segunda-feira, 1 de julho de 2013

PARTE 02

Eu levantei cedo, como de costume. A minha noite tinha sido péssima. Minha mente ficou assombrada pelas cobranças de Rose. Eu nunca gostei de negar o que quer que fosse a ela. E agora, que Adrian tinha conseguido convencer a rainha a aceitar a presença dela e de Lissa no julgamento, eu me sentia pior ainda. Eu entendia perfeitamente que a minha influência era infinitamente menor que a de Adrian, mas não conseguia deixar de me sentir muito irritado com isso.

Arrumei rapidamente minha pequena bagagem. Nós iríamos passar poucos dias na Corte, não precisaria levar muita coisa. Como ainda demoraria um pouco para decolarmos, fui comer algo, no refeitório dos guardiões. Lá encontrei o Peter, que foi um dos que me acompanhou no resgate a Lissa, quando Victor a seqüestrou. Ele era instrutor da Academia e aparentava ter por volta dos trinta e cinco anos. Ele também parecia preocupado com a possibilidade de Victor sair impune.

“Ei Belikov, pronto para enfrentar Victor Dashkov?” Ele falou se sentando na cadeira em frente a minha “Eu soube que a rainha permitiu que a princesa e Rose testemunhassem. Eu espero que isso dê mais credibilidade às acusações contra ele. Corre um rumor que ele tem chances de ter sua pena abrandada, por ser da realeza.”

“Ele não vai sair impune, isso é o que importa. E por ser da realeza, é o de menos. Se a rainha o deixar livre estará indo de encontro aos interesses de outra pessoa, também da realeza, que é a Princesa Vasilisa.”

Ele balançou a cabeça em concordância. “E verdade. E o que ele fez foi muito sério. Nos meus anos de guardião, nunca vi um Moroi fazer algo tão terrível contra outro. Não sei realmente o que foi pior: ele convencer a filha a se tornar um Strigoi ou torturar a Princesa para explorar a magia dela.”

O currículo de maldades de Victor era bem extenso. Eu imaginava quantas coisas ele teria feito em toda a sua vida que ficaram ocultas ou foram acobertadas por ele ser influente. Eu tinha certeza que existiram coisas terríveis que nem todos sabiam. Eu tirava pelo feitiço que ele lançou em mim e em Rose. Aquele feitiço que ainda me deixava por noites em claro, pensando na proximidade em que estivemos de termos a nossa primeira noite de amor.

Eu terminei o meu café da manhã e me dirigi a pista de pouso, onde o jatinho da Academia estava sendo preparado. Alguns ajustes na aeronave ainda estavam sendo feitos pela tripulação. De longe, avistei os demais que iriam. Rose estava entre eles. Eu realmente não tinha vontade de lidar com ela naquela hora.

Eu sabia que ela iria me cobrar por Adrian ter conseguido levá-las e eu não, por isso permaneci no grupo de guardiões, conversando amenidades. Mas não adiantou, quando ela me viu, correu até mim. Eu me preparei mentalmente para o que viria.

“Eu sinto muito, me desculpe.” Ela falou humildemente, e eu reuni muito autocontrole para me manter neutro. Eu realmente não estava esperando por pedidos de desculpas.

“Desculpar pelo quê?” perguntei friamente. Eu percebi que ainda estava muito chateado por toda a indiferença dela ontem.

“Por todas as coisas terríveis que eu lhe disse ontem. Você conseguiu – você realmente conseguiu. Você fez eles nos deixarem ir.”

Aparentemente ela não sabia quem tinha intercedido por elas, junto a rainha, e fiquei impressionado por Adrian não ter corrido para contar a ela que tinha feito isso.

Mas outra coisa me deixou ainda mais chateado. Ela não estava se desculpando por ter se arrependido, mas sim por achar que eu tinha conseguido o que ela queria. No final das contas, ela só estava se preocupando com ela mesma. Eu permaneci imparcial, não queria começar nenhuma discussão com ela ali, na frente de todos.

“Não fui eu, Rose. Não tive nada a ver com isso.”

Ela ficou paralisada, me olhando, tentando entender o que tinha acontecido. Alberta chamou a todos, nos autorizando a embarcar. Nós, os guardiões, entramos por último e nos arrumamos, dentro da aeronave, da maneira típica de guarda. Alguns se posicionaram nos acentos do fundo. Eu sentei com outro Guardião em frente a Adrian. Dificilmente algum Strigoi nos atacaria ali, mas nunca deixávamos a guarda baixar, quando tínhamos Morois para proteger.

Rose estava sentada, junto a Eddie, estranhamente quieta. Adrian se sentou na poltrona em frente à dela, já bebendo, como de costume. Todo momento, ele se virava para falar com ela, flertanto abertamente, mas não vi Rose encorajá-lo, também não mantive a minha atenção nela.

O avião levantou vôo e eu desejei mentalmente chegar logo. Eu não estava gostando nada de ouvir Adrian atrás de mim falando o tempo todo. Ele estava muito bêbado. Eu podia jurar que ele tinha passado a noite inteira bebendo.

“Nós vamos para a Corte. Você não está excitada com isso?”

“Qual delas? A da realeza ou a legal?” a voz de Rose era impaciente.

“A da realeza. Você trouxe um vestido?”

“Ninguém me disse para trazer.”

“Então... isso é um não?”

“Sim.”

“Sim? Eu pensei que você tivesse dito não.”

“Eu disse não e você sabe. Eu não trouxe vestido algum” sua voz agora era altamente irritada. De onde estava, eu não podia ver Rose, mas eu podia imaginar seu rosto raivoso. Apesar de não entender o que estava a deixando assim, confesso que gostei muito de ouvir o tratamento grosseiro que ela estava dando a Adrian.

“Então precisamos conseguir um para você!” Adrian falou muito alto.

“Você vai me levar para fazer compras? Vai me colocar em uma limusine para me considerarem uma acompanhante confiável?”

“Às compras? Até parece! Tem alfaiates lá. Vamos conseguir algo feito sob medida.”

“Não vamos ficar tanto tempo. Eu realmente preciso de um vestido para o que vamos fazer lá?”

“Não. Eu apenas gostaria de lhe ver vestindo um.”

Rose não respondeu. Eu permaneci olhando pela janela, com os meus ouvidos atentos, prestando muita atenção naquela conversa.

