domingo, 31 de março de 2013

PARTE 04

Eu permaneci ainda ali, ignorando o frio, pensando naquelas palavras de Rose. Era incrível como ela conseguia me ver tão bem, mesmo assim não conseguia enxergar que a minha felicidade não estava com Tasha. Era uma boa proposta, mas nada do que ela tinha me oferecido me faria feliz. Era difícil imaginar uma vida sem Rose. Eu tinha me habituado a encontrar com ela todos os dias em nossos treinos, tinha me acostumado com o som da sua voz e com a sensação que a presença dela me causava. Ela havia tomado conta dos meus dias, dos meus pensamentos, da minha vida, e isso não tinha volta.
Eu olhei para o lado, onde Rose estava sentada há poucos minutos, e a sensação de vazio me invadiu. ‘Partir o coração de uma pessoa.’ A sua última frase ainda ecoava nos meus ouvidos. Eu não sabia sobre o quê ou quem Rose estava falando, mas era isso que eu também deveria fazer. Voltei ao salão do banquete e a festa continuava. Morois conversavam, riam e bebiam, espalhados em grupos pelo ambiente. Passei para um dos postos onde eu estava anteriormente e olhei para cada lugar até a avistar Tasha de longe. Ela estava no centro de um grupo que discutia algum assunto controverso, certamente. Eu a contemplei de longe. Como ela era bonita. Seu corpo alto e definido, devido aos treinos de luta, destoava das outras Morois. Ela vestia um longo vestido em um tom cinza e seus cabelos negros estavam presos em um coque no topo da cabeça. Ela falava de forma apaixonada para os Morois que a ouviam, defendendo seus ideais. Seria tão fácil se eu conseguisse gostar dela como eu gostava de Rose. Seria tudo tão simples.
Mas olhando para Tasha assim, e depois de estar com Rose, era tão óbvio agora. Elas não podiam ser comparadas. Eu nunca podia ficar com uma, amando incontrolavelmente a outra. Minha decisão sempre esteve tomada e eu estava sento totalmente infantil em pensar que podia mudar isso. Eu só iria esperar que o banquete terminasse para comunicar a Tasha. Ela iria sofrer, mas era melhor assim, já que ela jamais me teria por completo.
Cerca de duas horas depois, as pessoas começaram a se dispersar. Eu me perguntava como eles arrumavam tanto assunto para falarem. Percebi que Tasha ia até a porta de saída, então, me apressei para alcançá-la.
“Posso falar com você?” Falei, tocando em seu ombro.
“Ah, Dimka, claro!” Ela respondeu animada.
“Não aqui. Podemos ir para algum lugar mais reservado?”
Tasha sorriu ainda mais, provavelmente entendendo mal as minhas intenções. Ela acenou e nós começamos a caminhar pelo corredor, lado a lado. Eu buscava mentalmente as palavras certas para dizer a ela, embora eu soubesse que seria inútil ensaiar qualquer coisa. Quando passamos para a ala onde Tasha estava hospedada, Alberta veio em minha direção.
“Preciso de você, Belikov. Temos uma emergência.” O tom breve e eficiente dela me fez entrar instantaneamente em alerta. Eu olhei para Tasha que me deu um olhar desolado.
“Tenho ir.” Eu disse brevemente, enquanto me afastava.
“Sim, você sempre tem.” Foi tudo que eu ouvi, vindo dela.
Eu me juntei a Alberta, que seguia para o quarto de Janine, andando com passos largos. Apesar de sua baixa estatura, ela se movia rapidamente, de forma que eu tive que me apressar para acompanhá-la.
“O quê está acontecendo?” Perguntei, um pouco antes de entrarmos no quarto.
“Encontramos o guardião que estava de serviço em uma das entradas do resort, desmaiado. Ele foi acertado com muita força, tanto que demorou a acordar e ainda não consegue se lembrar do que aconteceu. Estamos imaginando que pode ter sido um Strigoi.”
Nós entramos no quarto e vários guardiões estavam lá, inclusive a própria Janine, que em nada lembrava a mãe furiosa que arrastou Rose daquela festa. Ela estava completamente compenetrada, como se estivesse pronta para entrar em uma luta naquela mesma hora.
Eu pensei um pouco nas informações dadas por Alberta. Não fazia sentido. Um Strigoi não iria somente acertar um dhampir e ir embora. Se ele conseguisse fazer isso, teria o capturado ou o matado ali mesmo.
“Eu não acho que tenha sido um Strigoi.” Falei, dando voz aos meus pensamentos. “Um Strigoi não o teria deixado vivo.”
“Então, você está sugerindo que tenha sido um humano?” Um dos guardiões perguntou.
“Eu não sei, mas é provável.”
“Um grupo de guardiões já percorreu todo hotel e suas fronteiras. Nada foi encontrado. As wards estão intactas. Nenhum indício de Strigoi foi encontrado.”
“E as câmeras de vigilância?” Perguntei me lembrando da central de monitoramento do hotel.
“Não conseguimos ver tudo. Quem o acertou estava fora do ângulo da câmera.” Outro guardião respondeu.
Todos se entreolharam. A verdade era uma só. Nós não sabíamos o que estava acontecendo. Não havia pistas, não havia mais nada o que averiguar. Eu andei até a janela e olhei para fora. O sol brilhava e as pistas de esqui estavam vazias. Antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa, batidas forte vieram da porta e um grupo de guardiões entrou. Era outro grupo que também tinha ido averiguar os quartos do hotel.
“Algo novo?” Janine perguntou a eles.
“Não, nada. Mas achamos algo meio estranho. Encontramos Alan. Ele estava descansando em seu quarto. Ele nos informou que, mais cedo, no turno dele, ele deixou três estudantes da Academia sairem do hotel.”
“O quê?” Alberta exclamou. “ E porque ele fez isso?”
O guardião sorriu e respondeu de forma irônica como se já soubesse o que nós concluiríamos. “Ele simplesmente falou que foi porque eles pediram.”
“Compulsão.” Eu falei pensativo. “Quem foram estes alunos? Há quanto tempo foi isso?”
“Foi no meio da noite. Ele nos deu os nomes.” Ele pegou um papel em seu bolso e leu em voz alta. “Mason Asford, Amélia Rinald e Edson Castille.”
Eu olhei para Alberta que não demonstrava reação alguma. Então, ela virou para Janine.
“Vou procurar a Diretora Kirova. Precisamos fazer uma contagem dos alunos imediatamente.”
Percebendo que nada sairia dali, eu segui Alberta, ainda me perguntando para onde estes garotos teriam ido. Provavelmente tinham ido buscar alguma aventura estúpida e retornariam em breve. Mesmo sem ver qualquer conexão entre o ataque sofrido pelo guardião e esse novo fato, tínhamos que verificar isso. Não podíamos negligenciar, quando tínhamos Strigois se organizando para atacar a qualquer momento.
Paramos em frente a porta do quarto de Kirova, que demorou longos minutos a abrir. Quando ela nos atendeu, seu semblante denunciou que ela estava dormindo. Sem nos preocuparmos com isso, narramos para ela tudo que tinha acontecido.
“Vou reunir todos os alunos, no maior salão do hotel, em meia hora.” Ela rosnou.
Eu tinha que admitir. A eficiência da Diretora Kirova em reunir os alunos da St. Vladmir era invejável. Em menos de meia hora o mesmo salão que antes foi utilizado para reunir os Morois, depois do ataque aos Drosdovs, estava repleto de estudantes. Quase que a totalidade deles aparentava ter saído da cama naquela mesma hora. Alguns estavam acompanhados de seus pais, que, obviamente protestavam por tamanha ‘falta de bom senso’ em interromper seu descanso no meio da noite. Eu, Aberta e Stan nos posicionamos logo ao lado de Kirova, de frente para a platéia. Eu passei meus olhos por cada fileira de cadeira e estranhei por não avistar Rose. Provavelmente estava atrasada, como sempre. A qualquer momento, ela entraria pela porta, de forma agitada, chamando a atenção de todos. Olhei para uma das cadeiras próxima a um grande pilar, e lá estava Lissa, sentada sozinha, com braços cruzados em volta do corpo. Novamente estranho. Quando não estava com Rose, certamente Lissa estaria com Christian, mas não havia nenhum, nem outro com ela.
Minha atenção voltou para frente. Ignorando os olhares reprovadores, Kirova subiu em um pequeno palanque e encarou a multidão, testando o microfone.
“Bem, lamento incomodar a noite de sono de todos vocês mas, como sabemos, estamos vivendo tempos emergenciais.” Ela iniciou, sem qualquer cerimônia. “Os guardiões solicitaram uma contagem de alunos imediatamente, então tivemos que reuni-los aqui.” Ela se virou para nós. “Guardião Alto, você se certificou que não há mais alunos pelo resort?”
“Sim, recolhemos a todos. Ninguém ficou de fora.” Stan respondeu firmemente. Aquilo me acendeu uma espécie de luz de alerta. Porque Rose não estava ali?
