domingo, 31 de março de 2013

PARTE 03

Depois de uma noite praticamente inteira em claro, logo cedo me aprontei e assumi o meu turno. Eu passaria todo o dia em uma das torres de observação, perto da entrada do resort. Era uma tarefa maçante, o tempo se arrastava e eu não tinha nada para fazer a não ser ler. E foi o que eu fiz, passei grande parte de do dia revezando entre a leitura e observar os arredores. A neve cobria tudo de branco e o vento que soprava calmamente contribuía para deixar o clima frio ainda mais melancólico.
Já era quase de madrugada quando meu turno virou e um guardião veio me render para que eu tirasse um breve intervalo, antes de assumir o turno seguinte. Eu estava no meio do banho, quando batidas urgentes vieram da porta. Corri para atender, ainda amarrando rapidamente o roupão.
“Rápido, Belikov! Precisamos de sua ajuda no quarto de Hathaway, agora! Temos uma emergência.” Um dos guardiões da Academia falou alarmado, já se afastando pelo corredor. Senti meu coração pular descompassado.
“O que aconteceu com Rose?”
O guardião me deu um olhar confuso. “Rose?”
“Rose Hathaway, minha aluna, aconteceu algo com ela?”
Ele sorriu com exaspero. “Nah! Eu falo da mãe dela. Janine Hathaway. Estamos montando uma força tarefa lá no seu quarto. Aconteceu outro ataque Strigoi.”
Eu me vesti e em poucos minutos já estava a caminho do quarto de Janine. O hotel estava calmo, já que a maioria das pessoas ainda estava dormindo. Vários guardiões passavam de um lado para outro, mas sem demonstrar qualquer sinal de emergência.
Quando entrei no quarto, percebi a dimensão daquele ataque. Muitos guardiões que não estavam em serviço se concentravam ali, buscando novas informações e aguardando direcionamento do que fazer. Eu me aproximei de Janine, tentando me inteirar dos acontecimentos. O alvo tinha sido um ramo da família Drozdov que vivia no norte da Califórnia.
“Oito Morois foram mortos e cinco guardiões. É um ataque ainda maior que o dos Badicas.” Janine falou baixo, com a voz perfeitamente controlada. “Ainda não recebemos detalhes sobre o ocorrido, mas como aqui é o lugar com a maior concentração de guardiões – tirando a Corte, é claro – eles nos contataram primeiro e pediram reforços nas investigações.”
A todo momento o telefone tocava com mais informações. Wards quebradas, participação de humanos, ataque em massa, tudo feito de forma planejada. Era um dos meus medos se materializando. Os Strigois estavam se organizando e isso fazia tudo diferente. Um Strigoi sozinho era algo com o qual um guardião era treinado para lidar. Mas um exército de Strigois era algo praticamente invencível. Eu nem queria pensar como essa notícia chegaria às pessoas, quando elas acordassem pela manhã. O hotel iria se tornar um verdadeiro caos.
Eu me envolvi totalmente no acompanhamento do desenrolar dos fatos, de forma que pude esquecer momentaneamente os meus problemas com Rose e Tasha. Mas não por muito tempo. Quando estávamos completamente compenetrados em uma conversa, montando uma estratégia de investigação para tentar localizar quem estava liderando estes ataques, a porta do quarto de Janine se abriu vagarosamente e Rose entrou com Lissa. Algumas pessoas olharam com estranheza para elas, mas ninguém tentou impedi-las de permanecerem ali. Talvez pelo fato de Rose ser filha de Janine e nem todos terem conhecimento do relacionamento conturbado as duas.
Ao olhar para Rose, eu tive a sensação que não a via há muito, muito tempo. Eu estive tentando evitá-la esses últimos dias, mas vê-la sempre era uma das melhores coisas do mundo. Ela passou de vagar para um canto do quarto que tinha um pequeno sofá e se acomodou ali com Lissa. Eu permaneci olhando para ela, sentindo todo dilema entre partir com Tasha e permanecer na Academia, voltar. Diante de mais um massacre como aquele, definitivamente deixar Rose parecia a coisa mais insana a ser feita. Ela ainda não estava pronta para lidar com Strigois e ainda havia muito a ser feito em seus treinos. E, além do mais, eu não queria e nem podia sair de perto dela. Foi quando eu soube que a minha decisão sempre esteve definida. Era perto de Rose que eu deveria estar. Ainda que só profissionalmente.
Rose me olhou brevemente, mas logo desviou o olhar. Ela ainda parecia emanar a mesma mágoa que tinha no avião, quando ignorou a mim e a Tasha. Eu ainda a observei por breves segundos, mas logo as conversas sobre o ataque me distraíram. Janine comandava tudo com a calma e a imparcialidade que a situação exigia.
“Deviam ser mais do que da última vez.” Janine falou, enquanto observava novamente um dos relatórios.
“Mais?” Um guardião exclamou. “Aquele outro foi sem precedentes. Eu não consigo imaginar nove Strigois trabalhando juntos – e você está querendo dizer que eles conseguiram se organizar?”
“Sim.” Janine respondeu calmamente.
“Alguma evidência de humanos?” Uma guardiã que tinha chegado há pouco tempo perguntou.
Janine hesitou um pouco. “Sim. As wards foram quebradas. E do jeito que tudo foi feito... é idêntico ao ataque à casa dos Badicas.” A voz dela era cansada, porém sua expressão ainda era bastante firme. “Ainda não temos detalhes forenses ainda, mas o mesmo número de Strigois não teria conseguido fazer isso. Nenhum Drozdov ou da sua equipe escapou. Com cinco guardiões, sete Strigois se preocupariam – pelo menos temporariamente – que alguém escapasse. Eram nove ou dez, talvez...”
“Janine está certa.” Falei, complementando. Eu já estava ali há várias horas e já tinha tirado algumas conclusões. “Se você observar o local do crime... é muito grande. Sete não conseguiria dar cobertura.”
“Primeiro os Badicas, agora os Drozdovs.” Alguém falou distante. “Eles estão indo atrás da realeza.”
“Eles estão indo atrás dos Morois.” Eu corrigi com firmeza. “Da realeza, comuns, não importa.”
Depois de mais alguma discussão sobre tudo, os grupos começaram a se dissipar. Eu comecei a juntar alguns papeis, ainda opinando em um círculo que se formou perto de mim. Percebi que Rose se levantou e foi até Janine, então voltei toda a minha atenção, de forma disfarçada, para ela.
“Rose? O quê você está fazendo aqui?” A voz de Janine saiu com surpresa.
“Quem mais foi morto?” Rose perguntou diretamente.
“Drozdovs.” A resposta de Janine foi mecânica.
“Mas quem mais?”
“Rose, não temos tempo-“
“Eles tinham empregados, certo? Dimitri falou comuns. Quem eram eles?”
Eu as observava pelo canto dos olhos e percebi quando Janine pegou um dos relatórios e começou a virar as páginas.
“Eu não sei o nome de todos eles. Aqui.”
Rose olhou a lista. “Ok. Obrigada.”
Eu não podia observar Rose diretamente, mas logo depois ela saiu da sala com Lissa. Ainda sem me considerar. Eu tinha passado estes dias, depois daquele beijo no ginásio, sem ter muito contato com ela e mantendo o tom puramente profissional, talvez isso a tivesse magoado. Tentando não pensar mais nela, voltei novamente para perto de Janine e começamos a analisar mais outro relatório que tinha chegado.
Eu ainda permaneci no quarto de Janine, averiguando o caso do ataque por toda manhã. Os guardiões que estavam investigando tudo, no local, tinham encontrado um rastro de provas bem concretas. Testemunhas, Morois e dhampirs tinham visto Strigois no local e redondezas. Essas testemunhas estavam sendo interrogadas e nós aguardávamos ansiosamente pelos relatórios que chegavam à medida em que os interrogatórios eram concluídos. As informações eram muito animadoras, pois tínhamos placas de carros e estávamos rastreando os endereços de onde estes carros estavam registrados. Com estas informações em mãos, bastava a autorização do Conselho dos Guardiões para partirmos em contra ataque.
Não era comum guardiões atacarem Strigois, mas diante de toda essa situação que tinha se instaurado, era algo estávamos cogitando com muita seriedade. O fato era que tínhamos que reagir. Os Strigois estavam claramente se organizando e isso poderia trazer sérias conseqüências, uma vez que os ataques estavam ficando cada vez maiores e mais violentos. Era quase um consenso de que precisávamos desarticular esse grupo e a melhor forma de se fazer isso era matando o seu líder.
Já passava um pouco da hora do almoço, quando Tasha apareceu por lá e com um breve aceno, me chamou para fora do quarto.
“Dimka, eu vim lhe buscar para comer algo. Eu sei que essa notícia se alastrou e todos estão em pânico e todos os guardiões estão em alerta, mas eu também vejo que muitos deram uma parada para o almoço. Aposto que você ainda não se alimentou hoje.”
O olhar dela era preocupado e seu tom extremamente carinhoso. Lembrar do tratamento que lhe dei na outra noite e ver toda aquela dedicação e cuidado dela comigo, me trouxe uma leve sensação de culpa. Fiquei tentado em ir com ela, mas realmente o senso de dever falava mais alto para mim.
“Eu não posso, Tasha.” Falei segurando carinhosamente seu queixo. “Nós pedimos um serviço de quarto, eles devem estar trazendo algo para comermos logo. Não consigo me afastar, não agora, com tantas testemunhas sendo interrogadas. Temos pistas concretas sendo averiguadas. É um momento decisivo.”
Ela me olhou como se já esperasse essa resposta. Mesmo assim, pude ver o descontentamento em seus olhos.