“Algo preto.” Ele continuou. “Feito de seda, eu acho... talvez com rendas. Você gosta de rendas? Algumas mulheres acham que elas coçam.”

“Adrian” Rose falou por entre os dentes.

“E um pouco mais curto de lado, para mostrar suas maravilhosas pernas. Podia ser aberto até o quadril, com um belo laço no final-“

“Adrian!” Rose gritou e sua voz era altamente irritada “Dá para diabos você calar a boca por cinco segundos?”

Alberta estava lendo o jornal, sentada na fileira ao lado da que estava Adrian. Ela se virou para o lado deles, como se não tivesse ouvido nada do começo da conversa, além da explosão final de Rose.

“Rose, o que está acontecendo?”

“Eu estou com a dor de cabeça mais fuderosa do mundo e ele não cala a boca! Deus, porque não passa?”

Sua voz saiu dolorosa e aquilo acionou uma tecla de alerta em mim. Imediatamente, levantei e fui até ela. Alberta fez o mesmo. Rose estava encolhida na cadeira, com seus dedos apertando fortemente a têmpora esquerda e a outra mão cobria os olhos. Seu rosto estava franzido de dor.

“Você não comeu nada hoje. Você estava com muita fome, hoje cedo.” Christian falou, também preocupado.

Ela abriu os olhos, piscando rapidamente, como se quisesse limpar a visão. Alberta chamou uma aeromoça “Você pode conseguir algo para ela comer? E também um analgésico?”

Eu me abaixei até ela “Onde é a dor?” perguntei, muito preocupado, pois ela havia passado uma semana em testes de luta. Eu imaginei que ela podia ter levado algum golpe mais forte e as conseqüências estavam surgindo agora.

“É só uma dor de cabeça... tenho certeza que vai passar” ela falou com a voz fraca, mas tentando parecer forte. O seu rosto contorcido dizia que não era apenas uma mera dor de cabeça, era algo sério. Ela olhou para mim e apontou para o centro da testa “É como se algo estivesse pressionando o meu crânio. E também dói atrás dos olhos. Eu sinto como... bem, como se tivesse algo nos meus olhos. Eu acho que fiquei vendo uma sombra ou algo assim. Então eu pisquei algumas vezes e sumiu.”

Definitivamente não era só uma dor de cabeça. Eu ainda estava cogitando a idéia dela ter sido acertada de forma muito forte durante a experiência de campo, quando Alberta falou ao meu lado.

“Ah, isso é um sintoma de enxaqueca – ter problemas com a visão. Isso se chama aura. As pessoas têm, antes de a dor aparecer.”

“Uma aura?” Rose perguntou encarando Adrian. Isso o fez sorrir presunçosamente.

“Não desse tipo. É só o mesmo nome. Como uma Corte e uma corte. Auras de enxaqueca são imagens e luzes que você ver quando a dor começa. Elas não tem nada a ver com as auras que eu vejo ao redor das pessoas, mas eu vou lhe dizer... a aura que eu estou vendo agora... a que está ao seu redor...wow”

“Está preta?”

“E muito. Eu consigo ver, mesmo depois dos drinks que tomei. Nunca vi nada assim.”

Claro, depois dos drinks que tomou... lá vinha Adrian novamente com aquela conversa de aura. O pior é que todas as vezes que ele supostamente analisou a minha, ele acertou o que eu estava sentindo. Olhei para Rose que ainda franzia o rosto. Ela parecia intrigada com aquilo que ele tinha falado sobre a sua aura.

A aeromoça trouxe um analgésico, uma barra de cereal e uma fruta para ela, que comeu tudo. Rose parecia faminta. Depois, ela se acomodou na poltrona, fechando os olhos. A viagem não duraria muito e logo estaríamos na Corte. Lissa foi sentar perto dela, também com a expressão preocupada.

Eu assumi que tinha sido apenas uma enxaqueca e voltei para a minha poltrona. Mesmo assim, permaneci atento a ela, ainda intrigado com aquela dor repentina.

“Rose? Você ainda está com dor?” Lissa perguntou suavemente.

“Sim, eu-oh, não, não faça isso, não desperdice comigo.”

“É fácil. Não me afeta.”

“Sim, mas quanto mais você usar... mais vai lhe machucar à longo prazo. Mesmo que seja fácil agora.”

“Eu me preocupo com isso depois. Vem aqui.”

Elas falavam baixo e eu me esforçava para escutá-las. Parecia que Lissa estava usando a magia em Rose.

“O quê – O quê aconteceu?”

“Nada. A enxaqueca está ficando mais forte”

“Mas eu... eu tinha. Eu senti a magia. Ela funcionou.”

“Eu não sei, Liss. Está tudo bem. Você deixou de tomar os remédios há pouco tempo, sabe.”

“Sim, mas eu curei Eddie outro dia, e Adrian” a voz de Lissa saía decepcionada.

“Aqueles eram arranhões. Esta é uma super enxaqueca. Talvez você tenha que ficar mais forte.”

Ao que parecia, Lissa não tinha conseguido curar a dor de Rose. Alberta trocou de lugar com o Peter, o guardião que estava ao meu lado. Ela se sentou, me entregando o jornal que estava lendo antes da crise de Rose.

“Eu acho muito estranha esta dor. Principalmente por que a Princesa não conseguiu curar. Eu vi o que Vasilisa fez com Victor Dashkov. Ela regenerou a sua juventude. Como não consegue curar uma simples enxaqueca?” Alberta falou sussurrando, me impedindo de ouvir o resto da conversa que se desenvolvia atrás de mim. Sua expressão era séria e centrada. Eu, que já tinha ficado mais sossegado, achando que não era nada demais, voltei a me preocupar.

“Eu temo que seja algo mais grave. Talvez ela tenha recebido um golpe mais duro em sua prática de campo e isso seja um sintoma que algo não ficou bem” eu falei mantendo o mesmo tom baixo dela.

“Provavelmente. Vamos ver como isso se desenvolve”

Eu olhei o jornal que ela tinha me entregue e comecei a ler as notícias. O silêncio veio de lá de trás e eu imaginei que eles tinham, finalmente, deixado Rose descansar.

Quando o avião pousou, eu fui para fora e me posicionei em guarda. Era um costume meu, talvez de todos os guardiões, uma vez que os demais também estavam em alerta. Nós sabíamos que não teriam ameaças ali, mas não podíamos evitar em assumir tal postura.

