas lhe provocando.” Ele falou sorrindo. Eu não achei graça alguma e voltei a minha atenção para janela, fixando meus olhos no horizonte. Eu tentava me distrair, mas a proximidade com Rose era muito grande, mas mesmo assim não parecia ser suficiente para mim, eu ainda tinha vontade de envolvê-la com meus braços e trazê-la para ainda mais perto de mim. Tive que convocar bastante autocontrole para não fazer isso. Senti que ela se mexia e meu corpo esfriou quando ela, dormindo, apoiou a cabeça no meu ombro. Olhei imediatamente para o lado, e vi que Spiridon também tinha se concentrado na paisagem, fora da janela. Nem ele e nem os outros guardiões, que estavam no banco da frente, pareciam prestar a atenção em nós. Victor dormia, com a cabeça praticamente pendurada e a respiração pesada.
Eu sabia que eu deveria colocar Rose na posição certa, que eu deveria afastar a cabeça dela do meu ombro, mas eu não podia. Era incrível como uma atitude inconsciente dela, uma coisa tão simples, podia trazer uma sensação tão boa para mim. Eu não conseguia me privar disso, eu não queria sair de perto dela. Se eu pudesse prolongaria aquele momento. Mas ao contrário, a partir daí o restante da viagem passou rápido, como um piscar de cílios.
Logo pudemos ver as torres imponentes da Academia, se aproximando, à medida que avançávamos pela pequena estrada. Quando o carro parou, Rose despertou, imediatamente alerta. Ela me olhou e meu deu um lindo sorriso. Ela parecia feliz. E eu senti meu peito apertar mais uma vez. Eu gostava tanto dela, que chegava a doer.
Todos saíram e seguiram rumo a cafeteria da escola. Já era quase hora do café da manhã e todos já estavam famintos. Eu andava calado, logo atrás de todos.
“De volta à prisão.” Rose suspirou, andando ao lado de Lissa. “Talvez se você fingir um ataque cardíaco, eu poderia escapar de novo.”
“Sem suas roupas?” Lissa estendeu uma sacola. “Mal posso esperar para lhe ver usando o vestido.”
“Eu também. Se eles me deixarem ir ao baile. Kirova ainda está decidindo se eu fui boa o suficiente.”
De novo, aquele bendito vestido. Eu também mal podia esperar para ver Rose usando. Certamente Kirova a deixaria ir para o baile, depois que nós relatássemos seu bom comportamento nessa viagem. E eu sabia que ela seria a atração principal daquele baie.
“Mostre a ela aquelas camisetas sem graça que você comprou. Ela vai entrar em coma. Eu estou quase entrando.” Lissa brincou. Eu estava certo. Definitivamente, ela não tinha aprovado as escolhas da amiga para roupas.
Rose sorriu e, de uma forma sapeca, saltou para cima de um dos bancos de madeira. Os pátios eram cheios deles para os alunos se socializarem. Ela andou um pouco em cima e depois pulou de volta para o chão.
“Elas não são tão sem graça.”
“Eu não sei o que pensar desta nova e responsável Rose.”
“Eu não sou tão responsável.” Ela respondeu, enquanto saltava em outro banco.
“Hey,” chamou Spiridon, “você ainda está em serviço. Diversão não é permitida aqui.” Sua voz tinha uma nota de diversão. Ele me olhou e eu sabia que aquilo era mais para me provocar do que para repreender Rose.
“Não tem diversão aqui.” Ela replicou “Eu juro – merda!”
Quando Rose se preparava para pular do terceiro banco, a madeira que aparentemente estava sólida, se partiu, praticamente se desintegrando, fazendo com que o seu pé ficasse preso. Como ela tinha feito um impulso com o corpo para frente, sua perna virou completamente para trás. Eu podia jurar ter ouvido o barulho dos ossos dela se quebrando. Ela caiu para frente, com o tornozelo preso pelo banco, soltando um imenso grito de dor. Muita dor, pelo visto. Uma dor tão forte que a fez desmaiar.
Tudo isso aconteceu em poucos segundos. Mas para mim, foi como uma câmera lenta. A imagem dela caindo bateu em mim, de forma que eu não consegui pensar em mais nada a não ser salvá-la. Não só eu, mas todos correram para ela. Eu a segurei, levantando o seu corpo do chão, enquanto Spiridon e Bem quebravam o resto do banco para soltar seu pé. Lissa balançava o rosto dela, tentando fazer com que ela acordasse, mas não adiantava. Apesar de Rose abrir os olhos algumas vezes, ela não parecia nada consciente do que se passava à sua volta. Quando finalmente soltamos o seu pé, eu a ergui em meus braços e segui imediatamente para a clínica médica. Eu tentava, mas estava bem ciente que não estava conseguindo esconder minha preocupação. Um leve desespero tomava conta de mim. Eu não conseguia imaginar nada de ruim acontecendo com ela.