“Tudo bem. Não sei se você sabe, mas os membros da realeza, que estão hospedados aqui no hotel, marcaram uma reunião para discutirmos estes acontecimentos no salão de baile para mais tarde. Todo mundo deve estar presente. Eu sei que não iremos decidir nada lá, mas você sabe que reunir opiniões é algo que funciona e acaba chegando às cadeiras de comando.”
“Eu estou sabendo dessa reunião. Inclusive, pretendo ir. Eu soube que tem um grupo de Morois que defende coisas com as quais eu não concordo. Realmente eu pretendo acompanhar isso.”
“Eu imaginei que você iria. Eu suponho que essa reunião irá ser bem polêmica. Eu também pretendo expor minhas opiniões nela, eu me sentirei ainda mais confiante com você lá.”
Eu dei um pequeno sorriso, pois sabia que as opiniões de Tasha sempre eram controvertidas. “Eu não perderia você discursando por nada.” Falei de forma simpática. Ela sorriu. Foi quando um dos guardiões colocou o rosto para fora da porta e falou baixo.
“Dimitri, venha! Você não vai acreditar na informação que acabamos de receber.”
Eu me despedi rapidamente de Tasha, sem me importar com seu olhar reprovador, e voltei para dentro do quarto. De fato, a informação era bastante importante. Um dos carros utilizados pelos Strigois estava registrado em um endereço de Spokane, em Washington. Um grupo de guardiões tinha ido averiguar naquele mesmo momento. Também tinham localizados túneis subterrâneos em um dos shoppings, nesta mesma cidade. Esse era um forte indício da presença de Strigois naquele local. Eu sentia a adrenalina correr pelo meu corpo só de pensar que estávamos chegando perto deles, que podíamos acabar com todos eles.
A tarde se passou como um piscar de olhos, até que chegou o horário da reunião. Passei para o salão de baile, que tinha sido arrumado de forma adequada para isso. As cadeiras estavam organizadas em forma de auditório e, na frente, mesas forradas formavam uma espécie de palanque. As pessoas estavam tão agitadas quanto apavoradas com tudo que tinha ocorrido. Assim que entrei, dei uma olhada rápida em volta e percebi que Rose estava sentada, em uma das cadeiras dos fundos. Ela observava o movimento das pessoas, com expressão preocupada. Ela era uma das poucas pessoas ali que podia ter uma real dimensão daquele ataque, já que tinha presenciado o resultado na casa dos Badicas.
Percebi que Mason estava sentado ao seu lado direito. Senti meu estômago se revirar com aquilo. Era como se fosse uma perseguição. Parecia que todas as vezes que eu me aproximava, tinha que a encontrar com esse garoto. Eu podia jurar que eles dois tinham um tipo de namoro, mesmo sem ter visto qualquer contato mais íntimo deles e aquele pensamento me desnorteava.
Vi que ao lado esquerdo de Rose ainda tinha uma cadeira vazia e, sem pensar duas vezes, andei rápido e sentei nela, sem me importar com o quê quer que fosse. Percebi que ela me olhou de forma surpresa, mas não falou nada. Eu também permaneci em silênco, tentando passar naturalidade, apesar de estar claro que as coisas estavam estranhas entre nós dois.
Os membros da realeza se agrupavam nos lugares da frente, se apoiando cada um em suas famílias. Tasha e Christian eram os únicos representantes da família Ozera. A reunião começou pouco tempo depois. Um mediador controlava tudo, mesmo assim, todos estavam ansiosos para darem suas opiniões e todas giravam em torno de não se ter muita segurança e de como se conseguir mais guardiões, até que o assunto que me incomodava surgiu.
“O problema é que nós não temos guardiões o suficiente.” Uma mulher da família dos Szelsky falou. “E então, a resposta é simples: precisamos conseguir mais. Os Drozdovs tinham cinco guardiões, e isso não foi suficiente. Apenas seis para proteger uma dúzia de Moroi! Isso é inaceitável. Não é de se admirar que esse tipo de coisa fique acontecendo.”
“Onde você propõe conseguirmos mais guardiões?” perguntou o homem que estava lá. “Eles são um recurso limitado.”
Ela apontou para Rose e alguns noviços estavam. “Nós já temos vários. Eu os assisti treinar. Eles são mortais. Porque esperar até eles fazerem 18 anos? Se nós acelerarmos o programa de treinamento e nos focarmos mais em treinos de combate do que em livros, nós poderemos transformá-los em guardiões quando tiverem 16 anos.”
Sentindo o incômodo tomar conta de mim, fiz um som baixo com a garganta e me inclinei para frente, apoiando os braços nas minhas pernas e descansando o queixo nas mãos. Aquilo era mesmo um absurdo. Dhampirs com dezesseis anos não estavam preparados para lutarem contra Strigois. Mesmo que os treinos fossem intensificados, existia a questão da maturidade. Muitos não tinham os corpos totalmente desenvolvidos e também não tinham a consciência da responsabilidade que lhes cabia.
“Não apenas isso, muitos dos guardiões em potencial estão sendo desperdiçados. Onde estão todas aquelas mulheres dhampir? Nossas raças são interligadas. Os Moroi estão fazendo a parte deles para ajudar os dhampir a sobreviver. Porque aquelas mulheres não estão fazendo a delas? Porque elas não estão aqui?”
Uma grande risada ecoou pelo salão. Esse era um tópico que eu detestava. Sempre que Morois se colocavam em patamares superiores as mulheres dhampirs eu sentia meu espírito se agitar. Principalmente quando girava em torno de sexo. Eu realmente odiava essa colocação que todos faziam e generalizavam tudo.
Tasha ergueu o braço e todos olharam para ela, à medida que as risadas diminuíam. “Eu posso?” Ela pediu ao mediador, que autorizou que ela fizesse uso do microfone. Tasha subiu confinante no palanque. Ela se vestia de forma extremamente simples e seu cabelo estava preso de forma que toda sua cicatriz parecia saltar do seu rosto.
Tasha encarou a platéia e voltou-se para a Moroi que tinha falado.
“Aquelas mulheres não estão aqui, Monica, porque elas estão muito ocupadas criando seus filhos – você sabe, aqueles que você quer começar a mandar para a frente de batalha assim que aprenderem a caminhar. E, por favor, não nos insulte agindo como se os Moroi fizessem um grande favor aos dhampirs, os ajudando a se reproduzir. Talvez seja diferente na sua família, mas para o resto de nós, sexo é divertido. Os Morois transando com os dhampirs não estão fazendo nenhum sacrifício.”
Como ela tinha prometido, a polêmica era parte de seu discurso. Eu me ajeitei na cadeira, sentindo a preocupação que eu sentia me deixar momentaneamente. Tasha tinha tomado a defesa dos dhampirs e calado a boca das pessoas que agiam com hipocrisia. Apesar de eu achar desnecessário ela jogar na cara de todos o quanto os Morois se divertiam com dhampirs, tinha sido válido.
“E a razão que nós estamos esperando os guardiões fazerem 18 anos é para que nós possamos deixá-los aproveitar algum pretenso de vida antes de forçá-los a passar o resto de seus dias em constante perigo. Eles precisam desses anos extras para se desenvolverem mentalmente e fisicamente. Pega-los antes de estarem prontos, é tratá-los como se fossem parte de uma linha de montagem – então você só está criando ração para os Strigoi. Você só vai criar mais comida se tentar fazer as outras mulheres dhampir virarem guardiãs. Você não pode forçá-las a uma vida que não querem. Todo esse seu plano de conseguir mais guardiões está baseado em jogar crianças e aqueles que não querem em perigo, só para que você possa – por pouco – ficar um pouco a frente do inimigo. Eu diria que esse é o plano mais estúpido que eu já ouvi, se eu já não tivesse ouvido o dele.” Tasha falou apontando para o orador.
As palavras dela saíram tão duras e certas que todos se mexeram em seus lugares, claramente incomodados. Um burburinho começou pela sala.
“Nos ilumine, então, Natasha.” Ele falou, tentando esconder o embaraço. “Nos diga o quê você acha que nós deveríamos fazer, já que você tem tanta experiência com Strigoi.”
Tasha sorriu, como se sentisse a vitória se aproximando dela.
“O que eu acho? Eu acho que nós deveríamos parar de bolar planos que envolvem depender de alguém ou algo para nos proteger. Você acha que tem poucos guardiões? Esse não é o problema. O problema é que tem muitos Strigoi. E nós os deixamos se multiplicar e ficarem mais poderosos porque não fazemos nada em relação a eles a não ser ter discussões estúpidas como essa. Nós corremos e nos escondemos atrás dos dhampirs e deixamos os Strigoi fugir. É nossa culpa. Nós somos a razão dos Drozdovs terem morrido. Você quer um exercito? Bem, aqui estamos. Dhampirs não são os únicos que podem aprender a lutar. A questão, Monica, não é porque as mulheres dhampir não estão lutando. A questão é: Porque nós não estamos?” Ela gritou para todos, tanto que suas bochechas ficaram vermelhas. Eu senti o choque correr por mim. Aquilo que ela estava sugerido era totalmente fora das convenções, algo que só aconteceu em tempos remotos, mas que jamais tinha sido novamente cogitado.
Era, de fato, uma solução para os problemas, mas não era algo fácil de ser aceito. Nem mesmo por mim. Eu mesmo não conseguia me imaginar lutando lado a lado com um Moroi. Não foi algo que eu aprendi, não era algo que soava como certo. Era possível, sim, mas não era natural.
“Certamente você não está sugerindo que os Moroi lutem junto com os guardiões quando os Strigois vierem?” Monica Szelsky falou, quase em tom de zombaria.
“Não. Eu estou sugerindo que os Moroi e seus guardiões lutem com os Strigoi antes deles virem.” Tasha respondeu no mesmo tom.