O tempo estava terrível, uma forte chuva de granizo começou a cair, assim que pousamos. Tinha sido uma sorte, essa chuva não ter caído dez minutos antes, enquanto ainda estávamos voando. Rose saiu do avião com uma aparência ótima, nem de longe demonstrando as feições de sofrimento que ela tinha mais cedo. Nós fomos recepcionados por um grupo de cinco guardiões enviados por Hans. Eu conhecia todos eles. Na verdade, eu conhecia todos os guardiões da Corte.

O meu antigo protegido, Ivan Zeklos, pertencia a realeza e freqüentava muito a Corte. Inevitavelmente, eu vinha com ele e sempre aproveitava para manter ou estabelecer amizades. Mas também, muitos me conheciam a por minha fama e me tratavam com bastante respeito.

Nós seguimos para um belo prédio onde a ficavam os visitantes. Cada um de nós recebeu um quarto, inclusive eu, Alberta e os outros guardiões que vieram conosco. Eu estranhei um pouco, pois era acostumado a ficar em dormitórios, mas não mencionei nada. Isso deixava claro que estávamos aqui para um fim específico.

“Eu vou ter meu próprio quarto? Como poderei proteger Lissa assim?” Eddie falou, soando bem preocupado. Eu tive que sorrir daquilo. A Corte era um local extremamente seguro. Era protegida por poderosas wards e um bom exército de guardiões, que se revezavam em sentinela. Não haveriam ataques de Strigois por aqui. Nem tão pouco, lutas simuladas por guardiões, como estava sendo feito lá na Academia, como eu disse, tínhamos outra missão aqui.

“Não será necessário que você a guarde vinte e quatro horas por dia. Nenhum guardião faz isso aqui na Corte.” Falei, mantendo o tom divertido, mas, logo depois, acrescentei olhando para ele e Rose seriamente “Mas não se esqueçam que a experiência de campo continua aqui, só que de outra forma. Faremos relatórios sobre a atuação de vocês dois.”

Alberta tinha ido falar com alguns guardiões e depois retornou até nós “Vão descansar um pouco e nós nos encontraremos para o jantar em quatro horas. Lissa, a rainha quer falar com você em uma hora.”

“Claro” falou Lissa “Eu e Rose estaremos prontas.”

Alberta negou com a cabeça “Rose não vai. A rainha pediu especificamente para falar com você sozinha.”

Lissa olhou para Rose pesarosa. Cada um de nós seguiu para o seu próprio quarto, em silêncio.

Entrei no meu quarto e olhei em volta. Era realmente um belo lugar. Os móveis eram bem modernos e tudo decorado em um branco impecável e elegante. Coloquei minha valise em cima de uma das poltronas e fui até a janela que tinha uma pequena sacada. Lá fora o tempo estava ainda pior do que quando chegamos. Era um terrível fim de inverno.

Resolvi tomar um banho. Depois que sai do banheiro, liguei a TV e passei pelos canais. Nada me agradou. Então, a única solução que eu tinha para passar o tempo era ler um pouco. Sentei confortavelmente em um sofá, que tinha no canto próximo à janela, com as pernas esticadas, peguei meu livro e mergulhei na história do velho oeste. Minha mente realmente viajava quando eu lia estas histórias. Confesso que, frequentemente, me imaginava como o mocinho de algumas delas. Era uma época na qual eu gostaria de ter vivido.

Eu estava completamente compenetrado na leitura, quando batidas na porta me trouxeram de volta à realidade. Olhei o relógio e ainda faltava perto de duas horas para o jantar. Quem seria? Sempre que eu vinha à Corte, raramente me chamavam, quando eu estava no quarto. Levantei e fui rapidamente abrir, tentando imaginar se tinha ocorrido algo, e deparei com Rose parada na minha frente. Isso me trouxe um dejavú da noite em que caímos em no feitiço de luxúria. Ela tinha aparecido na minha porta da mesma maneira, por isso, redobrei a minha atenção.

“Eu preciso falar com você.”

Eu me afastei um pouco, a deixando entrar. Ela imediatamente estendeu um papel. Eu peguei e li o que dizia o bilhete.

Rose

Fiquei muito feliz em saber da sua chegada. Eu tenho certeza que isso irá deixar os procedimentos de amanhã muito mais divertidos. Há muito tempo estou curioso em saber como Vasilisa está se saindo, e como vão indo as suas escapadas românticas, que sempre são um divertimento interessante. Eu mal posso esperar para compartilhar isso com todos no julgamento de amanhã.

O melhor,

VD

“V.D.” falou Rose.

“Eh, eu sei. Victor Dashkov”

“O quê vamos fazer?” ela perguntou com um olhar preocupado “eu quero dizer, já conversamos sobre isso, mas agora ele está mesmo dizendo que vai nos entregar.”

De fato, aquele era mais do que um aviso. Era uma ameaça maquiada por uma bela ironia. Era algo para nos preocupar. Ele estava claramente avisando que falaria sobre nós, conforme fosse a participação de Rose no julgamento. Ele ira usar tudo que pudesse - e o que não pudesse - para se livrar da condenação. Victor era muito sarcástico e cruel. Fazer isso não era nada para ele. A chantagem era clara. Mesmo assim, eu não achava que nós tínhamos que nos intimidar e devíamos, sim, ir testemunhar contra ele. Livre ou preso, ele sempre teria este trunfo contra nós. O que eu tinha que fazer agora, era usar a mesma moeda dele: a ameaça. Fui até o meu casaco, que estava pendurado em um cabide no canto do quarto, e peguei o meu celular que estava no bolso.

“Dê-me um segundo” falei para Rose que começava a sentar na cama, mas de repente, com se tivesse levado um choque, ela levantou e foi até o sofá, onde eu estava antes, lendo o meu livro. Eu disquei o número de um guardião, muito amigo meu, que trabalhava no prédio da prisão, como chefe de turno. O nome dele era Yuri Sokolov. Nós tínhamos estudado na mesma escola, a Academia St. Basil, na Rússia, onde fomos colegas de classe. Sua voz atendeu do outro lado. Nossa conversa foi em russo.

“Alô?”

“Ei, Sokolov! Sou eu Dimitri”

“Olá Belikov! Pensei que não fosse procurar os amigos... eu soube que você está na Corte para o julgamento de Victor Dashkov.”