“Eu não posso ficar sem treinar. Isso vai me deixar fora dos treinos.” Ela repetia em meios a lampejos de consciência, enquanto eu a carregava. Lissa corria ao meu lado, extremamente séria e compenetrada. Chegamos ao ambulatório e apenas uma enfermeira estava lá. Ainda era cedo e boa parte das pessoas ainda não tinha acordado.
“Chame a Dra. Olendizki.” Ordenei para ela, enquanto levava Rose para a enfermaria.
Os outros nos alcançaram, Victor estava entre eles. Lissa ficou em pé ao lado dela, parecendo concentrada, segurando seu tornozelo, exatamente no local da fratura. Ela suava muito e respirava rápido. Eu andava de um lado para o outro, sem dar muita atenção aquela atitude dela. Parecia que a médica não chegava nunca. Rose chorava bastante, mas não respondia ao que perguntávamos com coerência.
Quando a Dra Olendizki chegou, pediu para que todos se afastassem e examinou o local da pancada. Rose ainda resmungava com dores, mas não era nada comparado a quando ela caiu, junto ao banco. A médica a levou para a sala de raio X e todos nós esperamos. Quando elas retornaram, Rose dormia e ela segurava algumas radiografias.
“Não houve fraturas. Ao que me parece, nem se quer uma torção. Foi uma pequena pancada. Só isso.”
“Mas não é possível!” Victor exclamou surpreso. “Eu a vi cair. Praticamente ouvi o som de ossos quebrando.”
Ao que parecia não tinha sido só eu que ouvi isso. Os outros olhavam para ela assustados, também sem acreditar no que ela dizia.
“Provavelmente foi um alarme falso. Não existe nada aqui.” A Dra. Olendizki levantou uma das radiografias contra a luz e depois olhou para Rose que dormia serenamente. “Rose estava muito agitada, então dei a ela um remédio relaxante que irá fazer com que ela durma por algumas horas.”
Eu olhei para Lissa e sua aparência frágil me impedia de acreditar naquilo. Eu sabia das histórias que tinha lido sobre as curas realizadas por usuários do espírito, mas nunca imaginei que pudesse se dar de forma tão rápida e simples como, supostamente, Lissa tinha feito. Definitivamente, eu não podia acreditar naquilo.
“Eu suponho que não há nada mais para vocês fazerem aqui. Eu soube que passaram a noite toda fazendo compras, aconselho que todos vocês descansem um pouco. Ela irá apenas dormir, agora.”
“Não, eu não vou sair daqui.” Lissa disse, passando os dedos delicadamente pelos cabelos de Rose.
“Eu ficarei aqui com ela. Pode ir descansar tranquila, Princesa.” Falei seriamente. Lissa me olhou duvidosa.
“Venha comigo, minha querida.” Victor falou, indo até ela e passando o braço por seus ombros, enquanto a levava para fora da enfermaria.
Lentamente, todos também saíram e eu fiquei ali, olhando Rose dormir.
Eu estava olhando para Rose, que dormia tranquilamente, quando Victor Dashkov entrou na enfermaria. Ele se movia lentamente e cada passo seu era dado com muito custo. Eu observei seus lentos movimentos, até que ele parou do outro lado da cama, olhando para Rose.
“Ah, Rosemarie,” ele falou com voz baixa e cansada “eu não saberia dizer quem tem mais sorte. Se ela por ter Vasilisa ou se Vasilisa por tê-la.”
Eu não falei nada, fiquei apenas o observando. Ele permaneceu em silêncio por um momento, como se avaliasse uma situação.
“Você acredita em milagres, Belikov?” Ele perguntou de forma simpática e com um leve sorriso.
“De certa forma.”
“Parece que milagres insistem em acontecer seguidamente diante de nós. Eu podia jurar que Rosemarie teria sérios problemas com seu tornozelo. E mais uma vez, os médicos não conseguem explicar como tudo fica bem de repente.”
Eu sabia a que ele estava se referindo, eu lembrava perfeitamente da conversa que tínhamos tido, há algum tempo. Victor também tinha visto Lissa ao lado de Rose, agora, logo após a sua queda. Ele estava insinuando que Lissa havia curado Rose. Eu também achava isso, mas resolvi não entrar naquela conversa. Algo me dizia para não levar aquilo adiante, principalmente com Victor.