Aquilo era mais que ousado, era revolucionário. Guardiões não atacavam normalmente Strigois, muito menos, levando Morois com eles. O agito cresceu no salão e rapidamente, vários dos que ali estavam começaram a gritar suas opiniões, obviamente divergentes das dela.
“Oh,” disse um Moroi com uma voz de zombaria, falando sem ser sua vez. “Então, você vai nos dar cacetetes e estacas e nos mandar para a batalha?”
Tasha deu de ombros. “Se for preciso, Andrew.” Um sorriso bobo cruzou seus lábios. “Mas tem outras armas que nós podemos usar também. Uma que os guardiões não podem.”
“Oh é? Como o quê?”
Tasha deu uma gargalhada. “Como isso.” Ela balançou sua mão, ateando fogo em um suéter que estava em uma das cadeiras. O silêncio ecoou por breves segundos e, logo depois, o caos tomou conta de tudo.
Aquilo era quase inaceitável. Tasha estava certa em muitos pontos, mas não se podia propor tantas quebras de paradigmas de uma só vez. Eu mesmo não via aquilo com bons olhos. Claro que eram idéias plausíveis, mas muito precisava ser feito para que elas fossem colocadas em prática. Mandar Morois para batalharas era quase tão insano quanto mandar noviços. As pessoas se levantaram e começaram com acusações contra Tasha, trazendo o velho preconceito que todos tinham pela sua família.
Eu não sabia o que pensar daquilo, só sabia que nada de útil tinha saído dali. Nem as idéias de Monica Szelsky e nem as de Tasha. Ambas pareciam insanas, ambas pareciam impraticáveis. Eu fiquei em pé e me virei para Rose que assistia a tudo com seu rosto impressionado.
“Vocês também deveriam ira agora. Nada de útil vai acontecer agora.”
Rose e Mason se levantaram e começaram a me seguir. “Vai você. Eu quero ver isso.” Ele falou enquanto olhava vidrado para a multidão que gritava.
“Boa sorte.” Rose respondeu e me seguiu. Enquanto ela andava ao meu lado, senti meu coração bater disparado. Era a primeira vez que éramos só eu e ela, desde aquele beijo no ginásio. Eu passei estes dias a evitando, mas agora, com ela ali ao lado, tudo parecia uma estupidez minha. Eu buscava palavras para quebrar aquela parede de gelo que tinha se erguido entre nós e retomar a afinidade que tínhamos.
“Você não deveria estar lá dentro protegendo Tasha? Antes que a multidão a pegue?” Rose perguntou e sua voz não demonstrava que ela estava preocupada com a integridade de Tasha, ao contrário, havia um tom provocativo nela. “Ela vai ter muitos problemas por usar mágica daquele jeito.”
Eu levantei uma das sobrancelhas, como sempre fazia, quando me intrigava com algo. Eu me perguntava onde Rose estava querendo chegar com aquela colocação. “Ela pode cuidar de si mesma.” Respondi simplesmente.
“Sim, sim, porque ela é uma ótima lutadora e usuária da mágica. Eu entendo tudo isso. Eu apenas imaginei que como você vai ser o guardião dela e tudo mais...”
“Onde você ouviu isso?” Falei imediatamente, a interrompendo, sentindo uma onda gelada correr o meu corpo. Não era possível que Rose soubesse da proposta que Tasha havia me feito. Como aquilo tinha chegado a ela? Não era para ter sido assim, eu queria ter conversado com ela, como um igual, e ter esclarecido tudo, mas agora parecia tarde. Eu havia demorado demais e ela tinha tomado conhecimento de tudo pelos outros.
“Eu tenho as minhas fontes.” Ela respondeu com ar de superioridade e eu ainda me perguntava como ela sabia daquilo. Não era um assunto sigiloso, mas certamente não era tão público assim. “Você já decidiu, certo? Eu quero dizer, parece um bom negócio, já que ela vai lhe dar vários benefícios...” Seu tom era de um agudo sarcasmo, carregando as entrelinhas de sugestões maldosas.
Senti a ofensa tomar conta de mim. Como Rose podia pensar que eu seria capaz de deixar tudo e seguir Tasha só para obter benefícios? E justo estes tipos de benefícios? Era quase como me colocar no lugar de uma meretriz de sangue. Será que todo esse tempo ela ainda não me conhecia? Ela devia saber melhor e que eu nunca me colocava em primeiro lugar, que eu nunca buscaria somente prazer e realização pessoal.
“O que acontece entre eu e ela não é da sua conta.” Eu olhei diretamente em seus olhos e coloquei toda dureza que pude na minha voz. Percebi os olhos de Rose brilharem em um misto de raiva e mágoa.
“Bem, tenho certeza que vocês serão felizes juntos. Ela é o seu tipo, também – eu sei o quanto você gosta de mulheres que não são da sua idade. Eu quero dizer, ela é o quê? Seis anos mais velha que você? Sete? E eu sou sete anos mais jovem que você.”
A voz dela foi tão afiada que quase conseguiu me cortar. Rose estava tão absorvida com aquela birra que não percebia o óbvio. Eu não podia ser feliz com Tasha e isso não era uma questão de idade ou de preferências pessoais. Eu pensei um pouco sobre o que ela tinha falado e não entedia como ela não conseguia perceber isso. Ela era imatura e isso fazia com que ela agisse como uma criança, sem compreender o que se passava a sua volta. Ao mesmo tempo, eu sabia que ela podia ser madura e racional. O pior é que eu conhecia Rose. Era claro que ela estava agindo daquela forma de propósito, que era uma maneira que ela encontrou de me atingir. Eu não tinha visto isso antes, mas agora eu percebia que ela estava incomodada com toda aquela situação de Tasha.
“Sim. Você é. E a cada minuto que essa conversa continua mostra o quão jovem você é.” Eu me arrependi de ter falado aquilo, assim que as palavras saíram. Rose me olhou estupefata e eu lutei para retomar minha expressão dura. Eu não tive a intenção de ofendê-la e sim de chamá-la à realidade, de fazer com que ela percebesse que o caminho não era esse. Antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa para reparar o que eu tinha dito, uma voz masculina falou alegremente atrás de nós.
“Pequena dhampir!”
Pequena dhampir? Que espécie de cumprimento era esse? Levei rápidos segundos para perceber que era dirigido a Rose. Virei meu rosto e vi um Moroi da realeza que nos olhava de forma presunçosa. Eu o conhecia de vista e pela sua reputação. E que péssima reputação. Ele se chamava Adrian Ivashkov e era membro de uma as famílias reais mais ricas, poderosas e influente. Também se comentava que ele era o sobrinho preferido da rainha Tatiana, e isso dava a ele um grande status. Ele, especialmente, era de uma arrogância e pretensão que provocava repúdio só de olhar. Mas, ao mesmo tempo, tinha algo nele que atraía a nossa atenção e prendia os nossos olhares. Era muito estranho e impressionante isso que ele causava nas pessoas. Ele vivia cercado de garotas e amigos boêmios. Era encontrado freqüentemente bêbado, não respeitava nada e ninguém, vivia uma vida despreocupada e desregrada.
Ele me deu um breve aceno em reconhecimento. Eu olhei de relance para Rose que o encarava visivelmente constrangida. Provavelmente ela se perguntava o mesmo que eu. O quanto aquele Moroi tinha ouvido da nossa conversa?
“Eu não quero interromper nada. Só queria falar com você, quando tiver tempo.” Ele disse em um tom casual e eu pude perceber que, de alguma forma, eles se conheciam. Mas de onde? Como? Que tipo de relação Rose tinha com alguém como ele? Ao mesmo tempo em que milhares de perguntas invadiram minha mente, senti o ciúme ferver dentro de mim, correndo como fogo em minhas veias.
Rose parecendo percebe aquele sentimento que me invadia, deu um sorriso que eu classificaria como terrivelmente perigoso e caminhou até Adrian, de forma doce e encantadora, tocou em seu braço. Eu tive que usar cada milímetro do autocontrole que eu tinha para não avançar em cima dela e afastá-la daquele Moroi. A sensação era tão desnorteante que eu sentia minhas têmporas latejarem.
“Eu tenho tempo agora.” Ela falou suavemente para Adrian, que pareceu receber de bom grado a insinuação dela. Depois, Rose me olhou fingindo inocência, enquanto se afastava pelo corredor. “Vejo você depois, Guardião Belikov.” Ela sorriu e deu um pequeno aceno. Ela estava claramente me provocando. E estava conseguido. Eu não sabia o que pensar daquilo.
Eu observei Rose se afastar com Adrian, sem conseguir tirar os olhos dela, até que eles dobraram no corredor. A princípio, tive um impulso de sair seguindo os dois e quem sabe até arrastar Rose para longe dele, mas logo o senso do ridículo me bateu. Eu não podia fazer isso. Mas ainda sentia os efeitos do ciúme me dominando. Aquela sensação era terrível e eu nunca tinha sentido assim tão forte. Minha garganta estava seca e minha vista turva. Meu estômago revirava e eu tinha a impressão que nunca mais ia conseguir pensar racionalmente de novo. Eu precisava fazer algo e então uma idéia me surgiu.
Sai andando rápido pelo corredor, seguindo a direção oposta a deles, passando pelas pessoas que ainda estavam apavoradas devido ao novo ataque dos Strigois. Cada grupo, cada conversa só tinha este assunto e o medo tinha tomado conta de todos. Eu passei por todo mundo como um borrão. Segui para a ala da segurança e entrei na sala onde eram feitos os monitoramentos das câmeras de segurança espalhadas pelo hotel. Cada espaço comum, cada salão, cada corredor era monitorado ali. À exceção dos quartos, pois os hóspedes precisavam ter uma certa privacidade. Era uma sala com uma parede coberta de telas LCD, onde imagens se alternavam a cada momento. As câmeras eram de alta definição e podíamos ver tudo nos mínimos detalhes.