“Isso mesmo... bem, e era sobre isso que eu queria lhe falar” fui direto ao assunto, sem me preocupar com a sociabilidade. Yuri já me conhecia desde criança e sabia que eu era bem objetivo “Eu preciso falar com ele, com Victor Dashkov. É muito importante.”

Ele fez alguns segundos de silêncio e eu olhei para Rose que me observava atentamente, mesmo sem entender uma palavra do que eu dizia. Quando ele falou novamente, sua voz era baixa e cautelosa.

“Dimitri, ele é um prisioneiro poderoso, não pode receber visitas. Mas como você diz que é importante, eu realmente confio em você. Meu turno começará em poucos minutos, assim que eu estiver em serviço, irei dar uma olhada como a situação está por lá e lhe telefonarei. Não estou lhe prometendo nada. Aguarde a minha posição.”

“Ok, Yuri, eu agradeço. Ficarei no aguardo.”

Desliguei o telefone e puxei uma cadeira para perto de onde Rose estava sentada. No sofá tinha lugar para mim, mas achei melhor manter uma distância segura.

“O que está acontecendo?”

“Depois lhe digo. Por hora temos que esperar” achei melhor não dar esperanças a Rose. Yuri podia não conseguir o que eu tinha pedido e eu teria que mudar de planos. Ela era muito ansiosa e iria ficar muito agitada se ela soubesse do meu plano de ir falar com Victor.

“Ótimo. A coisa que eu mais gosto de fazer” ela falou, olhando para o lado e pegando o livro que eu lia, antes dela chagar. Ela olhou a capa e seus olhos se tornaram distantes, como se aquilo lhe trouxesse um pensamento triste.

“Por que você lê isso?”

“Algumas pessoas lêem livros por diversão.”

“Ei, cuidado com as palavras. Eu leio livros. Eu li livros para resolver o mistério que ameaçava a vida e a sanidade da minha melhor amiga. Eu não acho que ler essas coisas de cowboy vai salvar o mundo, como eu fiz.”

Eu me inclinei até ela e peguei o livro. Olhei pela janela pensando que era uma das poucas diversões que eu tinha. Honestamente, eu não me importava em viver em um mundo só meu, mas, às vezes, eu tinha necessidade der ter uma vida diferente, ainda que fosse somente nas histórias que eu lia e imaginava em minha mente.

“Como todo livro, é uma válvula de escape. E tem algo... hum. Eu não sei. Algo me chama a atenção no Velho Oeste. Nada de regras. Todos vivendo de acordo com seu próprio código de conduta. Você não tem que estar preso nas idéias que os outros traçam de certo e errado, do que é justo.”

Lá estava eu, novamente, me abrindo para Rose. Eu nunca tinha falado sobre aquilo a ninguém. Mas, também, ninguém nunca tinha questionado sobre os livros que eu lia. Isso nunca chamou a atenção de ninguém. Ela abriu um lindo e faceiro sorriso.

“Espera aí, eu pensei que eu fosse a única que queria quebrar as regras.”

“Eu não disse que eu queria. Isso só me chama a atenção.”

“Você não me engana, camarada. Você queria colocar um chapéu de cowboy e manter os ladrões de banco na linha.”

“Sem chances. Eu já tenho problemas suficientes para manter você na linha.”

Nós rimos das nossas próprias piadas e aquela momentânea paz tomou conta de todo o ambiente. Era muito bom estar com Rose assim, sem o peso de cobranças, brigas, desentendimentos. Ela sabia ser leve e isso a deixava encantadora.

De repente, a sensação de culpa veio até mim. Eu não tinha conseguido trazê-la para o julgamento e aquilo tinha me feito muito mal. Eu devia ter tentado mais e não ter me contentado com as negativas dos guardiões da Corte e de Alberta. Eu conhecia bastante gente que podia persuadir a rainha. Mas não. Eu fiquei preso nessa minha besteira de fazer o que é certo e seguir curso natural das coisas, e acabei machucando Rose.

“Eu sinto muito” falei de repente, pegando Rose de surpresa.

“Pelo quê? Por ler romances baratos?” ela falou de forma descontraída.

“Por não ter conseguido lhe trazer até aqui. Eu sinto como se tivesse falhado com você.”

Ela me olhou por um momento, seus olhos cheios de compaixão e compreensão. Isso. Ela me compreendia e de uma forma plena. Inexplicavelmente, ela me compreendia.

“Você não deixou. Eu estava agindo como uma pirralha. Você nunca me deixou na mão antes. Não deixou agora.”

Sua voz era reconfortante e eu senti aquela conexão boa passar por nós. Eu a olhei, me sentindo agradecido por ver que ela tinha me perdoado e que ainda tinha confiança em mim. Eu teria ficado ali, conversando com ela o resto do dia, mas o meu telefone tocou, me lembrando que tínhamos um problema sério para lidar.

“Alô?” eu atendi e a voz de Yuri falou do outro lado.

“Belikov? Sou eu, Yuri. Olha, eu já entrei no meu turno e mexi em umas papeladas aqui. Como guardião, não tem problemas em você ir até a cela dele. Você pode vir falar com Victor, mas terá que ser breve, não é algo escondido, mas não quero que chame a atenção de alguém.”

“Ah, Yuri, lhe sou grato por isso, mas eu não irei sozinho. A minha aluna irá também. Ela precisa aprender a lidar com algumas coisas.”

“Uma noviça na cela dos prisioneiros, Dimitri? Eu já ouvi falar dessa sua aluna, ela é famosa em aprontar confusões. Não acho prudente que ela venha.”

“Não se preocupe com isso. É parte do meu trabalho mantê-la na linha. Ela irá se comportar.”

“Bem, se você garante isso... aguardo vocês em breve.”

Com estas palavras, ele desligou o telefone e eu me virei para olhar para Rose. Novamente, ela estava atenta a conversa, mesmo sem ter entendido uma palavra sequer.

“Muito bem, vamos” falei gesticulando para que ela me seguisse até a porta.

“Para onde?”

“Ver Victor Dashkov.”