“Mas é assim que funcionam os milagres, Príncipe Dashkov. Eles simplesmente acontecem, diante de nós e sem explicação.”
“Sábias palavras para alguém tão jovem.” Ele sorriu. “Bem, não quero me demorar mais, estou exausto. Eu só vim porque queria deixar isso para Rosemarie. Eu não tinha planejado entregar a ela em uma cama de enfermaria, mas nem tudo sai como queremos.” Ele estendeu uma pequena caixa embrulhada com a etiqueta da joalheria que visitamos no shopping. “É um presente pelo seu desempenho como guardiã hoje. Ela se saiu muito bem, fiquei bastante surpreso, confesso, e orgulhoso. É um colar que ela e Vasilisa viram na joalheria. Acho que ela merece ganhar algo valioso para lembrar este dia.” Ele sorriu irradiando uma discreta afetividade.
“Eu entregarei, assim que ela acordar.” Falei, pegando a pequena caixa. Notei que tinha um papel dobrado, preso na fita que ornamentava o presente.
Ele acenou e saiu com a mesma dificuldade que tinha entrado. Eu puxei a cadeira e fiquei sentado olhando Rose dormir. Era um raro momento que eu podia observá-la, sem que eu tivesse que esconder meus sentimentos. Eu pude estudar todos os detalhes do seu rosto, vendo como ele era harmônico e perfeito. Ela era naturalmente linda e o pensamento de que eu jamais poderia tê-la era quase desesperador. Eu já tinha assumido que não conseguia deixar de sentir o que eu sentia por ela, mas tinha plena consciência de que não podia ousar sonhar em ter tudo aquilo correspondido. Eu não podia desejar isso. Era contrário a tudo que planejei para minha vida.
Eu fiquei ali, por algumas horas, que nem senti passar, até que ela abriu os olhos, encarando o teto. Senti uma ponta de felicidade em mim. Era ótimo ver Rose dormir, mas melhor ainda era ver a vida irradiando pelos seus olhos.
“Rose.” Chamei suavemente. Ela inclinou a cabeça na minha direção, me olhando.
“Hey.” Sua voz soou rouca.
“Como se sente?”
“Estranha. Meio grogue.”
“A Dra. Olendzki lhe deu algo para dor - você parecia bem mal, quando nós lhe trouxemos para cá.”
“Eu não me lembro disso... quanto tempo eu passei inconsciente?”
“Algumas horas.”
“Deve ter sido forte. Ainda deve ser.” Ela ficou um pouco pensativa e logo depois moveu o pé que deveria estar machucado. “Não dói nada.”
Eu balancei negativamente com a cabeça. “Não. Porque você não ficou muito machucada.”
“Você tem certeza? Eu lembro... de como eu caí. Não. Algo deve ter quebrado.” Ela falou, se sentando, e mexendo rapidamente seu pé, tendo a mesma atitude que nós tivemos quando a Dra. Olendzki disse que não tinha sido nada. “Ou pelo menos torcido.” Ela ainda estava incrédula.
Eu levantei rapidamente, indo até ela, para a impedir que levantasse. Ela ainda estava sob efeito da medicação. “Tome cuidado. Seu tornozelo pode estar bom, mas certamente, você ainda está um pouco fora de si.”
“Deus, eu tive sorte. Se eu tivesse me machucado, eu ficaria fora do treino por um bom tempo.”
“Eu sei. Você ficou repetindo isso o tempo todo, enquanto eu lhe carregava para cá. Você estava bem preocupada.”
“Você... me carregou até aqui?” Ela perguntou surpresa.
“Depois que nós quebramos o banco e soltamos o seu pé.”
“Eu fui derrubada por um banco.”
“O quê?”
“Eu sobrevivi o dia todo nesse negócio de ser guardiã de Lissa e vocês até disseram que eu fiz um bom trabalho. Então eu voltei para cá e conheci a minha queda em um banco. Você pode imaginar o quão embaraçoso isso é? E todos aqueles caras viram também.”
“Não foi culpa sua. Ninguém sabia que o banco estava podre. Ele parecia bem sólido.”
“Ainda sim. Eu deveria ter ficado na calçada como uma pessoa normal. Os outros novatos vão gozar da minha cara, quando eu voltar.”
Ela parecia extremamente preocupada e eu segurei a vontade de rir. Era engraçado o que preocupava ela. Coisas simples e pequenas lhe traziam mais medo do que grandes perigos. Vendo que ela precisava se descontrair um pouco, peguei o presente de Victor.
“Talvez presentes lhe animem.”
Ela se endireitou rapidamente na cama, alegre e feliz. “Presentes?” Ela exclamou. O sorriso que eu tinha acabado de prender, se soltou e eu sorri amplamente.