“Perfeito, vamos começar então com uma rápida chamada. Assim que ouvirem seus nomes, identifiquem-se, levantando a mão direta.” Ela orientou.
“Amanda Petterson”
“Aqui.” Uma garota ergueu a mão.
“Amélia Rinaldi”
Silêncio.
“Amélia Rinaldi?”
Todos pareciam paralisados. Kirova ergueu os olhos do papel e encarou a multidão.
“A senhorita Amélia Rinaldi está ausente.” Ela atestou em voz alta se voltando para Alberta.
“Anderson Taurus.”
“Aqui.” Um outro garoto ergueu a mão.
A cada nome chamado, meus olhos seguiam os alunos e eu sentia um grande temor tomar conta de mim. Rose não estava atrasada. Ela não estava ali. Onde ela estava? O quê estava acontecendo? Eu não conseguia dominar meus pensamentos, que estavam a mil.
“Christian Ozera.”
Silêncio.
“Christian Ozera?” Ela repetiu. “O Sr. Christian Ozera está ausente.”
Eu não conseguia entender mais nada do que estava se passando. O quê havia acontecido com Christian? Tinha que ter uma resposta racional para tudo isso.
Nomes e nomes passaram, detectando o que nós já sabíamos. Eddie e Mason também estavam desaparecidos.
“Rosemarie Hathaway.”
Senti meu coração parar por um segundo. Prendi minha respiração e mais uma vez, meus olhos percorreram todos os cantos do salão, numa última esperança de ver Rose. Um silêncio sepulcral tomava conta de tudo.
“Rosemarie Hathaway.” Ela repetiu. “A senhorita Rosemarie Hathaway está ausente.”
Aquela frase bateu em mim como um verdadeiro soco no estômago. Ela tinha que estar em algum lugar. Não era possível que ela tivesse deixado o resort. Eu tinha estado com ela bem depois do horário que o guardião afirmou que deixou os outros saírem. Uma coisa não podia ter conexão com a outra.
Lutei para manter minha aparência controlada, mas minha mente trabalhava em várias conjecturas para explicar o que estava acontecendo. Mas nada fazia sentido. Como um borrão, Kirova terminou a chamada dos alunos e se virou para nós, falando fora do microfone.
“Ao que tudo indica, são cinco alunos desaparecidos, e não três, como vocês pensavam.”
“Tem algo errado aqui.” Falei, com minha voz surpreendentemente controlada. “Alan disse que os três saíram no meio da noite. Eu estive com Rose bem depois que amanheceu. Eles não saíram juntos.”
“E quanto a Christian Ozera?” Alberta perguntou.
“Outro mistério. Não acredito que ele tenha saído com Rose. Eles não são amigos.” Acrescentei.
Nós nos viramos para a platéia e todos nos olhavam com apreensão e incrivelmente em silêncio. Alberta passou para o púlpito, e assumiu o microfone.
“Vocês estão liberados por hora, exceto...” Ela fez uma pausa, olhando para baixo e depois ergueu novamente os olhos. “As pessoas que tiveram contato com os ausentes, nas últimas doze horas, permaneçam aqui.” Sua voz era quase mortal quanto seus golpes. Eu duvidava que alguém ousasse desobedecer aquela ordem.
Pouco a pouco, o salão foi ficando cada vez mais vazio. Eu olhava para cada estudante sentindo meu peito apertar. Percebi que Lissa havia ficado no mesmo lugar onde estava. Senti uma faísca de esperança. Rose jamais sairia sem comentar qualquer coisa com ela. Menos de uma dúzia de alunos também permaneceram ali. Sem conseguir esperar, fui até Lissa que me olhava com muita apreensão.
Eu parei em frente a ela e me abaixei para olhar em seus olhos. Seu semblante era bastante preocupado.
“Você tem alguma ideia do que está acontecendo?” Perguntei gentilmente. Os olhos dela se encheram de lágrimas. Eu segurei seus ombros.
“Não, eu não sei.”
“Lissa, escute. Eu entendo que você queira proteger seus amigos, isso é normal, é natural. Mas você precisa confiar em mim. Eu só quero o bem deles.” Percebi que Alberta e Stan também tinham vindo para perto de mim, sem me importar com eles, continuei. “Acredite, sair assim, como eles fizeram, não é seguro. Precisamos saber para onde eles foram. Eu garanto que nada irá acontecer com eles, se você me ajudar.”
“Eu já disse a você. Eu não sei. Não vejo Rose desde o banquete. Christian brigou comigo hoje de manhã e eu não o vejo desde então. E os outros? Ah, eu nem falei com eles hoje!”
Eu me ergui, endireitando a minha postura, olhando para os outros alunos que estavam ali. Se Lissa não sabia de nada, eles também não saberiam. Olhei novamente para ela, que tinha começado a chorar, então, me abaixei novamente para ela.
“Nós não sabemos o que está acontecendo. Vá para o seu quarto e não saia de lá. Um guardião foi atacado e tem algo muito estranho acontecendo. Eu preciso que você fique segura. Você promete que não sairá de lá?”
Lissa acenou. “Sim.” Ela disse, se levantando.
Eu fui interrogar cada aluno, sempre tomando a frente de Alberta e Stan. Eles não reclamaram e eu não tinha saúde emocional para me importar com isso. Apesar de tentar sempre me manter calmo e controlado, a ansiedade e o desespero me tomavam a cada resposta evasiva que eu recebia dos que tinham estado com eles. Sempre vinham respostas vazias, nada relevante, nada que indicasse o que eles estavam pretendendo com essa fuga.
Quando terminamos, eu senti a frustração me invadir. Eu queria entrar em ação e ir até onde eles estavam, mas não tínhamos pistas. Fomos para o quarto de Janine, onde vários guardiões estavam.
“Confirmaram a ausência dos alunos?” Janine perguntou, assim que entramos.
“Mas que isso.” Alberta respondeu prontamente. “Descobrimos que não são três os ausentes e sim cinco.”
“Cinco? Como cinco alunos conseguiram driblar nossa segurança?” Um outro guardião perguntou.
“Os outros dois são Christian Ozera e Rose Hathaway.” Alberta falou, ignorando a pergunta feita. Havia um fio de tristeza em sua voz.
Janine nos olhou em silêncio. Seus lábios se estreitaram em uma fina linha, sendo o único sinal de que algo se passava dentro dela.
Todos olhavam apreensivos para Janine. Eu podia ver os olhares de desaprovação dos guardiões que estavam com ela. Provavelmente, todos pensavam que os cinco tinham partido em uma brincadeira de adolescentes. Eu, mesmo, lutava internamente para não deixar aquele pensamento também me contagiar. Eu repetia para mim mesmo que eu conhecia Rose o suficiente para saber que ela não faria isso. 
Janine deu um longo suspiro cansado e fechou os olhos, apertando os cantos internos com os dedos. Quando ela tornou a nos olhar, sua expressão parecia calma e controlada, como era comum a qualquer guardião. Mas apenas parecia.
“Bran, o guardião que foi atacado lembrou de algo. Eu estou indo checar isso.” Ela tentou fazer uma voz firme, mas um leve tremor saia no final de suas palavras. Então, ela virou-se para mim. “Depois devemos sair, precisamos fazer uma varredura pelas redondezas. Esses garotos não tinham meios de locomoção. Provavelmente fugiram a pé. Não devem ter ido muito longe.”
Eu tive a sensação que ela poderia desabar a qualquer momento, embora se esforçasse para manter a postura dura. Quando ela saiu, eu obedeci ao impulso de acompanhá-la. Algo me dizia que eu deveria ouvir o que Bran tinha a dizer. Percebi que alguns outros guardiões fizeram o mesmo, provavelmente movidos pela curiosidade em desvendar onde tudo aquilo levaria. Chegamos a uma pequena enfermaria do hotel, onde Bran estava deitado, com um curativo no lado esquerdo da cabeça. 
“Eu lembro de tudo com clareza agora,” ele começou, assim que entramos. “Aquele garoto, o Ozera. Ele tentou me compelir para deixá-lo sair. Mas acho que ele não era muito bom em compulsão.” Ele falou, com um sorriso no canto dos lábios. “Foi quando alguém se aproximou ao meu lado. Eu vi bem, antes de apagar. Era Rose. Rose Hathaway. Ela de meu um golpe certeiro.” Ele levou a mão á cabeça, bem onde estava o curativo e me olhou, com um pouco de constrangimento. “Você a treinou bem, Belikov. Ela bate forte.”
“É uma pena que não a tenha treinado a ter senso de responsabilidade.” A voz de Stan ecoou atrás de mim. Eu nem tinha percebido que ele também tinha vindo conosco. Apesar de não querer entrar em uma discussão ali, eu me virei para ele, sentindo uma enorme raiva percorrer por mim.
“Nós não devemos abrir a boca para falar de coisa que absolutamente não sabemos.” Falei lhe lançando o meu olhar mais mortal. Ele era mais baixo que eu, de forma que pude me erguer ao lado dele e olhá-lo por cima. Um silêncio sepulcral tomou conta da sala. 