Nós caminhamos rapidamente para o prédio onde ficava a prisão. Rose se esforçava para acompanhar os meus passos largos. No caminho, expliquei rapidamente que um amigo meu nos colocaria frente a frente com Victor e pedi para que ela controlasse seus instintos, já que nós não éramos, propriamente, uma visita autorizada, por isso não queríamos chamar a atenção de quem quer que fosse. Nós entramos no prédio e fui ao encontro de Yuri, que me deu um sorriso de reconhecimento. Ele estava em uma sala onde podia verificar todos os lugares da Corte por câmeras de segurança.

“Ei Belikov” ele falou batendo sua mão na minha “só nos encontramos assim, no meio de uma ação” ele sorriu e olhou para Rose, esperando que eu a apresentasse.

“Olá Solokov! Essa é a minha aluna, Rose Hathaway” eles se cumprimentaram e naquela eficiência típica de guardião, Yuri nos conduziu até o caminho das celas.

Ele apontou para um corredor longo e limpo “A cela dele é a penúltima à esquerda. Não poderei ir com vocês até lá, não posso deixar meu posto. Eu chefio toda a guarda deste turno, preciso ficar atento.”

“Não se preocupe conosco, seremos breves e discretos. Obrigado Yuri.”

Seguimos pelo caminho indicado e Rose estava apreensiva.

“Por que você está fazendo isso?” ela sussurrou, observando tudo em volta “Você acha que podemos convencer ele a não dizer nada?”

Eu neguei com a cabeça “Se Victor apenas quisesse se livrar de nós, ele o faria sem qualquer aviso prévio. Ele não faz as coisas sem uma razão. O fato dele ter lhe falado primeiro o que faria significa que ele quer algo. E agora, vamos descobrir o que é.”

Chegamos até a cela dele e nos deparamos com Victor sentado em uma cadeira, estudando suas unhas. Sua aparência era jovem e saudável, com vigor típico das pessoas no auge dos quarenta anos de idade. Tudo isso graças a magia retirada, à força, de Lissa. Ele nos olhou atentamente quando chegamos e então sorriu.

“Oh, céus. Isso é fantástico! A adorável Rosemarie, praticamente uma adulta agora.” Ele falou olhando para Rose e então se voltou para mim “é claro, alguém tem lhe tratado como tal, já faz algum tempo.”

Eu não me deixei levar por aquela provocação, e me mantive imparcial, mas Rose, é claro, teve um rompante de raiva e se lançou contra as grades da cela, pressionando os rosto entre elas.

“Pare de brincadeiras, seu filho da puta. O quê você quer?” ela rosnou entre os dentes. Eu coloquei gentilmente a mão no seu ombro e a puxei para trás.

“Tenha calma, Rose.”

Ela obedeceu prontamente. Respirando fundo, ela se afastou lentamente das grades. Victor observou essa cena e riu novamente, com um toque de ironia no seu rosto.

“Depois de todo esse tempo o seu filhote ainda não aprendeu a se controlar. Talvez, você nunca queira que ela se controle.”

Eu entendi bem o duplo sentido daquela insinuação dele, mas não entrei na sua provocação, antes, me mantive calmo, perfeitamente centrado. Era algo que eu sabia fazer bem.

“Não estamos aqui para gracejos. Você queria atrair Rose até aqui, e agora, queremos saber por que.”

“Tem que existir uma razão obscura? Eu só queria saber como ela estava e algo me diz que não teremos chances de ter uma conversa amistosa amanhã.” Ele falou ainda com aquele sorriso irritante.

“Não vamos ter uma conversa amigável agora.” Rose rangeu.

“Você acha que eu estou brincando? Mas eu não estou. Eu queria mesmo saber como você estava. Eu sempre lhe considerei muito, Rosemarie. A única shadow-kissed que conhecemos. Eu já disse a você antes. Esse não é o tipo de coisa pela qual se passa sem ter uma cicatriz. Não tem como você se afundar na rotina calma da Academia. Pessoas como você não foram feitas para se misturar.”

“Eu não sou uma experiência científica.”

“Como tem sido? O que tem notado de diferente?” ele continuou, sem se importar com o olhar afiado de Rose. Eu percebi que ele estava desviando o foco da nossa conversa e resolvi intervir.

“Não temos tempo para isso. Se você não for direto ao ponto, nós vamos embora.” Eu avise, usando o tom de voz mais tranqüilo que eu pude, muito embora a minha vontade também fosse de quebrar o pescoço dele. Rose foi de volta para perto das grades e sorriu friamente.

“Não tem como você ser solto amanhã. Eu espero que você aproveite bem a prisão. Aposto que vai ser ótimo quando você voltar a ficar doente de novo – e você vai, você sabe disso.”

Ele não se levou pela difícil verdade que Rose tinha dito, permanecendo com o sorriso irônico, ele a olhou levemente. Ele era um jogador e estava jogando conosco naquela hora. Eu pude ver que cada palavra dele era dita com uma intenção já traçada em seus planos. Ele estava usando um assunto que interessava a Rose e que ele conhecia bem. A ligação espiritual que ela tinha com Lissa.

“Tudo morre, Rose. Bem, exceto por você, eu suponho. Ou talvez você já esteja morta. Eu não sei. Aqueles que visitam o mundo dos mortos, provavelmente, nunca mais poderão cortar a conexão que ficou com ele.”

Rose fez um impulso de dizer algo, mas então parou, como se aquelas palavras dele lhe trouxessem algum significado. Sua expressão se tornou intensa e pensativa. O que ele disse, de alguma forma, fez sentido para ela. Não só eu, mas Victor também percebeu isso.

“Sim? Tem algo que você gostaria de dizer?” Sua voz era gratificada, como quem se tivesse dado um golpe certeiro.

“O que é o mundo dos mortos? É o inferno ou o céu?” sua voz saiu baixa e indecisa.

“Nenhum dos dois.”

“O que vive lá? Fantasmas? Eu ter voltado de lá, fez as coisas saírem do lugar?”

Novamente Rose estava mencionando fantasmas. Aquilo me intrigou, mas não era algo com o qual eu poderia lidar agora. Eu decidi que ficaria atento para saber onde este interesse dela por aquele assunto levaria e qual a razão disso.

“Bem, claramente as coisas saíram do lugar, uma vez que você está aqui, diante de nós.”

“Ele está lhe enganando. Vamos embora.” Falei, com tom de fim de assunto.