“Isso é do Príncipe Victor.”
Ela pegou a caixa, parecendo surpresa, e abriu o bilhete que estava preso nela, o lendo em voz alta.
Rose
Estou muito feliz em ver que você não sofreu ferimentos sérios, devido à sua queda. Na verdade, foi um milagre. Você tem uma vida encantadora, e Vasilisa tem sorte em ter você.

Ele tinha resumido ali o que tinha me falado. De alguma forma, ele tinha razão. Mesmo que tivesse sido uma cura vinda de Lissa, não deixava de ser um verdadeiro milagre.
“Isso foi gentil da parte dele.” Rose falou, enquanto abria a caixa e via o que tinha ali dentro. Seus olhos brilharam e seu queixo quase caiu “Whoa! Muito gentil!” Ela retirou o delicado colar de dentro da caixa, torcendo o cordão de ouro nos seus dedos e deixando o pequeno brilhante cor de corra balançando como um pêndulo. “Isso é bem extremo para um presente de ‘fique boa logo’”.
“Na verdade ele comprou para lhe parabenizar por ter ido tão bem em seu primeiro dia como guardiã oficial. Ele viu quando você e Lissa olharam isso.”
“Wow. Eu não acho que fiz um trabalho tão bom.”
“Eu acho.”
Ela sorriu, guardou o colar novamente na caixa e colocou na mesa ao lado da cama.
“Você disse ‘presentes’, certo? Bem, tem mais de um?”
Eu não resisti e sorri. Na verdade, foi uma pequena gargalhada. Essa espontaneidade dela sempre me divertia. Peguei a pequena sacola do gloss que eu tinha comprado e a entreguei.
“Isso é meu para você.”
Eu tive a impressão que ela tinha ficado mais deslumbrada e excitada por aquele presente do que pela jóia de Victor. Ela pegou, abriu rapidamente e sorriu quando viu o que era. Certamente, ela jamais imaginaria que eu estivesse prestando a atenção todas as vezes que ela reclamou por seu gloss estar no fim. Se ela soubesse o quanto eu presto atenção nela, não ficaria tão surpresa por eu ter comprado isso.
“Como você conseguiu comprar isso? Eu lhe vi o tempo todo no shopping.” Ela estava totalmente intrigada e eu resolvi alimentar isso.
“Segredos de guardião.” Brinquei.
“Para quê foi isso? Pelo meu primeiro dia?”
“Não. Porque eu pensei que lhe deixaria feliz.” Falei sinceramente.
Antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa, Rose se inclinou para frente, ma abraçando. Imediatamente, senti meu corpo ficar tenso. Era a primeira vez que nós nos abraçávamos e eu realmente não esperava aquilo. Logo depois eu relaxei um pouco, levando lentamente as minhas mãos para as suas costas.
“Obrigada.”
“Estou feliz que esteja bem.” Falei. Minha boca estava bem próxima ao seu ouvido e os seus cabelos passavam suavemente pelo meu rosto. Era uma sensação incrível. Tanta proximidade fez com que aquele sentimento fosse tomando conta de mim, tanto que não medi minhas palavras, quando falei. “Quando vi você cair...”
“Você pensou ‘wow, ela é uma perdedora.’” O tom dela era de brincadeira.
“Não foi isso que eu pensei.” Eu fui um pouco para trás para que pudesse olhá-la melhor, mas sem nos soltarmos do abraço e sem nos afastarmos. Eu queria dizer a ela o quanto eu gostava dela e como ela era importante para mim. Mas eu não disse nada. Não consegui. Apenas olhei dentro dos seus olhos, como se eu pudesse transmitir tudo que eu queria para ela por aquele olhar. Ela também me olhava profundamente e eu me sentia totalmente hipnotizado por Rose. Passei meus dedos pelo seu rosto, sentindo sua pele. Passei a mão para uma mecha de seus cabelos, prendendo em meus de dedos, como tinha feito no ginásio, da outra vez. Como eu adorava aqueles cabelos dela. Eu poderia passar horas e horas somente passando meus dedos por eles.
Meu coração estava disparado e sentia toda aquela paixão me tomando. Eu não conseguia pensar em mais nada a não ser na vontade imensa de beijá-la. Lentamente, foi me movendo na direção dos seus lábios, sentindo que ela inclinava a cabeça, também desejando aquilo. A distância entre nós foi diminuindo e era como se nada mais estivesse existindo no mundo. Quando nossos lábios estavam há um milímetro de se tocarem, alguém bateu na porta. Instantaneamente nos afastamos, cada um indo para trás. Como se tivéssemos levado um choque.