Na frente das telas tinham quatro ilhas de observação, que eram basicamente mesas com computadores e mais telas onde um operador gravava e observava tudo. Apenas um guardião estava ali e para sorte minha, era um que eu tinha bastante proximidade. Mark. As demais ilhas estavam vazias. A maioria dos alunos estava acompanhada por seus pais, então, esse tipo de monitoramento não era tão necessário.
Assim que entrei na sala, como um imã, meus olhos pararam em uma das telas onde Rose, Adrian, Lissa, Christian e mais um grupo de colegas conversavam.
“Olá Mark. Eu preciso monitorar a Princesa, mas não posso segui-la. Será que eu poderia usar uma destas ilhas?” Perguntei ainda tentando controlar minha respiração e parecer convincente.
“Claro, Belikov. Venha, eu lhe mostro como funciona.”
Ele me apontou uma das mesas do canto e me deu rápidas instruções do seu funcionamento. Ensinou como trocar as imagens de uma câmera para outra, como gravar e como usar o zoom.
“Este botão aproxima e este afasta. Você vai poder segui-la por todo hotel, a menos que ela entre em algum quarto.”
Eu agradeci e ele me deixou ali, sozinho, olhando para as telas. Eles ainda conversavam parados no corredor. Pouco tempo depois começaram a seguir na direção do SPA. Era um local cheio de piscinas térmicas naturais, que ficavam no subsolo do hotel, apesar de ser construído de pedra rústicas, era elegantemente decorado. Vários Morois da alta elite se divertiam e bebiam, aparentemente era uma festa particular. Eu não podia acreditar que estávamos vivendo o terror de um novo ataque Strigoi, um maior do que dos Badicas e Rose estava indo se divertir em uma festa. Uma festa de Morois ricos. Observei quando ela saiu do vestiário, juntamente com Lissa, vestindo apenas um biquíni marrom. Eu apliquei um zoom na imagem para poder observá-la melhor. Ver Rose em trajes mínimos definitivamente não me fez bem. Toda sensação que eu experimentei naquele feitiço lançado por Victor voltou a mim. Se eu fechasse meus olhos era como se eu pudesse tocá-la a qualquer momento. Tentei afastar aqueles pensamentos e me voltei para a imagem na minha frente. Rose e Lissa estavam sozinhas em uma das piscinas e eu agradecia mentalmente por Adrian não estar por perto. Ele estava longe delas, em um grupo cheio de garotas. Pouco tempo depois, os demais colegas da Academia delas vieram e se juntaram eles conversavam e Rose bebia. Novamente um comportamento imprudente. Mesmo assim, eu agradecia mentalmente por Adrian não estar com ela.
Meu desejo era monitorar cada segundo daquela festa, mas eu não pude observar por mais tempo. O telefone da sala tocou e a realidade voltou para mim.
“Boas e más notícias.” Mark respondeu colocando o telefone na base. “O endereço de Spokane era falso. O número da cada não existia. Mas novas evidências surgiram, estamos cada vez mais perto de descobrir o esconderijo deles.”
Senti o senso de responsabilidade voltar para mim. Eu tinha deixado tanto o ciúme tomar conta de mim que tinha esquecido completamente que deveria voltar ao meu posto depois da reunião dos Morois e continuar ajudando nas investigações.
“E que evidências seriam estas?”
“Algumas ligações foram interceptadas e estão sendo rastreadas.” Ele me deu um olhar cheio de esperança. “Você acha que o Conselho dos Guardiões vai autorizar o ataque aos Strigois?”
“Difícil dizer, mas acho provável. Todos estão sendo pressionados a agir.” Eu dei uma nova olhada para tela e Rose ainda conversava na piscina. “Eu deveria voltar ao meu posto agora. Acho que a Princesa não entrará em problemas.”
Mark olhou para a parede onde as telas alternavam imagens do hotel. “Eu fico de olho para você. Esses garotos. Mal imaginam o que lhes esperam.”
Eu agradeci e sai direto para o quarto de Janine, onde o trabalho não parava. Peguei os relatórios e me inteirei dos novos fatos, mas não havia nada de diferente do que Mark havia dito. Eu ainda me sentia a fadiga me tomando e também profundamente irritado com toda aquela situação que Rose estava e não me sentia muito disposto a cooperar ali. Então, como eu tinha um novo turno começando em poucas horas, resolvi ir ao meu quarto, descansar um pouco para retornar ao trabalho.
Eu estava esperando o elevador, quando a voz de Tasha ecoou pelo corredor. E, pela primeira não me senti nada animado em falar com ela. Ok, eu estava muito irritado com Rose e podia estar misturando tudo, por isso, me esforcei para ser simpático. Ou pelo menos, não irradiar irritação.
“Dimka! Ai está você. Estou lhe procurando há horas e não lhe encontrei em lugar algum. Você saiu de repente da reunião e eu não lhe vi mais.” Seu tom era extremamente leve e descontraído. Mesmo sem sugerir uma cobrança, eu não gostava de alguém tentando me controlar.
“Bem, Tasha, estou aqui a trabalho. Estava em serviço até agora.” Não deixava de ser verdade, já que eu estava tecnicamente vigiando o ambiente onde Lissa estava.
“Você trabalha demais, Dimka. Eu já disse a você –“
O elevador finalmente chegou a interrompendo. Eu fiz sinal que ia entrar, mas Tasha colocou a mão na frente, me impedindo de passar, com um olhar crítico “Onde você pretende ir? Ah não, não me diga que vai se trancar no quarto de novo? Dimka! Você está em uma maravilhosa estação de sky! Não pode ficar trancado em um quarto lendo livros.”
“Eu não estou aqui como hóspede, Tasha.” Falei, lutando para não soar impaciente, mas tudo que eu menos queria era conversar. Ainda mais sobre meus hábitos. Eu considerava os meus livros uma grande diversão. Mas o que eu queria mesmo era ficar só. “Eu estive em serviço até agora e estou escalado para o próximo plantão. Queria descansar um pouco, antes disso.”
“Eu poderia –“ Ela começou a falar suavemente, mas o outro elevador abriu, a interrompendo novamente. Só que, dessa vez, uma pessoa inesperada colocou o rosto para fora e, quando nos viu ali, saiu. Adrian Ivashkov. Definitivamente, era a última pessoa que eu queria ver. Ele usava um roupão felpudo de banho e chinelos, que só de olharmos dava pra saber que era coisa cara, mas não deixava de ser totalmente inapropriado para as áreas comuns de um hotel luxuoso daqueles. Provavelmente vinha de sua festa particular nas piscinas térmicas. Senti meu espírito se remexer dentro de mim de forma ruim. Eu não gostava dele, principalmente não gostava dele por ter visto ele com Rose.
Ele saiu do elevador sorrindo presunçosamente. Olhou para mim e para Tasha, depois puxou do bolso de seu roupão um maço de cigarros.
“Como vai Lady Ozera, quanto tempo.” Ele falou inclinando a cabeça na direção de Tasha e depois me olhou. “Guardião Belikov. Parece que hoje é o dia de nos encontrarmos. Já é a segunda vez, não? Sempre que lhe vejo, informações interessantes surgem.” Ele falou acendendo um cigarro, como se olhasse em torno de mim e de Tasha e eu confesso que não entendi essas últimas palavras e nem o seu olhar. Mesmo assim, não estava com paciência para ninguém, muito menos para ele, então, coloquei minha máscara fria e dura de guardião.
“Não é permitido fumar nos corredores, Lord Ivashkov. Aconselho que procure uma área aberta e arejada para fazer isso.”
Adrian, obviamente, ignorou o que eu falei. Antes, deu uma longa tragada e depois soltou lentamente a fumaça na minha direção, em um claro gesto de deboche. Eu permaneci olhando para ele, friamente, sentindo o cheiro forte do seu cigarro de cravos da índia invadir meu nariz.
“É um mau hábito, como diz Rose.” Ele falou dando um sorriso misterioso. “Ah, Tasha, devo dizer, de alguma forma, você está resplandecendo como o ouro agora.” Ele disse com ar arrogante, embora sua voz saísse sedutora. Meu estômago se revirou ao ouvi-lo pronunciando o nome de Rose. Tasha sorriu e deu um passo até ele.
“Guarde seus galanteios, Adrian. Eles não funcionam em mim. Não gosto de pessoas presunçosas.”
Se ainda era possível, a postura de Adrian se tornou ainda mais superior, enquanto um sorriso preguiçoso surgiu em seus lábios.
“Ora, ora, ora... quem está sendo presunçosa agora? Não foi um galanteio. Foi uma constatação de um fato. Você não faz o meu tipo.” Ele olhou para mim, ainda sorrindo e acrescentou. “Nada contra as mais velhas, mas as mais jovens têm sido mais interessantes, você sabe. Rose, por exemplo, é uma garota devastadora, apesar da idade.”
Tasha pareceu não notar a ironia nas palavras dele. Sinceramente, eu nem sei se havia ironia ou se era uma paranóia minha. Talvez não, eu não sabia dizer o quanto ele tinha ouvido quando eu estava conversando no corredor com Rose.
“É eu sei disso. Eu soube do que você fez com Rose uma noite dessas.” A voz de Tasha era feroz, como tinha sido na reunião, que ela tinha praticamente liderado mais cedo. Ela olhou para mim. “Christian me contou que todos estão comentando que ele deixou Rose embriagada uma noite dessas, na varanda que dá para o pátio da pista de sky.”