Ele me olhou brevemente “Eu estou a ajudando.” Então ele se voltou para Rose “Honestamente, eu não sei muito sobre isso. Foi você quem esteve lá, Rose, não eu. Ainda não. Algum dia, provavelmente, você vai estar me ensinando sobre isso. Tenho certeza de que, quanto mais você lida com a morte, mais próxima você ficará dela.”

“Já chega!” eu disse severamente “Já estamos indo”.

Eu toquei no braço de Rose, apontando para a saída.

“Espere, espere!” disse Victor, com o divertimento ainda na sua voz “você ainda não me deu notícias sobre Vasilisa.”

O instinto de proteção que Rose tinha por Lissa a fez voar novamente de encontro às grades da cela “Fique longe dela! Ela não tem nada a ver com isso!” sua voz era furiosa.

O olhar de Victor se tornou seco “Já que eu estou preso aqui, eu não tenho outra escolha a não ser ficar longe dela, minha querida. E você está errada – Vasilisa tem tudo a ver com isso.”

“É isso. É por isso que você mandou aquele bilhete. Você me queria aqui para ter notícias dela e você sabia que ela nunca viria falar com você. Você não tem nada para chantageá-la”

Era isso mesmo, Rose havia matado a charada. Victor estava pretendendo usar o que ele sabia sobre nós para conseguir se aproximar de Lissa. Era uma boa moeda de troca, pelo menos para ele.

“Chantagem é uma palavra feia” ele falou, encenando com se tivesse sido ofendido.

“Não tem jeito de você encontrar com ela – pelo menos não, fora do tribunal. Ela nunca vai lhe curar. Eu disse a você: você vai ficar doente de novo e vai morrer. Você vai me mandar um cartão postal de lá do além.”

“Você acha que é tudo por isso? Você acha que as minhas ambições são assim, tão pequenas?” todo divertimento e sarcasmo desapareceu e a expressão dele se tornou séria e compenetrada, numa febril obstinação, seus olhos se focaram duramente em Rose, e seus lábios se estreitaram perigosamente “você esqueceu de tudo o que eu fiz e porque eu fiz. Você ficou tão presa em sua própria miopia que não consegue ver o horizonte para o qual eu estou olhando.”

Realmente, ele estava certo, eu tinha que admitir isso. Nós fomos tolos em pensar que Victor queria ficar curado de sua doença somente para ter sua bela aparência de volta. Ele queria ter novamente a credibilidade das pessoas. A credibilidade que só pessoas com virilidade tinham, e não pessoas doentes. Ele queria tomar o poder e precisava de saúde para isso. O brilho raivoso no olhar de Rose me dizia que ela tinha chegado a mesma conclusão que eu.

“Você queria as armas para uma revolução - e ainda quer. Isso é loucura. Não vai acontecer.”

“Já está acontecendo. Você acha que eu não sei o que está se passando no mundo? Eu ainda tenho contatos. As pessoas ainda podem ser compradas. Como você acha que eu fui capaz de lhe passar aquela mensagem? Eu sei sobre os desentendimentos – eu sei sobre o emprenho de Natasha Ozera para fazer com que os Morois lutem juntamente com os guardiões. Você a apóia e me torna o vilão, Rosemarie, mas eu lutei pela mesma coisa no outono. Ainda sim, de algum jeito, você parece que não a vê como me vê.”

“Tasha Ozera está trabalhando em sua própria causa, diferente de você.” Eu acrescentei.

“E é por isso que ela não está chegando alugar algum. Tatiana e o conselho real estão presos por séculos de tradições arcaicas. Enquanto este tipo de poder reinas, as coisas não vão mudar. Nunca aprenderemos a lutar. Os Morois que não são da realeza nunca terão voz. E dhampirs como você continuarão sendo mandados para as batalhas.”

“É para isso que dedicamos as nossas vidas.” Falei bruscamente.

Todo aquele discurso dele já estava tirando a minha paciência. Não havia nada de errado em nós sermos mandados para batalhas. Era para isso que treinávamos. Eu tinha muito orgulho em ter um objetivo nobre na vida. Eu ainda estava tentando manter meu controle diante dele, apesar de ser bem difícil. Victor era uma pessoa que sabia bem com tocar diretamente em nossas feridas.

“É para isso que vocês perdem as suas vidas. Vocês não passam de escravos e nem percebem. E para quê? Porque vocês nos protegem?”

“Porque... nós precisamos de vocês, para a nossa raça sobreviver.” Rose falou uma resposta que era, de certa forma, padrão para todos os dhampirs.

“Vocês não precisam se jogar em batalhas para isso. Fazer filhos não é assim tão difícil”

Sob este ponto de vista, eu tinha que admitir que Victor novamente tinha razão. Há muito tempo, os Morois não honravam o compromisso que eles tinham firmado com nós, dhampirs. No final das contas, nós não passávamos de diversão para eles, quando o assunto era a procriação. Raramente um Moroi assumia uma família dhampir. Eu podia dizer que isso era basicamente impossível de acontecer. A causa dele era sim viável, mas os métodos dele eram abobináveis.

“E porque os Morois... os Morois e sua magia são importantes” Rose continuou com a sua linha de raciocínio, sem se importar com o comentário anterior de Victor “eles podem fazer coisas incríveis.”

Victor levantou as suas mãos em exaspero “Nós costumávamos fazer coisas incríveis! Os humanos costumavam nos venerar como deuses! Mas com o tempo, ficamos preguiçosos. A tecnologia fez a nossa magia parecer obsoleta e agora, tudo que fazemos são truques de mágica.”

Eu já estava cansado daquela conversa toda de Victor. Eram apenas conjecturas que nunca passavam do discurso. Eu o olhei perigosamente, transmitindo a minha impaciência por este olhar.

“Se você tem tantas idéias, então faça algo de útil na prisão e escreva um manifesto.”

“E o quê que Lissa tem a ver com tudo isso, de qualquer forma?” Rose perguntou intrigada.

“Porque Vasilisa é o veículo desta mudança.”

“Você acha que ela vai liderar a sua revolução?”