“Tem algo mais que você se lembre, antes da pancada. Algo que ajude nas investigações?” Alberta perguntou a Bran, de forma imparcial, como se nem eu, nem Stan tivesse falado qualquer coisa. 
“Não, isso foi tudo.” Bran respondeu, balançando negativamente a cabeça.
Voltamos pelo corredor do hotel, à caminho das garagens para pegarmos um dos carro. Minha mente trabalhava nas inúmeras hipóteses, tentando montar aquele quebra cabeças. A onde Rose iria com Christian? Ambos sem Lissa? De qualquer forma, eu lutava para não deixar a angustia me dominar. Apesar de todos se manterem frios, eu sabia que aquilo levaria a algo muito sério. Eu sentia uma imensa necessidade de entrar em ação, mas não podia. Eu não tinha a menor ideia para onde ir, por onde começar. Meus pensamentos foram interrompidos por Alan, que veio ao nosso encontro.
“Aí estão vocês!” Ele nos saudou. “Estou começando o meu turno agora. E então, algum progresso nas investigações? Já sabem quem atacou o guardião do posto norte?”
“Sim.” Janine respondeu amargamente. “Foi Rosemarie Hathaway. Parece que ela está envolvida na fuga dos alunos que você deixou sair.” Ela respondeu, sem esconder o desconforto. Uma espécie de luz se acendeu no rosto de Alan.
“Esperem um pouco!” Ele exclamou. “Eu encontrei com Rose ontem à noite. E foi bem depois de eu ter visto os demais garotos. Ela também perguntou por eles, mas definitivamente não saiu com eles.”
Novamente Rose. Eu lancei um olhar para Janine e tudo parecia um cerco se fechando. Para mim era óbvio que algum problema estava por trás de tudo isso e, confesso, estava começando a me sentir apavorado. Ela não falou nada e começou a andar cada vez mais rápido, como se ansiasse chegar logo ao carro. Ela devia estar sentindo a mesma necessidade minha de fazer algo urgentemente. 
“Eu ficarei aqui,” Alberta falou para nós, parando ao lado de uma das SUV, onde entrávamos. “Vou fazer novos interrogatórios, agora que já sabemos o quê procurar, poderemos ter uma nova perspectiva das respostas. Quando vocês voltarem, nós nos reuniremos para juntar as informações.”
Eu assumi a direção e sai em disparada. Janine tinha razão. Se Rose saiu há poucas horas e a pé, apesar do frio ser intenso, o sol brilhava alto no céu, ainda sendo incômodo para qualquer Moroi, isso retardaria Christian e eles não teriam ido muito longe. Cada vez mais, tudo se tornava claro. Três alunos saíram primeiro e, decorrido um lapso de tempo, Rose e Christian foram atrás deles. Aquilo estava me corroendo de preocupação. Apesar de algumas pessoas insinuarem que era mais uma fuga impensada deles, uma atitude irresponsável, eu já conhecia Rose o suficiente para saber que ela só sairia assim se estivesse seguindo seu instinto de proteção. Certamente, ela tinha pressentido algum tipo de perigo e tinha mergulhado de cabeça para salvar os outros, sem ponderar qualquer conseqüência. Era típico de Rose fazer isso. Eu só não conseguia imaginar para onde ela teria ido e buscando o quê. Sem ter uma real dimensão do que estava acontecendo, eu tinha a sensação que ia explodir de tanta tensão. 
Prender tudo aquilo dentro de mim era terrível, mas necessário. Eu estava ali, dirigindo o carro com Janine e mais dois guardiões comigo. Não podia simplesmente extravasar tudo que eu estava sentindo. 
Um silêncio sepulcral tomava conta do carro. O ar de Janine estava totalmente carregado. Apesar de tentar manter uma fisionomia natural, um misto de preocupação, irritação e temor irradiava dela. Eu suspeitava que o meu semblante também não era dos melhores. Os outros guardiões que nos acompanhavam não ousaram a mencionar qualquer palavra.
Enquanto dirigia, eu observava cuidadosamente os arredores. A estrada era pouco movimentada mas, uma vez ou outra, avistávamos pessoas caminhando pelo acostamento. Sempre que isso acontecia, meu coração disparava na esperança de ser um deles. Mas nunca era. 
Quando chegamos a uma pequena cidade, paramos em um posto de gasolina que tinha uma loja de conveniência. Lá questionamos várias pessoas, sempre que não sabiam de nada. Depois, quando paramos em uma estação de ônibus, já passava do meio dia. O movimento era intenso, devido aos festejos de final de ano. Muitas pessoas viajavam para encontrar familiares e amigos. Nós nos dividimos e eu permaneci com Janine. Percorremos os postos de embarque e a bilheteria, e a resposta era sempre a mesma. Ninguém tinha visto nada. Quando encontramos os outros dois guardiões a resposta se repetiu. 
O nosso caminho de volta foi ainda mais tenso. Não tivemos sucesso nos nossos interrogatórios e voltávamos com a mesma pergunta que nos assombrava: o que estava acontecendo?
Quando retornamos ao hotel e encontramos os outros guardiões, na sala de Alberta, a frustração irradiava por todos nós. Eu não sabia mais o que pensar. Nem mesmo sabia como agir. Todas as ações óbvias a serem feitas, nós tínhamos realizado. Estudantes interrogados, rondas pelos arredores feitas, todas as pessoas que tiveram contato com eles, foram ouvidas. Nenhuma informação nos dizia o que tinha acontecido. 
“Eu ainda gostaria de falar com Vasilisa. Não acho que seja possível que ela não saiba de nada. Ela e Rose são muito unidas.” Janine falou para mim, com voz baixa. 
“Eu já a interroguei. Aliás, foi a primeira pessoa com quem falei. Para mim ficou claro que ela não sabe de nada.”
Janine ponderou um pouco as palavras. “Mesmo assim, eu quero falar com ela.” Eu percebi que ela não estava duvidando de mim e sim buscando formas de se manter em atividade. “Você poderia vir comigo? Já que você é o guardião dela, talvez ela se sinta mais segura com a sua presença.”
“Claro.”
Caminhamos até o quarto de Lissa e ela nos recebeu, com os olhos cheios de esperança, provavelmente esperando que chegássemos com novidades sobre Rose e Christian. 
“Vocês já sabem o quê aconteceu? Onde eles estavam?” Ela perguntou de maneira ansiosa, assim que entramos.
“Não, nós ainda não conseguimos nada.” Respondi gentilmente. Ela caminhou desoladamente até a cama e sentou na beira, olhando para baixo. Eu e Janine trocamos olhares. Era óbvio que Lissa também não sabia de nada. Mesmo assim, caminhei até ela e me abaixei, para poder olhá-la diretamente. “Você tem certeza que não lembra de nada relevante? Algo que lhe pareça uma bobagem, pode representar muito para nós.”
Lissa cruzou os braços e olhou para o lado. “Não.” Ela falou duramente.
“Eu sei que você quer protegê-los, mas precisamos saber onde eles estão.” Eu falei, ainda mantendo o tom gentil. Na verdade, eu sabia que a resposta dela sempre seria ‘não’, mas eu queria mesmo que Janine ouvisse que já tinha sido perguntado tudo que era necessário.
“Eu já lhe disse. Eu não sei. Eu não sei o que aconteceu.”
“Eu não posso acreditar que eles não tenham dito a você onde estavam indo. Principalmente com... a ligação de vocês.” Janine perguntou tentando soar firme, mas seu rosto denunciava toda preocupação que ela sentia. 
“Só funciona de um lado. Você sabe disso.” Ela respondeu, olhando para mim. Eu me ajoelhei na frente dela.
“Você tem certeza que não sabe de nada? Nada que você possa nos dizer? Eles não estavam na cidade. O homem na rodoviária não os viu... embora nós tenhamos certeza que foi pra lá que eles foram. Nós precisamos de algo, qualquer coisa, para continuar.” Lutei para minha voz não soar desesperada.
Lissa trincou os dentes. “Você não acha que se eu soubesse, eu não contaria a você? Você não acha que estou preocupada com eles? Eu não faço idéia de onde eles estão. Nenhuma. Ou porque eles fugiram... não faz sentido. Especialmente do porque eles foram com Mia, de todas as pessoas.”
Eu a olhei por breves segundos. Era claro que ela falava a verdade. Lissa não sabia de nada. E isso era o mais intrigante. Rose era capaz de dar a vida por ela, nunca fugiria, deixando Lissa para trás, sem ter uma boa razão para isso. Eu dei um longo suspiro e me levantei, caminhado até uma pequena penteadeira que havia ali. Uma escova de cabelo, com vários fios escuros presos nela, estava ali. Provavelmente era de Rose. Ver as coisas dela ali em cima, apertou meu coração.
“Quando foi a última vez que você viu Rose?” Janine continuou com o interrogatório.
“No banquete de Priscilla Voda. Ela saiu de lá sem que eu visse.”
A minha conversa com Rose, naquela noite passou pela minha memória como um filme acelerado. Um momento tão perfeito daqueles não podia ter resultado nisso tudo.