Eu senti o ciúme me tomar. Era a primeira vez que eu estava ouvindo aquela história. Eu não queria acreditar que aquilo fosse verdade, mas eu tinha visto Rose bebendo na piscina, então tinha um certo fundamento. Eu me perguntava o quê Rose tinha com esse pedante da realeza e quando isso tinha começado. Definitivamente, eu não podia deixar Rose sem monitoramento. Dois dias que me mantive afastado, esse Adrian Ivashkov surge diante dela.
“Rose é uma boa garota, e eu gosto muito dela, não vou admitir que você a use, como faz com tantas outras. Ela não será mais um troféu na sua estante.” Tasha continuou defendendo Rose e eu me surpreendi. Eu não imaginei que ela gostasse tanto de Rose assim. Soava um tanto quanto estranho, não natural.
Eu esperava mais uma risada sarcástica de Adrian, que não veio. Em um gesto tão desrespeitoso, como espontâneo, ele jogou o cigarro no chão e o pisou. Quando ele olhou novamente para Tasha, não havia qualquer resquício do Adrian despreocupado que falava conosco há pouco. Seu rosto era duro e sombrio, suas linhas se tornaram fortemente marcadas. Seus olhos verdes irradiavam algo negro, como se uma terrível tempestade fosse sair deles a qualquer momento.
“Você? Você?” Ele exclamou com um tom totalmente descontrolado. “De todas as pessoas?” Os olhos dele pararam por breves segundos na cicatriz do rosto de Tasha, a analisando. “Deveria saber que não se deve propagar boatos. Muitos deles, não têm fundamentos - são mentiras. Já outros. Podem muito bem ser verdade. Dependendo do quanto conhecemos seus personagens, temos como saber. É fácil detectar mentiras, quase sempre.”
Ele virou rapidamente seu rosto para o lado, respirando pesadamente, pegando novamente um cigarro, o acendeu, sem nos encarar. Quando ele retornou, seu usual porte de arrogância tinha voltado.
“Eu sinto por ter interrompido a conversa de vocês. Preciso ir agora. Tenham uma boa noite.” Ele disse com desdém e saiu andando pelo corredor. Tasha me olhou pasmada.
“O quê foi isso?” ela perguntou com os olhos arregalados.
“Não sei.” Falei pensativo, me perguntando se Tasha tinha usado essa oportunidade para me fazer saber do que estavam falando sobre Rose, já que ela sabia que eu não gostava de fofocas e não daria ouvidos se ela viesse simplesmente me contar. Essa idéia me aborreceu. Muito.
“Ah, deixa para lá. Onde estávamos?” Tasha falou, jogando os braços no meu pescoço e levando os lábios até os meus. Em uma atitude quase mecânica, eu segurei seus punhos, me esquivando de seu abraço.
“Eu realmente preciso descansar, Tasha. Vejo você mais tarde.” Falei secamente, começando a andar pelo corredor. Eu tinha decidido ir de escada. Ela ainda andou uns passos atrás de mim.
“Não vai ter mais tarde, Dimka. Você estará trabalhando, lembra?”
“Então, eu vejo você amanhã.” Apressei os meus passos e virei no corredor, à esquerda, sem olhar para trás.
Apressadamente, saímos do quarto de Adrian. Lissa e Rose pareciam surpresas e assustadas com aquela mudança repentina dele. Eu mesmo não tinha entendido nada, ou melhor, nada com relação ao seu humor. Mesmo assim, achei melhor pensar que era mais uma excentricidade de um garoto rico, que tinha tudo que queria, como tantos que a gente via por aí.
“Isso foi... estranho.” Rose falou, enquanto caminhávamos na direção do lobby. Era o que eu pensava também.
“Muito.” Falei ainda me sentindo intrigado com aquelas palavras dele. Eu sabia que ele tinha ouvido alguma parte da conversa que eu e Rose tivemos no corredor, mas ainda assim, me perguntava como ele tinha chegado a tantas conclusões certeiras. Ele não parecia ser muito observador, ao contrário, agia até com um certo descaso, como então tinha visto tanta coisa relacionada a meus sentimentos? Todo dilema que eu passava com Tasha e Rose... ainda por cima deixou claro as intenções dele. Mas outra coisa me intrigava. Qual relação que Rose tinha com ele? De onde e quando tinha surgido tudo isso?
Quando chegamos ao lobby, Rose e Lissa começaram a seguir para o quarto. “Rose,” eu chamei impulsivamente, “posso falar com você?” Ela e Lissa se entreolharam, enquanto um grupo de Morois passava por nós, era um grupo que partia do resort, como tantos outros, apavorados com Strigois. Nós paramos em uma entrada perto dos aposentos e Rose ainda observava o agito das pessoas que saíam do hotel.
“Aquele é Adrian Ivashkov.” Falei, sem conseguir esconder o repúdio que eu sentia por ele.
“É, eu sei.” Ela respondeu diretamente, sem se delongar. Eu tinha vontade de pressioná-la para que ela respondesse tudo que eu queria saber sobre eles dois, mas definitivamente, aquela não era uma boa idéia, então, tateei com as palavras.
“É a segunda vez que vejo vocês juntos.” Tentei soar casual, esperando que ela desenvolvesse melhor a resposta dessa vez.
“É. Nós nos encontramos, às vezes.” Eu arqueei minhas sobrancelhas, sentindo a surpresa passar por mim. Eles se encontravam? Apesar da resposta dela continuar vaga, aquela informação fez algo ruim mexer dentro de mim.
“Você vai muito ao quarto dele?” Perguntei fingindo calma, inclinando a cabeça na direção do quarto de Adrian.
Os olhos de Rose acenderam em uma malícia que eu conhecia bem. Um leve sorriso saiu dos seus lábios. Ela me olhou diretamente nos olhos e colocou uma firmeza na voz que me surpreendeu. “O quê acontece entre mim e ele não é da sua conta.” Eu reconheci imediatamente aquela resposta. Tinha sido a mesma que eu dei a ela, quando ela me questionou sobre Tasha. Ela tinha copiado o meu tom de voz também, fazendo com que eu me sentisse um idiota. E então, como um verdadeiro idiota, falei uma das maiores bobagens.
“Na verdade, enquanto você freqüentar a Academia, o que você faz é da minha conta, sim.”
“A minha vida pessoal não. Você não tem direito a opinião alguma sobre ela.” Rose, parecia ter percebido que eu tinha perdido a razão e me deu uma resposta segura. Ela tinha razão, mas eu não conseguia mais conter meu incômodo.
“Você não é uma adulta ainda.” Falei duramente e impulsivamente. Eu sabia que aquele era um assunto que a machucava, e esperei que ela perdesse um pouco daquele ar de superioridade que ela tinha, apesar de estar certa. Eu não podia opinar sobre sua vida pessoal.
“Eu estou bem perto disso. Além do mais, não é como se eu fosse magicamente me tornar uma adulta no dia do meu aniversário de dezoito anos.”
“Isso é óbvio.” Soltei sem pensar em quão duro isso saiu, até que percebi seu rosto ficar vermelho. Aquilo tinha mesmo desmontado Rose.
“Não foi isso que eu quis dizer... eu quis dizer que-“ A voz dela tinha perdido toda firmeza de poucos minutos atrás.
“Eu sei o quê você quis dizer e os detalhes técnicos não importam agora.” Eu a cortei, me recusando a começar uma nova discussão sobre maturidade. Eu estava mais interessado em saber sobre o relacionamento dela com Adrian Ivashkov e mantê-la longe dele. “Você é uma aluna da Academia. Eu sou o seu mentor. É o meu trabalho lhe ajudar e manter você longe de problemas. Estar no quarto de alguém como ele... bem, não é seguro.”
“Eu sei como lidar com Adrian Ivashkov.” Ela murmurou, ainda chateada. “Ele é estranho – realmente estranho – mas inofensivo.”
Novamente, me senti péssimo. Ouvir da própria Rose que ela sabia como lidar com alguém como Ivashkov era algo que me feria.
“Por falar em vidas pessoais...” Ela continuou falando, sem perceber o quanto eu tinha me importado com aquilo. “Eu suponho que você estava indo visitar Tasha, hum?”
“Na verdade, eu estava vendo a sua mãe.” Respondi quase que mecanicamente, sem mais cabeça para entrar em uma nova discussão.
“Você vai ficar com ela também?”
Era claro que Rose não estava falando sério, então eu me limitei a lhe dar um olhar cansado. Era realmente impressionante com ela agia e falava sem pensar quando o assunto era Tasha.
“Não. Estávamos olhando alguns dados novos sobre o ataque dos Strigois aos Drosdovs.”
Ela me deu um olhar sério, com a responsabilidade passando pelo seu rosto. Essa era uma das coisas que eu mais admirava em Rose. quando se tratava do dever, ela era extremamente séria e amadurecida. Eu sempre sentia que podia conversar sobre assuntos de guardiões abertamente com ela.
“O quê vocês descobriram?”
“Nós conseguimos rastrear alguns Strigois. Ou pelo menos, os humanos que estavam com eles. Algumas testemunhas que moravam perto, viram os carros que o grupo usou. As placas eram de diferentes estados – o que nos levou a crer que o grupo se dividiu, para dificultar tudo. Mas uma das testemunhas anotou o número da placa. Está registrada em um endereço de Spokane.”
“Spokane?” ela perguntou com incredulidade . “Spokane, Washington? Quem escolhe Spokane para se esconder?”
“Os Strigois, ao que tudo indica. O endereço era falso, mas outras evidências mostraram que eles estiveram mesmo lá. Tinha meio que um shopping com túneis subterrâneos. Strigoi foram vistos na área.”