“Bem, eu preferia eu mesmo liderar – algum dia. Mas, independentemente, eu acho que ela irá fazer parte de tudo isso. Ela é uma estrela em ascensão. Ainda jovem, certamente, mas que as pessoas começando a notar. Todos da realeza não têm a mesma criação, você sabe. O símbolo dos Dragomirs é um dragão. O rei das bestas. Igualmente, o sangue dos Dragomirs sempre foi muito poderoso – é por isso que os Strigois sempre os perseguiram. Um Dragomir retornando ao poder não é algo pequeno, principalmente alguém como ela. Minha impressão, pelos relatórios que recebo, é que ela tem conseguido dominar a sua mágica. Se é assim - com o dom que ela possui – não temos como dizer o que ela é capaz de fazer. As pessoas são atraídas a ela, sem nem um esforço por parte dela. E quando ela tenta influenciar as pessoas, bem, todos fazem o que ela quer.”

A ambição pelo poder brilhava nos olhos de Victor, enquanto aquelas palavras saíam de sua boca. Sua expressão era maravilhada, diante do deslumbre deste futuro que sua imaginação reservava para Lissa.

“Inacreditável” Rose falou “Primeiro você queria escondê-la para que ela pudesse lhe manter vivo. Agora você a quer diante do mundo, usando a compulsão para os seus planos psicóticos.”

“Eu disse a você. Ela é uma força de mudança. E com você, como sendo sua shadow-kissed, ela se torna a única da sua espécie que conhecemos. Isso a faz ser perigosa - e muito preciosa.”

“Lissa nunca vai fazer isso. Ela nunca vai abusar de seus poderes.”

“E Victor não vai falar nada sobre nós” eu falei, puxando Rose pelo braço. Aquela conversa já tinha durado tempo demais e já tínhamos chegado ao nosso objetivo. Victor não merecia tanta atenção nossa assim “ele conseguiu seu objetivo, ele lhe atraiu até aqui porque queria ter notícias de Lissa.”

“Ele não descobriu muito” Rose falou.

“Você ficaria surpresa do quanto.” Victor falou para ela e depois se voltou a mim “E o que faz você ter tanta certeza que eu não vou contar ao mundo sobre a indiscrição romântica de vocês dois?”

“Porque isso não vai lhe tirar da cadeia. E se você arruinar Rose, você arruína qualquer mínima chance que tem de Lissa um dia lhe ajudar nessa sua fantasia louca.” Então, eu dei um passo a frente, me encostando nas barras da cela. Eu sentia que meu instinto de proteção a Rose começava a ferver dentro de mim e que meu autocontrole estava se esvaindo.

A fúria tomava conta dos meus sentidos e eu realmente não sabia responder o que eu era capaz de fazer se ele a machucasse, de qualquer forma que fosse. “E será inútil de qualquer forma, por que você não permanecerá vivo na prisão por tempo suficiente para colocar seus planos em prática. Você não é o único com contatos.”

Eu falei aquelas palavras para Victor colocando o tom mais letal que eu pude na minha voz. Eu realmente poderia fazer aquilo que eu tinha ameaçado e teria muitas pessoas que me ajudariam de forma eficaz. Victor sabia que a minha fama de perigoso não tinha sido conseguida com atitudes generosas e gestos graciosos, e que muitos guardiões eram capazes de atitudes nada éticas. Também, eu tinha vindo da Sibéria e conhecia também muitos dhampirs que não seguiram a carreira de guardião e que ganhavam a vida usando os seus conhecimentos de batalha, aprendidos nas Academias, para atividades nada lícitas. Eu estava disposto a fazer qualquer coisa para proteger Rose e não estava brincado com isso.

“Vocês dois formam um par perfeito no paraíso, ou em algum lugar assim” Victor ironizou.

“Vejo você no tribunal” Rose falou duramente.

Nós saímos dali, e eu ainda lutava para controlar as emoções dentro de mim. Victor não demonstrou se abalar com a minha ameaça, mas o meu recado foi dado.

Na saída, encontramos com Yuri.

“Ei, Yuri, obrigado pela ajuda. Fico lhe devendo essa.”

Yuri riu e falou, parecendo que tinha ouvido o que eu falei para Victor “Não foi nada, Dimitri. Eu é que lhe devo muito mais que isso. Sempre que você precisar, é só falar comigo. Eu posso lhe ajudar em coisas muito mais pesadas, e você sabe disso.”

Nossa conversa foi em russo e eu agradeci mentalmente por Rose não poder entender essa última parte. Ela já tinha ouvido demais, quando ameacei Victor. No caminho de volta para o nosso quarto, eu mantive meu rosto imparcial, olhando para frente, mas ainda em uma luta interna contra os sentimentos raivosos. Rose me observou por alguns instantes, seu olhar era bem cauteloso.

“Você está bem?” ela perguntou cuidadosamente.

“Sim”

“Tem certeza?”

“Tão bem quanto poderia estar” não era exatamente uma mentira, diante dos sentimentos que passavam dentro de mim, eu realmente poderia estar pior.

“Você acha que ele vai contar a todos sobre nós?”

“Não.”

Andamos em silêncio por um tempo, e eu já sentia meu controle voltando. Rose ainda me olhava intrigada, pelo canto dos olhos e aquilo ajudou a me distrair. Eu achava engraçado quando ela fazia isso, muito embora, os olhos verdes-jade de Victor ainda estivessem na minha mente.

“Você falou sério... que se Victor contasse... que você...”

Eu senti que ela não conseguiu formular a pergunta que queria fazer.

“Eu não tenho muita influência na realeza poderosa do mundo Moroi, mas eu tenho muita entre os guardiões que lidam com o serviço sujo do nosso mundo.” Falei sem querer entrar nos detalhes. Rose ainda tinha uma visão bem sonhadora da nossa profissão e eu achava que não era hora dela destruir essa imagem formada.

“Você não respondeu a pergunta. Se você faria mesmo isso que disse.”

Na verdade ela não tinha conseguido perguntar. Ela me conhecia bem e já deveria saber do que eu era capaz de fazer por ela. Mas, para ser sincero, nem eu mesmo sabia até onde eu podia ir.

“Eu faria muitas coisas para proteger você, Roza.”

Ela pareceu um pouco desconcertada com aquelas palavras, mas logo assumiu o seu velho tom Rose Hathaway.

“Não estaria exatamente me protegendo. Isso teria que ser feito – a sangue frio. Você não faz este tipo de coisa. Vingança é mais coisa minha. Eu é que teria que matá-lo.”

Se era uma piada, eu não achei graça alguma. Estávamos falando de um submundo dhampir e um trabalho muito sujo que muitos da nossa raça faziam. Ela não era uma assassina. Ela não poderia fazer isso.