Algumas batidas na porta fizeram com que eu e Janine ficássemos instantaneamente em alerta. Talvez essa atitude fosse típica de qualquer guardião. Eu caminhei até lá e abri, me deparando com Tasha. Foi quando me dei conta que tinha esquecido completamente que ela existia.
“Dimka? O quê você faz aqui?” Ela perguntou, entrando no quarto. Eu olhei para ela e depois para Lissa, que ainda estava sentada na cama e não pareceu nada entusiasmada com a visita que recebia.
“Acho que não é estranho encontrar um guardião perto de sua protegida, Lady Ozera.” Janine respondeu secamente. Tasha lhe deu um olhar atravessado, claramente não gostando daquelas palavras. 
“Eu sei, mas eu procurei Dimitri por toda parte, para saber o que estava acontecendo e não o encontrei em lugar algum. Nem mesmo aqui, com Lissa. Meu sobrinho é um dos desaparecidos, eu tenho direito de saber o quê aconteceu com ele. Eu tenho direito de saber o que está acontecendo.” A voz de Tasha era mais nervosa do que o normal, mas eu entendi que era devido a situação que estávamos vivendo. Ela não tinha o autocontrole típico dos guardiões e podia extravasar todo seu desespero.
“Nós não sabemos o que está acontecendo, Tasha.” Eu falei prontamente, sem me preocupar em parecer tranqüilo. “Todo esse tempo que você diz que não me encontrou, eu estava trabalhando, tentando desvendar esse mistério. Mas nós não conseguimos nada. Pista alguma. Nada.” 
Um silêncio pairou no quarto e eu tive a sensação de estar carregando o mundo inteiro nas minhas costas. Foi quando ouvi um choro baixo. Era Lissa. Prontamente, eu me virei para ela, me sentindo totalmente responsável por ela.
“Eu não vou suportar se algo acontecer com Rose, Dimitri. E Christian. Não vou-”
Novamente eu me abaixei e olhei fundo em seus olhos. “Eu vou encontrá-los, custe o quê custar. Você confia em mim?”
Ela me olhou, com os olhos brilhando em meio às lágrimas. Havia uma enorme esperança neles. “Sim. Eu confio em você.”
As horas seguintes se arrastaram vazias. Rapidamente, todos que estavam no hotel souberam da fuga dos alunos da St. Vladmir e vários boatos começaram a correr pelos grupos que se formavam para comentar o que tinha acontecido. De tudo era inventado, desde histórias sobre uma fuga para participar de alguma festa clandestina até histórias sobre um novo massacre Strigoi. 
“As autoridades estão tentando esconder isso de nós, para evitar uma onda de pânico.” Ouvi um Moroi comentar com outro, enquanto eu passava por uma das áreas comuns. “Strigois invadiram o hotel e aniquilaram aqueles pobres garotos.” Eu balancei a cabeça negativamente, embora soubesse que não era nada difícil que Strigois estivessem envolvidos nisso tudo.
A noite chegou e a ausência de informações me deixava ainda mais aflito. Principalmente por saber que eles não tinham mais a proteção da luz do dia. Já era alta madrugada, quando eu estava inclinado em uma mesa, observando o mapa dos arredores, Alberta se aproximou de mim.
“Belikov,” Ela deu um suspiro longo e cansado. “Dimitri. Creio que nada mais vai surgir. Tudo que tínhamos que fazer, foi feito. Cumprimos todos os procedimentos padrões. Vários turnos já foram trocados e você permanece em serviço. Você não quer descansar um pouco e amanhã-“
“Espere!” Eu a interrompi, erguendo minha mão esquerda. Uma luz iluminou dentro de mim quando ela mencionou a palavra ‘turno’. Alberta me olhou com muita expectativa. “A resposta está nisso! Em turnos!” Eu exclamei. “Quando nós fomos à cidade e à estação de ônibus já era dia! Eles fugiram à noite e de manha bem cedo. Não eram as mesmas pessoas que estavam em serviço, por isso ninguém viu nada e nem sabia de nada.” Era isso. Como ninguém havia pensado nisso antes? Era como se eu pudesse ver a solução para tudo se aproximando.
Janine, que estava próxima a uma mesa de café, se virou e me olhou compreendendo onde eu queria chegar. Apesar de parecer estar muito cansada, seu semblante se tornou esperançoso.
“Precisamos voltar à cidade e checarmos a rodoviária, imediatamente!” Falei para ela, já me movendo em direção à porta.

Dessa vez, somente eu e Janine partimos no carro. O resort ficava em uma região remota e distante da agitação das cidades, como tudo dos Morois. A pequena estrada de acesso estava escura e sem movimento algum. Acelerei o máximo que pude, sentindo que tinha que traçar uma verdadeira corrida contra o tempo.
Quando paramos no posto de gasolina, que era o primeiro sinal de civilização, antes de chegarmos à cidade propriamente dita, as informações foram bem mais animadoras. Um atendente da loja de conveniência afirmou ter visto Rose e Christian chegarem em um carro com um casal, e seguirem na direção da estação de ônibus, que ficava bem próxima dali. Ele guardou a fisionomia de Rose pois a achou muito bonita. Eu não me dei o direito de me sentir incomodado com aquilo, já que a situação não era nada romântica.
Tentando não chamar muito a atenção, fomos para a rodoviária. O movimento era bem mais tranqüilo do que durante o dia. Passamos para o guichê da bilheteria e, diferente da outra vez que estivemos ali, uma mulher estava no atendimento.
“Boa noite, eu não sei se você poderia me ajudar” confesso que coloquei um pouco de charme na voz. Para um humano, nós dhampirs passamos despercebidos. Eu também sempre fui bastante ciente do impacto que causo nas mulheres, apesar disso não ser relevante para mim. “Minha irmã fugiu ontem de casa e estamos desesperados. Nós já procuramos por toda parte. Você não viu essa garota por aqui, comprando passagem?” mostrei a foto de Rose para ela e ainda tentando me manter amigável acrescentei “ela é bastante rebelde, coisas de adolescente”.
Não pude deixar de rir internamente dessa minha pequena mentira, tudo que eu não tinha por Rose era sentimento de irmão.
“Tente se lembrar. Eu preciso encontrar minha filha.” Janine falou, soando preocupada.
A moça observou a foto de Rose e olhou para Janine de forma desconfiada. Depois tornou a olhar para mim. Com a desconfiança crescendo, virou a foto de Rose para nossa direção. “Sua irmã? Filha dela?” Ela apontou para Janine e depois para mim. “E Você é o quê dessa senhora? Filho também?”
Eu sorri, ainda tentando soar simpático e natural. Eu tinha que manter aquela mentira, caso contrário não teríamos as informações que precisávamos. “Não, claro que não. Sou enteado. Ela é a segunda esposa do meu pai. Eu e a garota da foto somos meio-irmãos.” Falei, sem conseguir olhar para Janine.
Ela deu um sorriso em compreensão e toda desconfiança dela se esvaiu.
“Ah! Sim, claro... Entendi agora. Bem eu vi essa garota, sim. Ela tem um linguajar bem mal educado, para meu gosto. Acho horrível quando meninas chamam palavrões, eu sou bastante religiosa, então você deve saber como é.” Aquilo confirmou que ela tinha visto Rose mesmo. Nunca pensei que fosse me sentir tão feliz em ouvir alguém falar que Rose chamou palavrões. Então, com um tom cúmplice, ela acrescentou “Acho que ela fugiu com o namorado. Ela estava com um rapaz com grandes olhos azuis”. Uma onda de alívio passou por mim, mas durou pouco, depois que ela respondeu minha próxima pergunta.
“Eles compraram uma passagem? Para onde? É muito importante para nós, essa é a primeira notícia deles, que temos desde ontem” disse, ainda mantendo meu tom gentil.
“Compraram sim. Para Spokane, com parada em Lowston.” Enquanto ela falava, senti minha visão escurecer. Acho que parei de respirar por alguns segundos, mas recobrei rapidamente meu controle.
“Muito, muito obrigado, você nos ajudou muito” falei de forma humilde, pegando a foto e me retirando.
“Espere!” Ela chamou. “Sua irmã perguntou por outros três amigos dela que haviam comprado passagem, algumas horas antes, também para Spokane, se isso também lhe ajuda”.
Olhei novamente para ela sorrindo, tentando esconder a angústia que tomava conta de mim. “Ajuda muito! Ao que me parece, devem ter ido para alguma festa clandestina. Obrigado novamente”.
Naquela hora eu realmente queria que o meu maior problema fosse ter Rose fugindo para festas clandestinas. Um forte desespero começou a tomar conta de mim, misturado com uma sensação terrível de culpa. Rapidamente, minha mente construiu toda seqüência dos fatos. Provavelmente os três primeiros vieram para Spokane, por alguma razão. Rose, sabendo disso, e sabendo que era uma cidade que estava infestada de Strigois, veio atrás deles para tentar levá-los de volta, sempre seguindo seu instinto de proteção e sempre agindo sem pensar.