A Dra. Olendizki colocou a cabeça para dentro da sala “Pensei que tinha lhe ouvido falar. Como se sente?”
De vagar, eu sentei na cadeira que estava perto da cama. Eu não podia acreditar que quase beijei Rose. Eu não sabia pelo que me culpar. Se por ter tentado fazer tal sandice, ou por não ter conseguido. A médica andou até Rose, fazendo com que ela se deitasse e realizando alguns exames clínicos.
“Você tem sorte. Com todo barulho que você fez quando foi trazida para cá, eu pensei que teria que amputar seu pé. Deve ter sido efeito da pancada. Eu acho melhor que você não fizesse seu treinamento normal até amanhã, mas fora isso, você pode ir.”
Depois de mais alguns pequenos exames, ela liberou Rose e saiu do quarto. Estávamos sozinhos novamente.
Olhei para Rose e percebi que ela corou. Tentando esconder o constrangimento que insistia em tomar conta de mim, fui até uma outra cadeira, pegar seus sapatos, fingindo naturalidade. Ela começou a colocá-los, e eu buscava algo para falar, tentando deixá-la menos desconfortável.
“Você tem um anjo da guarda.”
“Eu não acredito em anjos. Eu acredito no que posso fazer por mim mesma.” Ela falou sem me olhar, ainda com as bochechas vermelhas.
“Então você tem um corpo incrível.” Eu não percebi o duplo sentido do que tinha dito, até ela me olhar de forma questionadora. 'Péssimo Dimitri, você só está piorando tudo".
“Para se curar, quero dizer. Eu ouvi sobre o acidente...” Tentei corrigir falando a primeira coisa coerente que veio à mente.
“Todos falaram que eu não deveria ter sobrevivido. Por causa do lugar onde eu estava sentada e da forma como o carro bateu na árvore. Lissa era realmente a única que estava sentada em um local seguro. Ela e eu saímos ilesas, apenas com alguns arranhões.”
“E você não acredita em anjos ou milagres.”
“Não. Eu –“ Ela se interrompeu, se tornando pensativa e intrigada.
“Qual o problema?”
Ela olhou para um ponto aleatório no quarto, ficando altamente concentrada “Onde está Lissa?”
“Eu não sei onde ela está. Ela não saia do seu lado quando lhe trouxe para cá. Ela ficou perto da cama, até a médica chegar. Você acalmou bastante quando ela sentou perto de você.”
Ela voltou a olhar para o ponto, e logo, parecia não estar mais ali. Eu a encarei, mas seus olhos pareciam vazios e sua expressão era em branco. Eu já tinha visto Rose assim, poucas vezes, é verdade, mas já sabia o que estava se passando. Ela tinha ido encontrar Lissa, por meio do laço. A Dra. Olendizki tinha retornado para saber porque ainda estávamos ali e se deparou com Rose naquele estado.
“O que está acontecendo com Rose? Será que ela piorou? Acho que não deveria ter dado alta a ela.”
“Não, não é um problema. É parte do laço que ela possui com a Princesa. Ela sempre fica assim, quando está usando a ligação.” Tentei acalmá-la.
Fiquei observando atentamente por longos minutos, até quando sua expressão se tornou dolorosa e preocupada. Olhei para a Dra. Olendizki que estava com o rosto totalmente consternado. Então segurei a mão de Rose, sacudindo devagar.
“Rose? Rose?” Ela não respondeu, por um momento.
“Rose?” Insisti. Pouco a pouco ela começou a piscar rapidamente, como se despertasse de um transe. Ela me encarou, ainda com a dor em seus olhos. Ela tinha visto algo que a preocupou e aquilo também me preocupava. Ela continuou me olhando e eu pude sentir que uma onda de cumplicidade passava por nós. Isso era o que me fazia seguir a Rose, para qualquer lugar que ela fosse.
“Eu sei onde ela está. Lissa. Nós temos que ajudá-la.”
“O que está acontecendo com ela? Você sabe que pode confiar em mim.” Falei seriamente.
Ela olhou para a Dra. Olendizki e eu entendi que Rose não queria falar na frente da médica. Com um aceno, pedi para que ela saísse. Quando estávamos sozinhos, Rose desabafou, e eu pude sentir que era algo que ela não estava mais agüentando guardar.
Rose se inclinou na minha direção e, ainda receosa, começou a contar tudo que sabia.
“Lissa. Ela pode fazer curas. Ela tem esse dom. Eu acho – eu tenho certeza que ela é como St. Vladmir. Mas isso traz conseqüências terríveis para ela. Eu posso sentir. Precisamos ajudá-la, Dimitri.” Rose me olhava com ar de desespero e era quase como se eu pudesse ver a dor em seus olhos. A dor que ela sentia por Lissa.