Rose franziu seu rosto. “Então... Você vai atrás deles? Alguém vai? Eu quero dizer, era isso que Tasha estava dizendo o tempo todo... se nós sabemos onde eles estão...” Ela soava empolgada, como se quisesse partir para o ataque junto conosco. Muitos guardiões também estavam assim, inclusive eu, mas sabíamos que não podíamos ir sem ter certeza de tudo.
Eu neguei com a cabeça, o que Tasha estava propondo naquela reunião era impraticável, pelo menos atualmente. “Os guardiões não podem fazer nada sem a permissão dos superiores. Isso não vai acontecer tão cedo.”
Ela suspirou impaciente. “Porque os Moroi falam muito.”
“Eles só estão sendo cuidadosos.”
“Vamos lá. Nem você pode querer ser tão cuidadoso. Você sabe onde os Strigois estão escondidos. Strigois que massacraram crianças. Você não quer ir atrás deles quando eles menos esperam?”
O pior era que eu queria, mas não podia falar isso abertamente para Rose. eu tinha o dever de ensiná-la a ser racional.
“Não é tão fácil. Nós respondemos ao Conselho dos Guardiões e ao Governo Moroi. Nós não podemos só fugir e agir impulsivamente. E, de qualquer forma, nós ainda não sabemos tudo. Você nunca deve entrar numa situação sem saber os detalhes.”
“Lições de vida Zen, de novo.” Ela suspirou, colocando os cabelos atrás da orelha. Eu observei fascinado aquele gesto casual dela e, por um segundo, o mundo pareceu perfeito. “Porque você me contou isso?” Ela continuou. “Isso é coisa de guardiões. Não é o tipo de coisa que se conta aos aprendizes.”
Senti um enorme carinho por ela tomar conta de mim e, de repente, toda aquela pirraça que tínhamos um com o outro pareceu tola. Não tinha como eu não gostar dela. Eu me sentia realmente arrependido por ter brigado tanto com ela, por ter dito tantas coisas duras a ela.
“Eu disse algumas coisas... o outro dia e hoje... que eu não devia. Coisas que insultaram a sua idade. Você tem 17 anos... mas você é capaz de lidar e processar a mesma coisa que pessoas muito mais velhas que você.”
O rosto dela se tornou doce e amável. Um suave sorriso apareceu em seus lábios e eu confesso que essa era uma das visões que eu mais gostava de ter.
“Verdade?”
Eu acenei. “Você ainda é bem jovem em vários sentidos – e às vezes age de modo imaturo – mas o único jeito de mudar isso é tratar você como adulta. Eu preciso fazer mais com mais frequência. Eu sei que você vai ouvir essa informação, entender o quão importante ela é e mantê-la para si.”
“Dimka!” Eu virei e vi Tasha se aproximando pelo corredor. Ela parou ao nosso lado, sorrindo. “Olá, Rose.”
Rose cruzou os braços, fechando o rosto. “Hey.”
Eu ainda estava analisando a atitude de Rose, quando senti os dedos de Tasha percorrendo meu braço direito, então, lhe dei um olhar de relance.
“Você está com aquele jeito de novo.” Ela falou, em um tom provocativo. Eu sabia o que viria dela e sabia que o que ela diria. Tasha estava insistindo há muito tempo para que eu desse uma pausa no trabalho e me divertisse um pouco.
“Que jeito?” perguntei segurando um sorriso.
“Aquele jeito que você diz que estará trabalhando hoje.”
“Verdade? Eu tenho um jeito de dizer isso?” Aquilo era novo para mim, eu realmente não sabia que demonstrava isso de alguma forma. E era isso mesmo. Eu tinha muito trabalho para fazer e já tinha passado muito tempo vigiando Rose.
Eu olhei para Tasha sorrindo ao meu lado e senti a tensão que tinha mais cedo com Rose me deixando, Tasha realmente era bem mais leve e agradável, mas estranhamente, eu ainda preferia a companhia de Rose.
Tasha acenou. “Quando o seu turno realmente acabou?”
Senti o constrangimento tomar conta de mim. Eu tinha prometido a Tasha na noite anterior que me encontraria com ela, e eu tinha me esquecido completamente disso, tinha me absorvido nos assuntos do ataque aos Drosdov que nem tinha percebido que já estava trabalhando muito além do que me era requerido.
“Há uma hora.”
“Você não pode continuar fazendo isso. Você precisa de um descanso.”
“Bem... se você considerar que eu sou sempre o guardião de Lissa...”
“Por enquanto.” Tasha falou e eu senti o propósito na voz dela. Eu olhei rapidamente para Rose que nos assistia com um olhar quase fatal. “Tem um enorme torneio de sinuca acontecendo lá em cima.” Tasha acrescentou rapidamente, soando como um convite.
“Eu não posso.” Falei, mas a ideia de espairecer um pouco estava me contagiando. Os meus últimos dias tinham sido totalmente tensos e cansativos. “Só de pensar que eu não jogo há tanto tempo...”
“Então vamos.” Tasha implorou. “Só uma rodada! Nós podemos derrotar todos eles.”
“Eu não posso.” Eu repeti, embora realmente tivesse com vontade de ir àquele torneio. Mas eu tinha alguns assuntos para resolver com Alberta. “Não com tudo que está acontecendo.”
Tasha se deu por vencida. “Não, não pode. Você está certo.” Então, ela finalmente lembrou que Rose estava ali, e olhando para ela, disse em um tom simpático “Eu espero que você saiba que excelente exemplo de comportamento você tem aqui. Ele nunca abandona o dever.”
“Bem, eu sei. Por enquanto, pelo menos.” Rose respondeu, fingindo uma alegria que eu sabia bem que ela não sentia. Tasha pareceu surpresa. Eu olhei profundamente para Rose, de forma que ela soubesse que eu tinha entendido aquela ironia dela. De fato, Rose não perdia uma. Não importava o que isso significava, não importava no que isso resultasse, ela sempre tinha que ser tempestiva.
“Nós terminamos aqui, Rose. E lembre-se do que eu lhe falei.” Eu cortei o assunto, usando um tom típico de professor, para não correr o risco de entrarmos em uma séria discussão, bem ali, na frente de Tasha.
“Ok.” Ela falou se virando e se afastando, sem olhar para trás. Meus olhos a seguiram até que ela virasse pelo corredor. Por mais impertinente que Rose fosse, eu gostava de estar perto dela e sempre que ela saía, um grande vazio tomava conta de mim. Ainda permaneci por algum tempo olhando para frente e repassando todo aquele acontecimento do quarto de Adrian, até que Tasha passou a mão na frente do meu rosto.
“Hey, Dimka.” A voz dela era suave, perto do meu ouvido. “Ela já foi. Rose é realmente uma garota diferente.”
Eu olhei para Tasha, tentando colocar meus sentimentos em ordem.
“Diferente?”
“Sim. Eu ainda não consigo entender porque ela está me tratando assim. Ela me pareceu tão amável quando nos conhecemos, mas ultimamente se tornou bem arisca.”
“Eu já disse a você para não se preocupar com Rose.” Falei, tentando manter meu tom simpático.
“Eu sei, ela é só uma menina, que não sabe lhe dar com os sentimentos. Tem muito que ver e viver ainda.”
Eu ergui uma sobrancelha, tentando entender onde Tasha estava querendo chegar.
“Eu digo,” Tasha acrescentou rapidamente “certamente ela já deve ter ouvido sobre você deixar a Academia. Não deve ser fácil para ela perder o mentor. Ao que parece, Rose não tem muitas pessoas na vida para receber afeto delas. Não conhece o pai, não tem irmãos, seu relacionamento com a mãe é péssimo. É natural que se apegue a você.”
“Eu não acho que Rose seja muito sentimental, Tasha. E, além do mais, ela é bem madura para a idade. Ela entende bem a diferença entre o dever e a diversão.” Falei, soando evasivo “Em pouco tempo, ela será exatamente como um guardião precisa ser.”
“Claro que será. Você já pensou para quem irá passar o treinamento dela, quando você deixar a Academia? Certamente devem existir guardiões excelentes para dar continuidade a isso.”
Eu demorei poucos segundos para entender aquelas palavras. Tasha soava como se minha decisão tivesse tomada.
“Eu ainda não pensei nisso, até porque não decidi se vou deixar a St. Vladmir. Eu não tive tempo para isso, com todos esses acontecimentos.”
Tasha deu uma gargalhada e eu a olhei confuso “Eu nunca consigo lhe pegar em uma ato falho, não é Dimka?” Ela se recompôs rapidamente do sorriso e me olhou seriamente “Eu sei que sua decisão não está tomada.”
Eu permaneci calado por alguns momentos “Eu preciso ir agora, Tasha. Tem algumas informações que preciso reportar a Alberta. Poderemos conversar mais tarde, terei uma folga essa noite.”
“Mais tarde? Dessa vez, quem não pode sou eu. Priscilla Voda está dando um banquete e eu terei que ir, todos da realeza estarão presentes. Não é algo que eu goste muito, mas preciso marcar minha presença. Você não quer me acompanhar?”
“Acho que não seria muito apropriado.” Falei, dando um aberto sorriso. Definitivamente, dhampirs não eram bem vindos como convidados em um evento desses. Somente guardiões em serviço tinham livre acesso. Lissa era convidada para esse jantar, mas como era um lugar extremamente vigiado e eu estava em serviço há mais de dois dias seguidos, Alberta tinha me dispensado.
“Não por mim.” Ela respondeu sorrindo também.
Eu e Tasha nos despedimos com breves acenos e eu segui para o local onde Alberta estava. Apesar de me descontrair com a conversa de Tasha, eu ainda não conseguia tirar da minha cabeça o envolvimento de Rose com Adrian.