Ao mesmo tempo, eu senti a culpa querendo me consumir. Eu não devia ter contado para Rose sobre os Strigois em Spokane. Aquele era um assunto de guardiões e algumas informações não devem mesmo sair de dentro das salas de comando.
Eu já havia lutado contra vários Strigois e sabia o perigo que eles eram. Sabia também que Rose não estava pronta para enfrentá-los. Contrariando a minha vontade de correr para Spokane, voltamos para o resort, em uma viagem quase interminável.
“Spokane?” Janine falou, enquanto entrávamos no carro. “Por quê Spokane?” O tom dela era bastante intrigado. Eu não consegui responder aquela pergunta e me mantive em silêncio.
Janine não deu mais nenhuma palavra durante o percurso e eu não fiz questão alguma de falar também. Eu não podia demonstrar para ela o quanto isso tinha me abalado. Eu não podia ter uma atitude inconseqüente, que fizesse com que ela deduzisse tudo que eu sentia por Rose. Eu tinha que manter meu tom profissional. Agora que nós sabíamos onde eles tinham ido, tínhamos que montar um plano para trazê-los de volta.
Quando chegamos ao hotel, fomos direto ao encontro de Alberta e relatamos tudo que tínhamos descoberto. Ela nos ouviu calmamente, sem demonstrar qualquer espécie de sentimento. Aquela sua frieza em lidar com situações críticas faziam com que ela parecesse extremamente forte.
“Vamos entrar em contato com os guardiões que trabalham em Spokane. Os mesmos que descobriram o rastro dos Strigois. Se estes garotos passaram por lá, eles saberão onde encontrá-los.” Alberta falou, mantendo seu tom eficiente.
Vários telefonemas foram dados depois disso. Guardiões de todo perímetro foram acionados. Solicitamos ajuda até dos Alquimistas para conseguirem informações com fontes humanas. Mesmo assim, a manhã correu sem grandes novidades. Somente no meio da tarde, recebemos gravações do circuito interno da rodoviária que mostrava Mason, Eddie e Mia chegando e, horas depois, Rose e Christian. Minhas suspeitas se confirmaram quando recebemos a notícia que eles haviam se encontrado no shopping da cidade, o mesmo shopping que eu havia dito a Rose que tínhamos encontrado passagens secretas de Strigois. A imagem do circuito interno do shopping mostrava os cinco conversando em uma das praças de alimentação e depois seguindo para uma passagem de serviço, justamente o local indicado nas investigações como o acesso aos túneis construídos pelos Strigois. Alguns minutos se passam até que eles retornam e saíram do shopping. Os relógios das gravações indicavam que já era perto do entardecer. E a partir daí, não havia mais registro algum deles. Absolutamente nada.
Assistimos incansavelmente todas as imagens, na esperança de capturarmos cada mínimo detalhe.
“Eu conheço bem quando esse tipo de coisa acontece.” Alberta suspirou, parecendo vencida. “Creio que não há mais nada a ser investigado aqui. Eles entraram nas áreas dos Strigois e, supostamente, foram capturados por eles. Ninguém desaparece assim, a menos que tenha sido pego.”
“Eles não podem ter sido capturados por Strigois. Ainda era dia quando eles saíram do shopping.” Janine falou, sua voz demonstrando uma ponta de desespero. Ela era bastante experiente e provavelmente estava chegando a mesma conclusão de Alberta.
‘É dia. Coisas ruins não acontecem durante o dia.’ Era como se a voz de Rose, quando encontramos o massacre aos Badicas, ecoasse nos meus ouvidos. Eu estava precisando de cada milímetro de controle para não gritar de desespero. Se eles tivessem mesmo sido capturados por Strigois, era pouco provável que ainda estivessem vivos agora. Não havia razão alguma para serem mantidos apenas como prisioneiros.
“Vocês conhecem os procedimentos.” Alberta continuou, com voz firme, embora seus olhos demonstrassem uma sombra de tristeza. “Pessoas desaparecidas, há mais de vinte e quatro horas em zonas de Strigois, são dadas como mortas. Irei emitir o comunicado oficial.”
Ouvir aquilo foi como se o chão tivesse sido tirado de baixo dos meus pés. Uma onda de frio misturado com calor percorreu meu sangue e eu tive que me segurar firmemente no espaldar de uma das cadeiras para me manter em pé. Um imenso vazio tomou conta de mim. Alberta estava certa, aquele era mesmo o procedimento padrão diante de uma circunstancia desta. Mesmo assim, eu me recusava a aceitar internamente que fosse verdade. 
“Não podemos fazer isso!” Janine exclamou quase que imediatamente. “Eu já parti em uma missão de resgate antes, podemos fazer isso agora!”
“Eu realmente entendo seu desespero, Guardiã Hathaway, mas não é a mesma situação.” Alberta falou, ainda se mantendo firme. Eu sentia que ela tinha o pesar na voz, mas como líder, ela se mantinha no papel de ser forte.
“Claro que é a mesma situação. Temos dhampirs e Morois capturados por Strigois!” Janine falava descontroladamente, com uma impertinência que lembrava muito a de Rose.
“Quando você saiu naquela missão de resgate, você sabia onde procurar e o quê procurar. Agora não. Nós não sabemos para onde eles foram levados. Não sabemos nem se estão vivos! Eles podem muito bem ter sido mortos ou transformados, há estas alturas.” Alberta rebateu.
Eu trincava os dentes, lutando para me manter imparcial, mas pensar em Rose ou morta ou transformada foi a coisa mais desnorteante que eu pude experimentar. Toda sua vida e força de vontade não podia ser dizimada assim, tão facilmente, tão estupidamente. Eu não conseguia aceitar aquilo como verdade, eu não conseguia sentir que tudo isso estivesse mesmo acontecendo. Era como se a qualquer momento eu fosse encontrar Rose passando por um dos corredores do hotel, a presença dela ainda era muito viva para mim. Eu buscava algo para dizer ou argumentar, mas minha mente simplesmente não pensava em nada coerente. 
Como um raio, Janine, saiu da sala, batendo a porta. Provavelmente, ela não queria desmoronar na nossa frente. Realmente, não havia mais argumentos para serem utilizados. A realidade era aquela que se apresentava diante de nós. Eu olhava para o chão, ainda apoiado na cadeira, quando a mão de Alberta tocou em meu braço.
“Eu suponho que você deva fazer o mesmo que Janine, Dimitri.” Alberta disse compreensivamente. “Busque um lugar, onde você possa ficar sozinho.” Eu olhei para ela e não consegui falar nada. Apenas assenti e sai. 
O único lugar que eu pensei em estar foi aquele telhado, onde eu falei com Rose pela última vez. Passei pelas escadas e abri a porta que dava para fora. Eu fechei os olhos e, pelo menos nas minhas lembranças, era com se eu pudesse vê-la novamente sentada, com o rosto contra o sol. Mas ela não estava ali. Caminhei para o mesmo lugar onde ficamos sentados e sem consegui mais controlar meus sentimentos, comecei a chorar, como eu não fazia há muito, muito tempo.
Honestamente, eu não sei dizer por quanto tempo fiquei ali. Quando senti que podia voltar, retornei ao hotel e, como era esperado, a notícia sobre os alunos desaparecidos havia caído com uma verdadeira bomba. Pessoas andavam desesperadas de um lado para outro, umas com medo de partir outras, querendo sair dali a todo custo. Passei para o meu quarto e, quando entrei, encontrei Tasha, em pé, olhando a janela. Ela voltou-se para mim, com os olhos extremamente vermelhos, indicando o quanto ela havia chorado.
“Olá, Dimka. Aquele outro guardião me deixou entrar. Ele disse que eu podia lhe esperar aqui.” Sua voz era baixa, como um sussurro. “Eu preciso que ouvir de você. É verdade? Christian está mesmo morto?”
Eu caminhei até ela, sentindo meu peito apertar. “Temo que sim, Tasha. Não só ele, como todos os outros. Eles estão desaparecidos há muito tempo e foram visto pela última vez próximos a esconderijos de Strigois. Nosso procedimento padrão é decretar a morte deles.”
“Como vocês podem se omitir assim?” Ela gritou. “Vocês nem se quer tentaram o resgate!”
“Nós não temos como resgatá-los, Tasha.” Tentei soar compreensivo, mas senti minhas palavras tremerem, meu estado emocional não era dos melhores. “Não temos pista alguma! Não sabemos onde procurar!”
Ela sentou na cama, caindo aos prantos. Eu sentei ao seu lado e lhe abracei, puxando o seu ombro para perto de mim, lutando para não voltar a chorar também. Nós permanecemos ali, por muito tempo. Quando ela pareceu mais calma, eu a acompanhei até seu quarto. Quando eu estava voltando e passava pela ala dos Ivashkov, cruzei com Adrian, que tinha acabado de sair de seu quarto. Ele me olhou seriamente e, surpreendentemente, parecia sóbrio.
“Guardião Belikov?” Ele chamou assim que me aproximei dele. Eu me virei e o olhei. “Por quê vocês fizeram isso?”