“Ela está passando por algum perigo imediato?”
“Sim. Quero dizer, ela sempre faz isso, mas agora parece pior. Eu sinto pelo laço que ela não está bem.”
“Ela sempre faz o quê, Rose?”
“Ela...” Era como se as palavras não quisessem sair da boca de Rose “Ela... se submete a autoflagelo. Ela se corta. É como se a dor dos ferimentos pudessem superar a dor que ela sente em sua alma. E ela fez isso agora, com uma navalha, mas foram cortes terríveis, tinha muito sangue.”
Primeiramente eu hesitei, tentando entender aquilo. Mas depois senti imediatamente meu corpo entrando em ação. Rose não estava descompensada, mas o desespero da sua voz e pânico em seus olhos me diziam que tudo era sério.
“Você disse que sabia onde ela está agora.”
“No sótão da capela.”
“Rose, ouça. Bem. Eu vou buscar ajuda e preciso que você fique aqui. Você promete que ficará aqui?”
Ela acenou. Eu não podia levar Rose comigo. Ela ainda parecia estar sob efeito de medicação, embora a Dra. Olendzki a tivesse liberado. Peguei meu telefone e disquei para a única pessoa que me veio na cabeça. Alberta. Com apenas poucas palavras ela entendeu que era para me encontrar na capela e que era uma situação urgente.
Sai quase correndo da clínica médica, tentando não chamar a atenção das pessoas que passavam por mim. Quando estava próximo a capela, encontrei Alberta que também tentava não correr.
“O quê está acontecendo, Belikov?”
“Venha comigo”. Falei, entrando na igreja. O padre não estava lá, então seguimos para o sótão. Quando entramos, o primeiro impacto foi de uma cena de terror. Lissa estava desmaiada no chão, completamente ensangüentada, com uma poça de sangue em volta dela. Quem não soubesse que o sangue vinha de cortes feitos por navalha podia imaginar facilmente algo mais sério.
Alberta era uma guardiã experiente, que já tinha visto cenas piores, certamente. Ela não demonstrou reação alguma. Eu me abaixei, peguei Lissa no colo e fomos para a clínica. Lá, ela recebeu os primeiros socorros e um alimentador. A médica chegou a conclusão que ela tinha desmaiado por tinha ficado fraca devido a perda de sangue. Mas eu sabia que era bem mais que isso. Era o uso da magia. Enquanto os procedimentos eram feitos, Rose foi impedida de entrar e esperava impaciente na sala ao lado.
Algum tempo depois, a Dra. Olendzki me chamou, dizendo que Lissa queria falar comigo. Eu entrei na enfermaria, a mesma que Rose estava, mais cedo. Parecia que o dia inteiro ia ser gasto naquele lugar. Lissa estava deitada, olhando o teto. Seus braços estavam cheios de curativos.
“Princesa?” Falei, depois de passar alguns minutos ali em pé e percebendo que ela não tinha se mexido.
“Lissa. Eu já disse para você me chamar de Lissa, Dimitri.” Sua voz era mais triste do que impaciente. Percebi que ela também não estava usando meu título de guardião.
“Desculpe. É difícil abandonar as formalidades. Como se sente?” Falei gentilmente, ensaiando um sorriso. Ela finalmente virou para mim.
“Como você soube que eu estava naquele sótão?”
Eu a encarei por alguns momentos. Apesar de ter certeza que ela já sabia a resposta, busquei a melhor maneira de falar.
“Você perdeu muito sangue e ficou bem debilitada. Não podíamos deixá-la naquele sótão.”
“Não foi isso que lhe perguntei.” Ela falou autoritariamente, se levantando um pouco da cama. “Foi Rose, não foi? Foi ela que contou a vocês sobre isso.” Ela estendeu os braços, mostrando os cortes enfaixados. Eu entendi que era um segredo delas e que Lissa não queria que fosse revelado.
“Sim foi Rose. Ela não fez por mal. Entenda. Foi preciso para que pudéssemos socorrê-la. A própria Rose ainda não estava recuperada o suficiente para ir ao seu socorro-“
“Não importa! Ela não podia ter feito isso! Ela não tinha o direito de contar a você!” As lágrimas saíram quase que involuntariamente dos olhos dela. Eu assumi que nada do que eu falasse adiantaria. Permaneci em silêncio a olhando chorar. Quando ela se acalmou um pouco, dei uns passos à frente e fiquei muito próximo a cama.