Eu tinha planejado começar a ler um livro naquela noite, já que seria minha folga, mas eu fui escalado como um dos guardiões trabalharia no jantar. Em uma conversa com Alberta, consegui convencê-la que eu deveria trabalhar naquela festa, já que Lissa era uma das convidadas e também a minha protegida.
Eu terminei de vestir meu uniforme de guardião, que consistia em uma calça preta, camisa social e uma jaqueta social, também preta. Eu me olhei no espelho, tentando prender meu cabelo de forma apresentável. Eu realmente gostava de usar essa roupa.
Passei pelos corredores do hotel, que estavam bastante calmos. Era noite para os vampiros e a maioria das pessoas estava dormindo. Fui até a sala onde os guardiões iriam se reunir para receberem as últimas instruções, antes de partimos para o banquete. Também recebemos rádios de comunicação. Prendi o meu no cinto, perto das minhas costas, e puxei o fone por dentro da camisa, prendendo no meu ouvido direito. Quando chegamos ao salão nobre do hotel, poucos convidados já estavam presentes. Eu me posicionei discretamente em um dos postos que foram delimitados pela segurança e fiquei olhando diretamente para a porta, totalmente alerta. Dificilmente algum Strigoi atacaria ali, mas diante de todos os acontecimentos recentes, em todas as ocasiões a vigilância estava redobrada.
O banquete acontecia em um dos salões mais elegantes do resort, situado no último andar. Ele era completamente cercado por varandas que davam para imensos jardins de inverno. Internamente, estava impecavelmente ornamentado. Rapidamente, o salão começou a encher. Os convidados de Priscilla Voda eram somente Morois da alta realeza. Todos que estavam hospedados no hotel, estavam presentes e outros tinham vindo somente para esse evento. Eu avistei Tasha chegar e se sentar em um dos lugares marcados para ela. Não era um dos mais privilegiados, mas somente em ela estar presente já era um grande ganho, tendo em vista a reputação da sua família. Ela me deu um breve aceno de longe. Antes que eu pudesse responder, minha atenção foi atraída para a entrada. Lissa havia chegado e, para minha surpresa, estava acompanhada por Rose. Aquilo fez com que eu baixasse completamente minha guarda. Como sempre, fui terrivelmente golpeado pela sua beleza, antes de qualquer coisa. Ela usava o vestido que Tasha havia comprado para ela de presente de natal. Quando eu vi aquele vestido no shopping, nem de longe podia imaginar o quão perfeito ele ficaria em Rose. Apesar de não ter qualquer espécie de decote, ele marcava muito bem o copo dela, revelando suas formas perfeitas, a deixando incrivelmente sexy. Os seus cabelos estavam soltos, caindo delicadamente por seus ombros e costas. Ela também estava cuidadosamente maquiada. Dizer que ela estava estonteante era pouco.
Percebi que muitos e muitos olhares se voltaram para ela, não só pelo fato dela estar lindíssima, mas também por ser a única dhampir como convidada da festa. Pude ouvir até os próprios guardiões comentaram, por meio do rádio. Lissa realmente tinha sido muito corajosa em ter levado sua amiga. Confesso que eu esperava que ela fosse com Christian e eu me perguntava o que tinha acontecido com ele, que não estava ali.
O fato era que eu não conseguia parar de olhar para Rose e nem queria parar de olhar. Era uma das melhores visões de se ter. Permaneci a observando por um longo, longo tempo. Ela não me notou ali, talvez por estar tensa e demonstrar isso. Os da realeza sempre podiam ser muito intimidadores e isso estava sendo refletido no comportamento de Rose. Quando o jantar terminou, vários grupos se formaram e Lissa puxou Rose para circular pela festa, parando entre vários Morois, que pareciam conversar algo controverso, enquanto Rose parou perto de uma pilastra a assistindo a tudo, porém sem participar de nada. Eu segui atentamente cada gesto seu, até que uma garçonete passou perto a ela e lhe ofereceu algo. Para meu desespero, percebi quando Adrian também se aproximou. Ele parecia ter surgido do nada e a própria Rose não havia notado que ele estava quase ao seu lado.
Senti meu corpo ficar tenso e rapidamente pensei em uma maneira de me aproximar deles. Entrei novamente para o corredor, onde ficava o acesso ao salão e, usando uma das entradas de serviço, passei para o lado de dentro, passando discretamente pelas áreas e subindo aos mezaninos utilizados pelos guardiões para observar tudo, sem ficar muito à vista dos Morois. Em outros eventos, estes espaços eram utilizados como camarotes. Mas agora, com estes últimos ataques de Strigois, toda arrumação do salão era feita de forma que todos se divertissem sem pensar nos perigos que os cercavam. Isso incluía colocar guardiões em pontos estratégicos e quase escondidos. Nada lembrava que Strigois existiam.
Aos poucos, me aproximei o máximo que pude e encontrei um pequeno mezanino, que estava situado praticamente em cima de onde ela estava com Adrian. Inclinei meu corpo o máximo que pude, me apoiando nos cotovelos. Nem um, nem outro parecia me notar ali, bem acima deles. Eu, ao contrário, afiei meus ouvidos para para ouvir o que eles conversavam.
“Você concorda com ele?” Rose perguntou a Adrian “Que será um suicídio se os Morois lutarem?”
Adrian bebeu um longo gole da sua taça. “Eu não tenho uma opinião sobre isso”. Ele disse despreocupadamente.
“Isso não é possível! Como você pode não se posicionar?” A voz de Rose saiu bastante indignada.
“Não sei. Só não é algo com o qual eu me preocupe. Eu tenho coisas melhores a fazer.”
“Como perseguir a mim e a Lissa.”
Ele sorriu de novo. “Eu disse, é você que está me seguindo.”
O tom de Adrian era presunçoso, com sempre, mas eu realmente não estava gostando do caminho que ele estava tentando conduzir aquela conversa.
“É, é, eu sei. Cinco vezes –” Rose respondeu e parou abruptamente. “Cinco vezes?”
Adrian acenou.
“Não, só foram quatro.” A voz de Rose era totalmente intrigada. “A primeira noite, a noite no SPA, quando eu fui pro seu quarto, e agora.”
Senti meu estômago revirar. Ela estava listando as vezes que eles estiveram juntos. Aquilo me incomodou profundamente e senti o ciúme me tomando novamente. Respirei fundo e fechei meus olhos, tentando trancar tudo dentro de mim.
“Se você diz.” Ele falou misteriosamente.
“É o que eu digo...” As palavras dela eram muito baixas e eu me esforcei ao máximo para ouvir. “Você não pode estar querendo dizer...”
“Dizer o que?” Adrian perguntou de forma esperançosa. Eu confesso que não conseguia entender nada dessa parte.
“Nada.” Ela respondeu, tomando um gole do champanhe.
“Porque você está sorrindo?” Adrian perguntou.
“Porque Lissa ainda está ali, falando com o pessoal.”
“O que não é surpresa. Ela é uma daquelas pessoas que podem encantar qualquer um que ela quiser, se ela tentar. Mesmo pessoas que a odeiam.”
“Eu me sinto assim, quando falo com você.”
“Mas você não me odeia,” ele disse, acabando com o champanhe. “Não de verdade.”
“Mas eu também não gosto de você.” Ela respondeu secamente e eu senti uma ponta de contentamento surgir em mim.
“É o que você diz.” Ele deu um passo em direção a Rose, ficando muito próximo a ela. Novamente, tive que respirar fundo. “Mas eu posso viver com isso.” Ele acrescentou.
“Rose!”
Eu levei apenas uma fração de segundo para perceber Janine se aproximando. A voz dela chamando o nome de Rose ecoou pelo salão atraindo a atenção das pessoas que estavam próximas a elas. Instintivamente, puxei meu corpo para passo atrás, de modo que só pude ouvir o que falavam. Eu podia ter passado despercebido para Rose e Adrian, mas Janine tinha olhos treinados de guardião e me veria ali facilmente.
“O que você acha que você está fazendo?” Janine praticamente gritou. Aquela reação dela me surpreendeu, já que o autocontrole era uma característica sua. Mas mesmo assim, eu agradecia mentalmente por ela ter aparecido e cortado a conversa de Rose.
“Nada, eu-“
“Nos de licença, Lord Ivashkov,” Janine rosnou. Eu dei uma olhada de relance e vi quando ela pegou Rose pelo braço e começou a levá-la para fora do salão. Enquanto elas saíam percebi os olhares de desaprovação das pessoas. Eu já podia imaginar o quanto essa atitude de Janine deixaria Rose irritada. Ou pior, o quanto deixaria Rose triste.
Sai rapidamente de onde eu estava e segui pelo caminho por onde elas foram. Parei há poucos metros delas, junto a uma larga coluna. Mesmo sabendo que aquela atitude minha não era muito correta, me esforcei para ouvir o que elas falavam, apesar de ser bastante difícil, pois apenas alguns fragmentos da conversa chegavam até mim e eu não conseguia formar uma ideia completa do que elas falavam. Janine ainda estava furiosa. Rose, como eu tinha pensado, parecia muito indignada.
A conversa delas durou poucos minutos e Janine estava muito enfurecida. Pessoalmente, eu não via razões para ela estar tão alterada. Apesar de sentir bastante ciúme por Rose estar conversando com Adrian, eu tinha que admitir que seu comportamento durante todo jantar foi irrepreensível. Sim, ela tinha chamado bastante a atenção das pessoas, mas tudo foi por fugir a uma regra. Não havia dhampirs convidados e a presença dela certamente incomodou alguns. E também ela não tinha culpa de ser tão bonita. Isso também despertava o interesse por outra parte.