“Fizemos o quê? Poderia ser mais específico, Lord Ivashkov?” Tentei manter meu tom neutro.
“Como vocês podem decretar a morte de uma pessoa que está viva?” Eu busquei algum traço da insanidade que ele demonstrou em outras ocasiões, mas desta vez ele também parecia lúcido. “Eu estive com Rose. Eu posso assegurar que ela está bem e viva. Ela está presa. Em um porão. Mas ainda está viva.”
“Você esteve com Rose?” Perguntei sem saber distinguir o que eu senti naquela hora. “Como você esteve com ela? Onde?”
“Eu a encontrei em um sonho. Eu consegui falar com ela, mas algo a acordou, antes que eu pudesse descobrir precisamente onde ela estava.”
“Você esteve com ela em um sonho?” Falei, sem conseguir deixar de externar uma certa repugnância, mas logo retomei minha imparcialidade. “Creio que precisamos de algo mais concreto, Lord Ivashkov. Não podemos trabalhar com provas imaginárias.”
Adrian sorriu vitorioso, como se tivesse ganho um jogo. “Quando lidamos com seres usuários da magia do espírito, Guardião Belikov, não podemos questionar nada. E eu sou um usuário do espírito. Entre outras habilidades, eu consigo entrar no subconsciente das pessoas, enquanto elas dormem e construir sonhos. Dessa forma, posso também me comunicar com elas. Todo esse tempo eu estava tentando falar com Rose, mas aparentemente ela esteve acordada. Somente agora há pouco, consegui o contato, mas foi muito rápido. Ela parecia apavorada e só conseguiu dizer que estava em um porão. Como eu disse, algo a acordou antes que eu conseguisse mais informações.”
Eu queria lutar racionalmente contra aquilo, mas não conseguia contestar o que ele falava. Ao mesmo tempo em que parecia insano, também parecia coerente. De qualquer forma, uma força, que eu não sabia dizer de onde vinha, me levava a acreditar nele. 
“Seja como for, Lord Ivashkov. Eu mesmo irei averiguar isso. Se tiver uma nova informação, não hesite em me procurar.” Falei cautelosamente e me surpreendendo com minhas próprias palavras. Caminhei para o meu quarto imaginando uma maneira de usar aquela pequena informação. 
Procurar uma casa, com um porão, em uma cidade como Spokane, era algo quase tão difícil quanto procurar a própria Rose. Liguei para vários guardiões, conhecidos meus, que trabalhavam em Spokane e todos me davam a mesma resposta: era como procurar uma agulha no palheiro. Eu não tinha autorização para sair do hotel e não tinha como agir ali. Ao mesmo tempo, cada minuto que se passava eu sentia que era uma chance perdida de trazer todos eles de volta. Sozinho, no meu quarto, eu caminhava de um lado para o outro, vasculhando minha mente buscando uma alguma forma de intervir, mas nada me ocorria. Talvez pelo cansaço, talvez pelo andamento da própria situação, eu me sentia, ao mesmo tempo, perto e longe de desvendar tudo isso. Era como se a resposta tivesse bem na minha frente e eu não estava conseguindo enxergar.
Eu não tinha muita noção do tempo, apenas sabia que ainda era noite, quando meu telefone tocou e eu atendi prontamente.
“Dimitri?” Uma voz familiar falou do outro lado. Eu reconheci imediatamente. Era Roman, um guardião que trabalhava perto de Spokane e havia estudado na mesma academia que eu, na Sibéria. Nós éramos muito amigos, naquela época. Eu tinha entrado em contato com ele e o deixado a par de tudo que estava acontecendo e lhe pedi ajuda. “Tenho algumas novidades para você." Ele continuou. "Coisas que podem parecer mínimas, mas irão ser útil, com certeza. Nós temos o número de algumas placas de carros utilizados por Strigois, registrados em Spokane. Os guardiões checaram os endereços, como sabemos, mas todos eram falsos, as numerações das casas informadas não existiam. Exceto que, uma das casas, próxima a um dos endereços falsos, tinha janelas pintadas de preto. Os guardiões somente detectaram isso em uma nova ronda feita hoje, no começo da noite.”
“Você tem certeza disso? Existe uma alta probabilidade de termos Strigois nesta casa. O quê os guardiões pretendem fazer?” Falei, sentindo aquela notícia me animar.
“A informação ainda é recente. Poucas autoridades sabem disso. Não houve tempo de decidir o quê fazer. Mas creio que, seja o que for, isso deverá ser averiguado o quanto antes. Pelo que você me contou, estes garotos podem estar nesta casa, se ainda estiverem vivos.”
Senti meu coração palpitar com estas palavras dele. Eu tinha que acreditar que eles ainda estavam vivos. Não podia deixar a esperança ir embora de jeito nenhum.
“Eu vou procurar o comando dos guardiões daqui, Roman, e verificar essa informação. Eu estive em serviço por mais de dois dias e tirei algumas horas de descanso, mas agora vou retornar ao trabalho. Muito obrigado pelas novidades.”
“Por nada, Dimitri. Eu mantenho contato, caso sujam mais fatos.”
Lutando para manter minha aparência calma e afastar toda ansiedade que eu tinha dentro de mim, passei para a sala de Alberta. Quando entrei, verifiquei que as informações eram verdadeiras, somente em observar o clima agitado dos guardiões que ali estavam. Caminhei para a mesa onde Alberta observava algumas fotos com uma lente de aumento, em baixo de uma luz forte.
“Novas evidências.” Ela falou, sem levantar os olhos do papel, assim que me aproximei. Era como se ela soubesse que eu chegaria a qualquer momento.
“O que vamos fazer?”
“Por hora, nada. Uma equipe de guardiões está monitorando o local. Precisamos nos certificar que é realmente um esconderijo de Strigois, antes de tomarmos qualquer atitude. Não podemos correr o risco de invadir uma residência de humanos inocentes.”
Eu me sentei junto a ela, pegando algumas páginas dos relatórios e começando a analisar as fotos que estavam neles.
“Vê isso?” Alberta colocou a lente de aumento em uma das fotos. “Uma van estacionada. Também com vidros pintados.” Eu me inclinei para ver a foto melhor. Realmente, era no mínimo intrigante. Apesar de toda cautela dos guardiões, essas eram fortes evidências da presença de Strigois ali. Percorri os olhos pelas fotografias, buscando algo que mostrasse se a casa tinha porão. Olhei várias e várias fotos, até que parei em uma delas que mostrava uma pequena janela de ventilação, junto ao solo.
“Eles estão aqui.” Falei baixo. “Os estudantes desaparecidos estão nesta casa.” Minha voz saiu surpreendentemente controlada e segura. Alberta me olhou com expectativa.
“Existe algo que você sabe e ainda não nos reportou?” ela perguntou cautelosamente.
“Estas janelas de ventilação. Elas indicam que tem um porão aí.” Eu apontei para a foto. “Adrian Ivashkov me procurou esta tarde. Ele alegou que esteve com Rose – em um sonho – e que ela lhe disse que estava presa em um porão.”
A expressão dela não se alterou. “Creio que informações, sem bases concretas, como esta não devem ser consideradas, principalmente vindas de alguém como o histórico do Lord Ivashkov.”
“Ele é um usuário do espírito.” Eu falei imediatamente, ainda controlado. “Uma das habilidades dele é entrar nos sonhos de uma pessoa e se comunicar com ela.”
Um fio de exaspero passou pelo rosto de Alberta, mas logo ela se conteve. “Você está realmente esgotado, Belikov. E é compreensivo. Todos estamos. Nós queremos encontrá-los, mas temos que admitir que é completamente irracional tomarmos uma informação dessa como verdadeira.”
Eu mantive meu rosto imparcial, tomando aquela atitude dela como natural. Eu mesmo tinha reagido da mesma maneira, quando Adrian tinha falado comigo sobre este assunto.
“Quando se trata da magia do espírito, não podemos considerar nada como irracional” falei, repetindo as palavras de Adrian. “Não conhecemos muita coisa sobre este elemento, não sabemos ao certo dos poderes que seus usuários possuem.”
Alberta me olhou por breves segundos e logo depois esticou o braço até um telefone que estava na ponta da mesa. Novamente, seu rosto era ilegível.
“Guardiã Petrov falando. Estamos enviando uma equipe de guardiões da Academia St. Vladmir para auxiliar no monitoramento dessas novas evidências. Temos fortes motivos para acreditar que nossos alunos desaparecidos foram capturados por Strigois e estão presos nesta casa.”
O comando responsável pelas investigações em Spokane não questionou muito o envio da nossa equipe para o local. Os estudantes eram responsabilidade dos guardiões da Academia, enquanto fossem alunos dela, por isso, era normal que a St. Vladmir enviasse seu próprio reforço. Alberta não entrou em detalhes sobre as informações que tínhamos, mesmo assim, as pessoas para quem ela falou, não tinham como argumentar contrariamente.