“Lissa, todos nós só queremos o seu bem. Não importa o que lhe levou a isso. Aqui tem pessoas que irão cuidar de você. Rose fez o que era certo, diante de todo o contexto. Ela está lá fora, ansiosa para lhe ver.”
“Eu não posso acreditar que ela me traiu dessa forma.”
“Não foi uma traição. Ao contrário. Foi uma boa prova da amizade que ela tem e do quanto ela se importa com você. Tudo se resolverá com uma boa conversa. Eu pedirei autorização para que ela possa entrar.”
Sai da sala e falei com a Dra. Olendizki que, depois de alguns outros exames, deixou que Rose entrasse para ver Lissa. Mas ela passou menos tempo do que eu imaginava lá dentro. Logo depois, Rose saiu da enfermaria, parecendo muito triste.
“Está tudo bem?” Perguntei me aproximando.
“Com a Lissa? Ela ficará bem. Mas ela me culpa por ter contado a vocês. Ela não quer que eu fique aqui.”
“Ela ainda está um pouco confusa com tudo isso” Tentei amenizar “Tudo ficará bem com o passar do tempo. Eles vão lhe dar algumas medicações para depressão que poderão melhorar o humor dela.”
Rose permaneceu olhando para o chão, ainda muito abatida.
“Você precisa descansar agora. Por que você não vai para o seu dormitório. Não há mais nada para ser feito aqui.” Eu falei baixo e ela concordou.

Os dias se passaram e, como era de se esperar a notícia da internação de Lissa correu pela escola, sendo aumentada e carregada de mentiras. Sempre era assunto para todos os grupos. Era impressionante a capacidade de imaginação deles quando se tratava de criar fofocas.
Lissa e Rose permaneceram sem se falar no decorrer dos dias e isso refletia em todas as ações de Rose. Ela se tornou bastante introspectiva. Mas pouco a pouco, os estudantes foram esquecendo de tudo pois um assunto novo começou a tomar conta da cabeça de todos: o baile que aconteceria em poucos dias.
Rose se inclinou na minha direção e, ainda receosa, começou a contar tudo que sabia.
“Lissa. Ela pode fazer curas. Ela tem esse dom. Eu acho – eu tenho certeza que ela é como St. Vladmir. Mas isso traz conseqüências terríveis para ela. Eu posso sentir. Precisamos ajudá-la, Dimitri.” Rose me olhava com ar de desespero e era quase como se eu pudesse ver a dor em seus olhos. A dor que ela sentia por Lissa.
“Ela está passando por algum perigo imediato?”
“Sim. Quero dizer, ela sempre faz isso, mas agora parece pior. Eu sinto pelo laço que ela não está bem.”
“Ela sempre faz o quê, Rose?”
“Ela...” Era como se as palavras não quisessem sair da boca de Rose “Ela... se submete a autoflagelo. Ela se corta. É como se a dor dos ferimentos pudessem superar a dor que ela sente em sua alma. E ela fez isso agora, com uma navalha, mas foram cortes terríveis, tinha muito sangue.”
Primeiramente eu hesitei, tentando entender aquilo. Mas depois senti imediatamente meu corpo entrando em ação. Rose não estava descompensada, mas o desespero da sua voz e pânico em seus olhos me diziam que tudo era sério.
“Você disse que sabia onde ela está agora.”
“No sótão da capela.”
“Rose, ouça. Bem. Eu vou buscar ajuda e preciso que você fique aqui. Você promete que ficará aqui?”
Ela acenou. Eu não podia levar Rose comigo. Ela ainda parecia estar sob efeito de medicação, embora a Dra. Olendzki a tivesse liberado. Peguei meu telefone e disquei para a única pessoa que me veio na cabeça. Alberta. Com apenas poucas palavras ela entendeu que era para me encontrar na capela e que era uma situação urgente.
Sai quase correndo da clínica médica, tentando não chamar a atenção das pessoas que passavam por mim. Quando estava próximo a capela, encontrei Alberta que também tentava não correr.
“O quê está acontecendo, Belikov?”
“Venha comigo”. Falei, entrando na igreja. O padre não estava lá, então seguimos para o sótão. Quando entramos, o primeiro impacto foi de uma cena de terror. Lissa estava desmaiada no chão, completamente ensangüentada, com uma poça de sangue em volta dela. Quem não soubesse que o sangue vinha de cortes feitos por navalha podia imaginar facilmente algo mais sério.
Alberta era uma guardiã experiente, que já tinha visto cenas piores, certamente. Ela não demonstrou reação alguma. Eu me abaixei, peguei Lissa no colo e fomos para a clínica. Lá, ela recebeu os primeiros socorros e um alimentador. A médica chegou a conclusão que ela tinha desmaiado por tinha ficado fraca devido a perda de sangue. Mas eu sabia que era bem mais que isso. Era o uso da magia. Enquanto os procedimentos eram feitos, Rose foi impedida de entrar e esperava impaciente na sala ao lado.