Eu não podia observá-las diretamente, mas vi quando Janine se afastou, deixando Rose sozinha no corredor. No mesmo momento, a porta do salão, onde acontecia o banquete se abriu, e algumas pessoas saíram. Eram Morois que estavam perto quando Janine arrastou Rose para fora. Novamente, eles olharam para ela de forma desaprovadora, fazendo Rose se virar e andar rápido, com os ombros encolhidos e os braços em volta de si mesma. Percebendo que ela vinha na minha direção, dei um passo para trás da coluna. Ela passou sem olhar para os lados, e seu semblante desolado cortou meu coração.
Deixando toda minha racionalidade de lado, comecei a segui-la, sempre mantendo uma distancia segura, para não chamar a atenção dela e nem das outras pessoas que, eventualmente, passava por nós. Eu me perguntava para onde ela ia e o que pretendia fazer, ao mesmo tempo em que sentia uma necessidade enorme de estar com ela. Rose continuou andando até chegar à parte de trás do hotel, distante de qualquer movimentação. Ela parou em frente a uma porta eu continuei a observando de longe, enquanto ela hesitava. Definitivamente ela não parecia decidida sobre para onde queria ir. Ela estava andando aleatoriamente, conclui.
Ela entrou pela porta e eu esperei menos de dois minutos para fazer o mesmo. Ali tinha uma escada de serviço que levava a outra porta. Era o acesso a uma pequena laje, onde estava situado o sistema de ventilação do resort. Passei pelas escadas e respirei fundo, antes de abrir a segunda porta. Eu nunca sabia o que viria de Rose e nem o que esperar dela. Ela era imprevisível. E quando se tratava da sua mãe, ficava ainda mais inconstante. Passei para o lado de fora e me senti impactado com a imagem que vi. Nem o mais inspirado artista podia imaginar uma cena tão bonita. Era uma verdadeira pintura. A neve cobria toda a laje, deixando tudo branco em volta. Por outro lado, o sol brilhava no céu azul, com poucas nuvens e isso fazia com que a neve refletisse, quase como se fossem vidro. Rose estava sentada em uma das caixas de exaustão com o rosto voltado para o sol e, atrás dela, as montanhas completavam a paisagem. Assim que eu comecei a caminhar, ela virou para mim, com os seus olhos cheios de surpresa e incredulidade. Provavelmente, ela jamais esperaria que eu aparecesse ali. O vento frio batia no meu rosto e eu percebi que Rose estava completamente desagasalhada. Quando parei, tirei a minha jaqueta e coloquei em seus ombros e sentei ao seu lado.
“Você deve estar morrendo de frio.”
Ela não concordou. Claro. Antes, olhou para cima, de forma que os raios solares batessem no seu rosto.
“O sol está brilhando.”
Eu repeti o gesto dela, inclinando minha cabeça para cima, sentindo o sol entrar em meus poros. A sensação de quente e frio ao mesmo tempo era algo inexplicável.
“Sim, ele está mesmo. Mas ainda assim, nós ainda estamos no topo de uma montanha em pleno inverno.”
Ela não respondeu. Não era preciso. Muitas vezes eu sentia que não eram necessárias palavras entre nós. Ficamos ali, por um tempo, em um completo e perfeito silêncio. Era impressionante como a simples presença dela me fazia sentir tão bem.
“Minha vida é um desastre.” Ela falou finalmente.
“Não é um desastre.” Eu disse depressa. Ela não podia encarar as coisas com esse ponto de vista. Rose era a pessoa mais forte e determinada que eu já tinha conhecido. Sua capacidade de superação era impressionante e isso a fazia vitoriosa e não uma fracassada. Ela me olhou rapidamente, passando a vista pela minha roupa de guardião.
“Você me seguiu da festa?”
“Sim.”
“Eu nem sabia que você estava lá. Então, você viu a ilustre Janine fazer uma cena, me arrastando para fora do salão.”
“Não foi uma cena. Quase ninguém percebeu. Eu vi porque estava lhe observando.”
Percebi que o rosto de Rose se iluminou. Eu tinha passado as últimas horas me escondendo e a espreitando de longe, mas agora, tudo isso parecia uma grande bobagem minha.
“Não foi o que ela disse. Na opinião dela, era como se eu estivesse fazendo ponto, me oferecendo ali. Ela disse que eu estava vestida como uma vadia barata e disse que eu não deveria usar nada que marcasse tanto meu corpo. Também disse que eu estava flertando com Morois. Depois veio com uma conversa maluca sobre bebês. Que eu não estava pronta para ser mãe, que isso poderia arruinar minha vida. Ela fez soar como se eu saísse por aí dormindo com qualquer um.”
“Ela só está preocupada com você.” Falei, tentando soar razoável. Apesar de ser uma atitude exagerada dela, eu podia ver que tudo vinha de um instinto de proteção. Da sua maneira, Janine só queria o bem de Rose.
“Ela exagerou.”
“Às vezes, as mães são superprotetoras.” Eu falei, de repente lembrando da minha própria mãe.
Ela virou e me olhou diretamente. “Sei, mas estamos falando da minha mãe. Ela não parecia que estava querendo me proteger. Na verdade, ela pareceu estar mais preocupada que eu a fizesse passar vergonha, ou algo assim. E toda aquela conversa sobre eu ser nova demais para ter um bebê é bobagem. Eu não vou fazer isso.”
Eu confesso que senti meu coração bater feliz com essas palavras dela. Mas eu realmente sabia que Rose não era esse tipo de garota. Ela era bonita e atraente, mas isso não significava que ela não tinha maturidade para lidar com isso. Ela tinha. Muitas vezes, eu me via impressionado por ela parecer tão pura quando o assunto era esse.
“Talvez ela não estivesse se referindo a você.” Definitivamente, não estava. Ela deveria estar falando dela mesma. Novamente, o silêncio reinou entre nós e Rose se tornou profundamente pensativa. Eu fiquei ali ao lado dela, sentindo o perfume que ela usava vir até mim a cada brisa fria que soprava. Esses momentos tranqüilos entre nós eram raros e sempre que eles aconteciam eu procurava desfrutar deles ao máximo.
“Nós não estamos brigando agora.” Ela falou, depois de vários minutos. Eu olhei para ela de lado.
“Você quer brigar?”
“Não. Eu odeio brigar com você. Verbalmente, quero dizer. Eu não me importo quando estamos no ginásio.”
Senti o sorriso querer passar pelos meus lábios. Tentando não sorrir abertamente, continuei olhando de lado para ela. Eu sempre tinha que me segurar perto de Rose. A facilidade que ela tinha em me desvendar era algo que me assustava. Sempre, sempre eu tinha que erguer uma parede entre nós. Caso contrário, eu nunca resistiria a ela.
“Eu também não gosto de brigar com você.”
Ela se tornou novamente pensativa e quando falou, foi algo que me surpreendeu, como há muito tempo alguém não fazia.
“Você deveria aceitar.”
Eu hesitei por um momento, pensando o que vivia dela. “O quê?”
“A proposta de Tasha. Você deveria ir com ela. É uma boa oportunidade.”
Eu senti o choque correr por mim. Nunca, nunca pensei que ela me diria algo assim, ainda mais, com tanta naturalidade.
“Eu nunca esperei ouvir isso vindo de você. Principalmente depois de-“
“Depois de eu ter sido tão mesquinha?” Ela me cortou, mas não era bem isso que eu iria dizer. Eu pretendia dizer que ela estava se comportando como se não aceitasse isso. Que eu entendia a agressividade do seu comportamento, recentemente.
“Eu sei,” ela continuou, puxando ainda mais o meu casaco que a cobria. “Bem, como eu disse, eu não quero mais brigar com você. Eu não quero que a gente se odeie. E... bem...” Ela apertou os olhos e depois abiu. “Não importa como eu me sinto sobre nós... eu quero que você seja feliz.”
Senti meu peito doer com aquilo. Isso demonstrava o quanto ela sabia ser uma mulher incrível. Querer a minha felicidade, sacrificando a felicidade dela mesma, era algo sublime, aquela foi a melhor declaração de amor que ela poderia me dar. Eu coloquei o braço em volta dos seus ombros e a puxei para perto de mim. Não havia qualquer natureza sexual naquilo, somente um gesto de puro afeto, mas mesmo assim, aquela proximidade fez com que verdadeiras ondas elétricas passassem por mim. Eu queria beijá-la e gritar que a amava.
“Roza.” Foi só o que eu consegui falar. Eu me sentia paralisado e incapaz. Eu realmente não me sentia tão digno de receber dela tanto amor. Me senti péssimo por um dia ter cogitado deixá-la, péssimo por ter a magoado. Eu nunca poderia ir com Tasha. Eu não podia fazer isso. Eu não conseguiria fazer isso.
Nós ficamos ali, como se só nós bastássemos um ao outro. Aquilo parecia o natural e, visto assim, parecia tão simples. De repente, Rose se levantou e me entregou o casaco.
“Onde você está indo?” Perguntei, internamente desejando que ela ficasse mais um pouco.
“Partir o coração de uma pessoa.” Ela respondeu. Depois olhou para mim, seus olhos carinhosos percorrendo as feições do meu rosto. E, mais uma vez, senti meu coração arder por ela. Eu realmente queria que ela ficasse, mas, não me pergunte como, entendi que ela precisava ir. Ela se virou e saiu, enquanto eu observava cada passo seu até a porta.

Um comentário:

  1. Muito feio isso querida plagiar historia alheia viu. Vou postar sua pagina em todos as páginas que tenho e que conheço relacionado a VA e vou pedir para não acessarem. E vou divulga a verdadeira autora. Coisa feia isso dá processo tá querida.


    PS: Segue a página da verdadeira autora com todos os livos.

    https://fanfiction.com.br/u/87279/

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