Já era de manhã quando o nosso jato aterrissou em uma pista de pouso particular em Spokane. Eu, Stan e outros três guardiões da Academia fomos enviados. Janine, assim que soube onde iríamos, se ofereceu para ir também e ninguém teve como negar isso a ela. Apesar de ser centrada e bastante séria, muitas vezes ela lembrava a impertinência de Rose, quando se tratava de conseguir o que queria.
Duas SUVs nos aguardavam para nos levarem ao local onde um posto dos guardiões tinha sido montado especialmente para investigar este grupo de Strigois que estava se organizando e se escondendo ali. Eu usava de muito autocontrole para manter minha fisionomia fria, mas a cada momento, minha ansiedade crescia. Eu mal podia esperar para entrar em ação e estourar aquele cativeiro. Eu sabia que qualquer atitude nossa deveria ser bem planejada, mesmo assim, eu mal podia esperar para estar bem de frente daquela casa. Eu tinha certeza absoluta que Rose estava lá.
Quando chegamos, o guardião responsável nos passou brevemente tudo que havia sido encontrado e averiguado até o momento. Pouquíssimas informações traziam algo novo, somente pequenos detalhes que não acrescentavam nada de muito relevante. Nosso grupo ouviu tudo atentamente, sem dar qualquer opinião. Eles já tinha começado a traçar um plano de ataque, mas não podiam colocar nada em ação, sem que o Conselho dos Guardiões os autorizassem. Apesar de estar em um local mais isolado, a casa estava em uma zona residencial, então todo cuidado era pouco numa ação deste porte.
Já era perto do fim da manhã quando terminamos de ver todas as provas e evidências reunidas por eles. Eu tinha que admitir que eles haviam realizado um bom trabalho e que estavam totalmente preparados para atacar.
“Será que podíamos passar de carro pelo local?” Eu perguntei, enquanto saíamos da sala de reuniões. “Ainda é dia, não encontraremos Strigois pela rua e dificilmente um humano nos identificaria. Eu realmente gostaria de ter minha própria impressão do local.”
“Com certeza.” Paul, um dos líderes do comando, respondeu animadamente. “Podemos sair agora mesmo.”
Partimos em dois carros utilitários simples, porém com vidros escuros, para não chamar a atenção das pessoas. À medida que percorríamos as ruas da cidade, eu sentia meu corpo ficar tenso. Era como se eu tivesse a certeza absoluta de que encontraríamos algo. Assim que viramos a esquina, nos deparamos com uma rua tranqüila, com poucas casas e cada uma com muito terreno, de forma que elas ficavam bem distantes uma das outras. Senti meu coração disparar quando avistei, sentados no meio fio da calçada, Christian, Mia e Eddie.
“Espere!” Senti minha voz sair mais alta que o normal. “Pare o carro!” Falei para o guardião que dirigia. Ele parou o carro quase que imediatamente e foi como se todos tivessem tido o mesmo pensamento. Corremos até eles, que nos olharam com o alívio saltando à vista. Eu fui o primeiro a chegar perto deles.
“O quê aconteceu com vocês? Onde estavam? Onde estão os outros?” Perguntei sem fazer pausa alguma. Mia me olhou, com um misto de esgotamento e cansaço.
“Eles ainda estão na casa.” Sua voz era vazia e mecânica.
“Qual casa?” Janine perguntou atrás de mim. Mia apontou para uma casa afastada, no final da rua.
“Porque eles não estão aqui com vocês? O quê tem na casa?” Stan questionou friamente.
Mia correu os olhos por todos os guardiões, já estavam fora dos carros e na frente dela. “Nós caminhamos até aqui e paramos para descansar. NEles estão mortos.” Ela falou prontamente e eu senti meu sangue esfriar. “Tinha Strigois na casa. Mas agora estão mortos. Rose os matou. Algo terrível aconteceu com ela... era como... como...” Seus olhos se encheram de lágrimas e o choro veio rapidamente. Mesmo assim, ela continuou. “Era como se não fosse ela. Eu não sei o quê dizer. Ela preferiu ficar lá. Com Mason. Nós saímos para pedir ajuda, mas só agüentamos caminhar até aqui. Estamos fracos e o sol nos incomoda e, além do mais, ainda tínhamos que carregar Eddie. Ficamos cansados e paramos um pouco para descansar.”
Eu ergui minha postura e me esforcei para manter meus sentidos em ordem. Eu não podia acreditar que Rose havia matado Strigois. Eu a treinava e sabia que ela ainda não estava pronta para enfrentar esse tipo de situação e eu não conseguia imaginar em que estado estaria. Ao mesmo tempo em que a minha vontade de ir até ela aumentava, também crescia em mim o medo pelo que eu encontraria. Olhei para Janine que parecia tentar travar a mesma guerra que eu.
“Não podemos entrar na casa, sem nos certificarmos que não há mais perigo nela.” Falei, me surpreendendo comigo mesmo, por manter meu lado racional em funcionamento. Apesar da minha vontade ser entrar correndo ali, eu sabia que isso poderia custar a vida deles. Qualquer atitude impensada poderia trazer um mal ainda pior. Janine olhou para mim, entendendo que aquilo era o correto a ser feito.
“Peça reforço ao comando central. Diga que é um chamado urgente.” Janine ordenou para um dos guardiões.
Eu olhei para os três, ainda sentados, na calçada e avaliei o estado deles. Eddie estava desmaiado e Christian tão esgotado quanto Mia. Então eu me abaixei e tentei manter meu tom gentil, apesar de sentir a curiosidade me corroendo.
“Vocês podem nos contar resumidamente tudo que aconteceu naquela casa? Precisamos saber o que se passou.”
“Os Strigois nos mantiveram presos todo esse tempo.” Christian respondeu, sem me encarar. “Eles conheceram meus pais. Talvez por isso, não nos matou. Mas nos torturou. Nos deixou sem comida, sem água e sem dormir. Ficamos amarados em umas cadeiras.”
“E o que os Strigois fizeram com ele?” Perguntei apontando para Eddie.
“Eles o usaram como alimentador. Ele perdeu muito sangue. Já nós, não temos sangue há dias. Eu me sinto muito fraco, não consigo pensar direito. Eu precisei usar a magia para ajudar na nossa fuga.” Eu olhei para o sol do meio dia que brilhava alto no céu. Os Morois não suportavam o sol por muito tempo e eles estavam fracos devido a falta de sangue e o uso da mágica. Era surpreendente que ainda não tivessem perdido os sentidos.
“Eu também usei a magia. Eu joguei a água de um aquário no Strigoi para que Rose pudesse atacá-lo. Mas depois, ela não precisou mais da água. Ela tem uma força muito grande. Ela os matou sozinha.” Mia completou o que Christian tinha começado. Novamente, minha mente se recusou a acreditar no que meus ouvidos ouviam.
“Quantos Strigois eram?” Stan perguntou.
“Dois. Nós só tivemos contato com dois.” Christian respondeu.
“Não havia mais nenhum?” Perguntei, tentando traçar mentalmente o ocorrido.
“Não sabemos. Pelo menos, não vimos mais nenhum, até agora.” Christian disse com um pequeno sorriso, ainda mantendo seu tom sarcástico, apesar das circunstâncias.
“Há quanto tempo foi isso?” Janine questionou.
“Menos de meia hora. Eu acho, não tenho certeza.” Mia respondeu confusa. “Vocês chegaram logo. Nós nem tínhamos pensado em como sair daqui.”
“Eu vou até a casa.” Eu falei me colocando em pé novamente.
“Nós devemos esperar que o reforço chegue para-“ Stan começou a falar.
“Não podemos esperar-” Janine interrompeu. “Pode haver mais Strigoi ali.” Ela bradou apontando na direção da casa.
“Se esperarmos muito, não vai ter sentido tanto reforço. Não vamos ter mais ninguém para libertar.” Eu disse autoritariamente e depois me voltei para um dos guardiões do nosso comboio. “Leve os garotos para dentro do carro. E vocês...” Eu olhei para os demais. “Nos dê cobertura. Vamos entrar na casa.”
Passamos sorrateiramente pela rua e, quando chegamos em frente à casa, paramos brevemente. Era uma grande propriedade, com um andar superior, janelas pretas e, aparentemente tranqüila. A porta da frente estava aberta. Apesar de saber que o certo a ser feito era uma prévia ronda no local, para nos certificarmos de que poderíamos entrar, senti que minhas pernas não me obedeciam e então caminhei rapidamente até lá, colocando minha estaca em punho e sentindo meus sentidos trabalharem de forma completamente atenta. Escutei passos que me seguiam, mas não me virei para ver qual dos guardiões tinha me acompanhado. Quando parei na porta e olhei o que tinha na sala eu quase não consegui processar o que eu via.
Um verdadeiro cenário de terror tinha se formado ali. Tudo estava molhado e havia sangue por toda parte. Tapetes, chão, paredes. Tudo estava cheio de sangue. Também havia pedaços de vidro espalhados para todo lado. Um corpo de Strigoi estava sem cabeça, próximo a uma lareira e, um pouco mais para direita, outro corpo, também sem cabeça, mas completamente dilacerado. Havia perfurações irregulares por todo ele, de forma que não conseguíamos quase distinguir algumas partes. Mais nada foi tão terrível quando eu finalmente vi quem eu procurava.