Algum tempo depois, a Dra. Olendzki me chamou, dizendo que Lissa queria falar comigo. Eu entrei na enfermaria, a mesma que Rose estava, mais cedo. Parecia que o dia inteiro ia ser gasto naquele lugar. Lissa estava deitada, olhando o teto. Seus braços estavam cheios de curativos.
“Princesa?” Falei, depois de passar alguns minutos ali em pé e percebendo que ela não tinha se mexido.
“Lissa. Eu já disse para você me chamar de Lissa, Dimitri.” Sua voz era mais triste do que impaciente. Percebi que ela também não estava usando meu título de guardião.
“Desculpe. É difícil abandonar as formalidades. Como se sente?” Falei gentilmente, ensaiando um sorriso. Ela finalmente virou para mim.
“Como você soube que eu estava naquele sótão?”
Eu a encarei por alguns momentos. Apesar de ter certeza que ela já sabia a resposta, busquei a melhor maneira de falar.
“Você perdeu muito sangue e ficou bem debilitada. Não podíamos deixá-la naquele sótão.”
“Não foi isso que lhe perguntei.” Ela falou autoritariamente, se levantando um pouco da cama. “Foi Rose, não foi? Foi ela que contou a vocês sobre isso.” Ela estendeu os braços, mostrando os cortes enfaixados. Eu entendi que era um segredo delas e que Lissa não queria que fosse revelado.
“Sim foi Rose. Ela não fez por mal. Entenda. Foi preciso para que pudéssemos socorrê-la. A própria Rose ainda não estava recuperada o suficiente para ir ao seu socorro-“
“Não importa! Ela não podia ter feito isso! Ela não tinha o direito de contar a você!” As lágrimas saíram quase que involuntariamente dos olhos dela. Eu assumi que nada do que eu falasse adiantaria. Permaneci em silêncio a olhando chorar. Quando ela se acalmou um pouco, dei uns passos à frente e fiquei muito próximo a cama.
“Lissa, todos nós só queremos o seu bem. Não importa o que lhe levou a isso. Aqui tem pessoas que irão cuidar de você. Rose fez o que era certo, diante de todo o contexto. Ela está lá fora, ansiosa para lhe ver.”
“Eu não posso acreditar que ela me traiu dessa forma.”
“Não foi uma traição. Ao contrário. Foi uma boa prova da amizade que ela tem e do quanto ela se importa com você. Tudo se resolverá com uma boa conversa. Eu pedirei autorização para que ela possa entrar.”
Sai da sala e falei com a Dra. Olendizki que, depois de alguns outros exames, deixou que Rose entrasse para ver Lissa. Mas ela passou menos tempo do que eu imaginava lá dentro. Logo depois, Rose saiu da enfermaria, parecendo muito triste.
“Está tudo bem?” Perguntei me aproximando.
“Com a Lissa? Ela ficará bem. Mas ela me culpa por ter contado a vocês. Ela não quer que eu fique aqui.”
“Ela ainda está um pouco confusa com tudo isso” Tentei amenizar “Tudo ficará bem com o passar do tempo. Eles vão lhe dar algumas medicações para depressão que poderão melhorar o humor dela.”
Rose permaneceu olhando para o chão, ainda muito abatida.
“Você precisa descansar agora. Por que você não vai para o seu dormitório. Não há mais nada para ser feito aqui.” Eu falei baixo e ela concordou.
Os dias se passaram e, como era de se esperar a notícia da internação de Lissa correu pela escola, sendo aumentada e carregada de mentiras. Sempre era assunto para todos os grupos. Era impressionante a capacidade de imaginação deles quando se tratava de criar fofocas.
Lissa e Rose permaneceram sem se falar no decorrer dos dias e isso refletia em todas as ações de Rose. Ela se tornou bastante introspectiva. Mas pouco a pouco, os estudantes foram esquecendo de tudo pois um assunto novo começou a tomar conta da cabeça de todos: o baile que aconteceria em poucos dias.

Um comentário:

  1. Muito feio isso querida plagiar historia alheia viu. Vou postar sua pagina em todos as páginas que tenho e que conheço relacionado a VA e vou pedir para não acessarem. E vou divulga a verdadeira autora. Coisa feia isso dá processo tá querida.


    PS: Segue a página da verdadeira autora com todos os livos.

    https://fanfiction.com.br/u/87279/

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