Sentada no canto da sala, estava Rose debruçada em cima de Mason. Ele também estava morto, mas ela parecia não se importar com isso. Suas roupas estavam rasgadas e sujas e os seus cabelos totalmente emaranhados. Definitivamente, Rose havia travado uma verdadeira guerra contra aqueles Strigois. Senti meu coração despedaçar naquela mesma hora. Ela estava viva, mas parecia não ser mais a Rose que eu conhecia.
Contrariando a vontade de correr até ela, cuidadosamente, me aproximei deles. Os outros guardiões também vieram. Ouvindo nossos passos, ela ergueu o rosto e então eu pude ver que o pior havia acontecido. Ela estava transtornada, completamente fora de si. Cuidadosamente, continuei me aproximando dela. Senti que os demais guardiões me seguiam, copiando meu cuidado. Ela nos olhou com fúria, claramente sem nos reconhecer. Então, ela se ergueu, com uma espada enferrujada em punho, pronta para atacar qualquer coisa que se aproximasse dela. Era como se um instinto animal tivesse nela e não a deixava ver que nós só queríamos ajudá-la. Ela só conseguia nos ver como perigo. Os outros guardiões pareceram perceber isso, pois eles pararam de me seguir. Janine, no entanto, continuou se aproximando de Rose, assim como eu.
“Fiquem longe.” A voz de Rose saiu baixa e irreconhecível. “Fiquem longe dele.”
Eu não me importei com seu olhar raivoso e continuei me aproximando dela, pisando com cuidado. Janine também continuou, mas eu realmente não estava me importando com ela. Toda minha atenção estava em Rose que continuou empunhando a espada, pronta para nos atacar.
“Fiquem longe!” Ela gritou e sua voz era extremamente descontrolada e ameaçadora. Senti que Janine parou imediatamente. Mas eu não. Eu não podia aceitar aquilo. Não conseguia assimilar que Rose estivesse em tamanho estado de choque que não estivesse me reconhecendo. Eu precisava trazê-la de volta, mesmo que para isso, eu precisasse lutar com ela.
“Rose,” eu falei com toda suavidade que pude, a olhando profundamente nos olhos, tentando buscar qualquer resquício daquela garota que eu conhecia e tanto amava. “Largue esta espada.” Ordenei. Percebi que as mãos dela começaram a tremer, de forma que toda firmeza que ela tinha anteriormente, começou a ceder.
“Fique longe de nós.” Ela falou, ainda descontrolada.
“Rose.” Eu persisti, mesmo sentindo uma ponta de derrota em mim. Ela parecia irreversivelmente perdida. Mas, de repente, algo pareceu brilhar nela. Ela me olhou com o reconhecimento surgindo.
“Está tudo bem.” Falei gentilmente. “Tudo vai ficar bem. Você já pode soltar esta espada.”
O tremor das mãos dela aumentou e eu percebi que ela usava de uma enorme força para manter aquela espada erguida na minha direção.
“Eu não posso.” A voz dela saiu dolosa. “Eu não posso deixá-lo sozinho. Eu tenho que protegê-lo.”
“Você protegeu.” Eu falei instantaneamente.
Sem poder mais segurar a espada, Rose a soltou e o barulho, da sua queda no chão, ressoou nos meus ouvidos. Poucos segundos depois, ela desabou, praticamente caindo também. Com uma velocidade que nem eu sabia que tinha, eu fui até Rose e a segurei pela cintura, a ajudando a levantar. Eu a segurei fortemente contra meu corpo, sentindo um profundo alívio por encontrá-la e poder estar perto dela novamente. Percebi que os guardiões começaram a se mover pela casa, e averiguar tudo. Provavelmente perceberam que Rose estava sob controle comigo e não representava mais perigo.
De qualquer forma, aquele não era um lugar apropriado para que ela permanecesse por mais tempo. O cenário era terrível demais e ela estava muito abalada com o ocorrido. Sutilmente, comecei a levá-la para a porta, eu queria poder ficar com ela em algum lugar onde não tivesse tantas pessoas em volta, mas ela se deteve, segurando com força a minha camisa, parecendo apavorada. Eu apertei ainda mais o meu braço que estava em sua cintura, trazendo-a ainda mais para perto de mim, e com a outra mão livre, afastei um pouco dos seus cabelos que estavam em seu rosto. Ela aceitou aquela proteção e inclinou a cabeça no meu peito, totalmente indefesa, nem de longe parecendo uma garota que tinha acabado de matar dois Strigois.
Toda aquela sucessão de pequenos gestos fez meu coração se partir ainda mais. A alegria de ter encontrado Rose viva era quase que suprimida pela preocupação por ela estar daquele jeito. Não era justo que isso tivesse acontecido com ela. Era um abalo emocional muito grande para alguém tão jovem. Eu realmente duvidava que ela se recuperasse facilmente.
Calma, calma... tenha calma, meu amor. Já passou. Não vou lhe deixar sozinha. Eu estou aqui por você. Sempre estarei.” Eu murmurava em russo, perto do ouvido ela, ainda passando os dedos pelos seus cabelos. Eu sabia que ela não podia entender, mas não era algo que eu podia falar para ela abertamente, principalmente com tantas pessoas em volta.
Os guardiões começaram a averiguar cada pedaço da casa e eu percebi que o reforço que Janine havia pedido, tinha chegado. Muitos, muitos guardiões estavam ali. Stan parou perto dos corpos dos Strigois e se ajoelhou, com olhar estupefato. Aliás, eu podia ver este olhar em quase todos que estavam ali. Era realmente impressionante o que Rose tinha feito. Decapitar um Strigoi era uma das coisas mais difíceis a ser feita. Todo guardião concordava que era uma forma possível de matá-los, mas poucos se arriscavam usar este método. E Rose tinha conseguido. Por duas vezes.
“Ela fez isso? Com os dois?” Ele falou com incredulidade.
Um outro guardião, que estava ao lado de Stan, se abaixou e pegou a espada que Rose tinha deixado cair. Era uma espada usada para enfeite e não para luta. Ele a analisou por breves momentos. “E essa espada não é afiada há anos.” Ele disse pensativamente.
De repente, Rose soltou um som esquisito, muito baixo para ser um grito, mas alto o suficiente para percebermos que ela sentia uma grande dor e que aquele assunto ainda a machucava. Ela tinha uma dor na alma. Eu a apertei ainda mais, como se eu pudesse, de alguma forma, transmitir toda minha força a ela.
“Tire-a daqui, Belikov.” Janine falou, autoritariamente.
“Vamos Roza.” Eu falei baixo, em seu ouvido. “Está na hora de ir.”
Eu a levei para fora, e dessa vez, ela não apresentou resistência. Já na calçada, eu fiz um sinal para que um dos guardiões trouxesse um carro. E, a partir daí, os gestos e ações dela se tornaram mecânicos. Ela obedecia a tudo que eu a mandava fazer, como se nada mais importasse para ela. Eu a coloquei dentro do carro e fiz uma ligação para Alberta, narrando, com brevidade, tudo que tinha acontecido. De longe, eu estava totalmente atento a Rose, que não tinha mais reação alguma. Eu realmente não sabia o quê fazer e temia os danos que tudo isso poderia causar a ela.
“Belikov!” Janine me chamou, assim que desliguei o telefone. “O quê vai ser feito agora?”
“Eu acabei de falar com a Guardiã Petrov. Vamos voltar imediatamente para a Academia. O avião já está sendo preparado. Nós concordamos que não é prudente retornar ao hotel. Ela informou que as pessoas estão em polvorosa e, diante do estado de Rose – e dos outros – eu acho que não é prudente – e também não é saudável – para eles, enfrentarem o assédio das pessoas. A Academia está praticamente vazia agora, é o melhor lugar para eles estarem, por hora.”
Ela assentiu, também achando que era a atitude mais sensata a ser feita. “Eu retornarei com vocês.” Janine disse, sem hesitar.
Em pouco tempo, nós estávamos todos no jato da Academia.

 

3 comentários:

  1. Esperando ansiosamente pela próxima parte...

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    1. Muito feio isso querida plagiar historia alheia viu. Vou postar sua pagina em todos as páginas que tenho e que conheço relacionado a VA e vou pedir para não acessarem. E vou divulga a verdadeira autora. Coisa feia isso dá processo tá querida.


      PS: Segue a página da verdadeira autora com todos os livos.

      https://fanfiction.com.br/u/87279/

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  2. Muito feio isso querida plagiar historia alheia viu. Vou postar sua pagina em todos as páginas que tenho e que conheço relacionado a VA e vou pedir para não acessarem. E vou divulga a verdadeira autora. Coisa feia isso dá processo tá querida.


    PS: Segue a página da verdadeira autora com todos os livos.

    https://fanfiction.com.br/u/87279/

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