“Não fale isso. E mesmo assim, não importa. Ele não vai falar nada.”

Nós entramos no prédio e seguimos em silêncio pelo hall, até o elevador. Não estávamos hospedados no mesmo andar, então eu desci do elevador lhe dando um breve aceno. Meu humor estava realmente péssimo. Ao chegar à porta do quarto senti meu estômago roncar, o que me levou a perceber que havíamos perdido o jantar. Eu não tinha almoçado direito e, mesmo com aquelas emoções da visita feita a Victor, eu estava me sentindo faminto. Saí novamente e fui até um café, que funcionava próximo ao prédio dos guardiões.

O local ainda estava bem movimentado, vários guardiões entravam e saiam, se socializando. Fui até o balcão e pedi uma comida leve do menu. Enquanto esperava, Grant um guardião que servia a rainha, se aproximou de mim.

“Olá Belikov! Como andam as coisas lá na Academia?”

Eu sorri em reconhecimento “Como vai Grant? Nós estamos passando pela experiência de campo agora. É um período puxado.”

“Ah, essas experiências de campo...” sua voz era quase de decepção “o campo que espera estes noviços são bem mais severos que qualquer simulação.”

“Eu concordo. Acho que essa prática devia ser reformulada. Eles deviam ir a um campo de verdade. Agora mesmo, estamos com dois alunos aqui, dando continuidade a prática, mesmo não estando na Academia. Eu sei que a Corte é segura, mas nem tudo se resume a ataques de Strigois.”

A garçonete trouxe meu pedido e o cheiro da comida quente aumentou ainda mais a minha fome.

“Eu ouvi falar disso. Você é mentor de uma aluna bem rebelde, mas com potencial, pelo que ouvi.”

“As pessoas comentam muito de coisas que absolutamente não sabem. Na verdade ela tem sido um desafio, mas também aprendo muito com ela.” falei com um tom que cortava qualquer outra insunuação que ele pensasse em fazer.

“Estamos sempre em aprendizado, Dimitri. E você sabe, a história daquele acontecimento em Spokane correu o mundo. Sua aluna matou dois Strigois. Mas não comentam algo importante: ela teve a ajuda da magia de Morois, usuários da água e do fogo. Isso não é comentado, mas a garota que a ajudou veio para a Corte, junto com seu pai. É um assunto muito velado, mas ela tem treinado técnicas de defesa com alguns guardiões.”

Aquela novidade me interessou muito. Morois treinando com guardiões. Era tudo que Tasha estava lutando para fazer acontecer. Mesmo sendo algo escondido, ainda era um grande progresso.

“Morois treinando sua magia com guardiões? Dentro da Corte?” falei ainda impressionado. Grant deu um sorriso empolgado e algo me dizia que ele fazia parte do grupo que oferecia os treinos.

“Isso mesmo, Dimitri.” Sua voz era baixa, quase um sussurro “Imagina a revolução que isso pode gerar no nosso mundo?”

“É, eu acho que isso irá gerar um bom debate. Você sabe, os Morois mais conservadores consideram isso quase um ultraje.”

“Existem poucos guardiões, Dimitri, vai chegar uma época que os Morois não terão escolhas.” Aquelas palavras dele eram quase proféticas, mas tinha muito respaldo de verdade.

Eu terminei meu jantar com Grant me atualizando como funcionavam aqueles treinos. Era realmente algo muito interessante. Talvez eu participasse de um desses, qualquer dia.

Quando saí do café, fui até o almoxarifado do quartel general dos guardiões, pegar o uniforme que eu havia solicitado para Rose usar durante o julgamento. O guardião me entregou o pacote com calça e jaqueta pretas e camisa branca, baseado na tabela de medidas de Rose que eu tinha enviado lá da Academia. Eu confesso que estava ansioso para vê-la vestida de guardiã. Não era um vestido preto e de rendas, como Adrian tinha descrito no avião, mas eu tinha certeza que ela ficaria linda. E também tinha certeza que ela adoraria.

Entrei no hall do edifício onde estávamos hospedados e fui direto para a recepcionista, uma Moroi muito pálida e extremanente educada.

“Preciso destas roupas lavadas e passadas, amanhã às sete. Você acha que é possível?” falei lhe entregando o pacote.

“Sim, senhor, claro que é. Mandarei entregar no seu quarto nesse horário.” Ela me respondeu sorridente.

“Melhor, entregue no quarto da Senhorita Rosemarie Hathaway.” Falei e não pude deixar de sorrir com o pensamento que me ocorreu “você pode me conseguir um papel, eu quero que um bilhete seja entregue juntamente com o embrulho.”

Ela entregou um o papel, com o timbre da Corte, e eu escrevi uma pequena nota para Rose.

Use o seu cabelo preso.

Naquela manhã, eu levantei muitíssimo cedo. Era quase madrugada para os Morois, quando segui para sala de ginástica do prédio dos guardiões. Eu passei boa parte da noite repassando a conversa que tivemos com Victor e todos os acontecimentos que o levaram para esse julgamento. Eu me sentia muito ansioso pelo que viria. Não sabia o que esperar dele e não conseguia deixar de pensar que ele podia destruir a mim e a Rose com apenas algumas palavras, desde que ditas na hora certa. Bem, hora certa para ele. Eu tinha que extravasar aquela tensão, não podia chegar ao tribunal exalando emoções, eu precisava me manter em perfeito controle, mas isso era algo que sempre exigia muito de mim.

A sala de ginástica estava praticamente vazia. Olhei em volta, buscando o melhor aparelho para trabalhar. Em um canto, um guardião corria em uma esteira com fones nos ouvidos. Mais adiante, outro pulava corda rapidamente, tanto que não era possível ver a corda passando por ele. Os dois pareciam perdidos em seus próprios mundos. Fui até um saco de pancadas e dei um soco forte nele, fazendo com que ele pendesse de um lado para o outro. Então, coloquei luvas de proteção em minhas mãos e voltei para o saco. Dei outro soco e mais outro. Repeti aquele movimento incontáveis vezes, alternando com chutes. Depois de algum tempo, já me sentindo exausto, parei ao som de pequenas batidas de palmas, como se fossem aplausos de uma só pessoa.

“Belo desempenho” a voz feminina falou atrás de mim.

Virei e vi uma velha conhecida. Ela se chamava Margarete e era uma das poucas guardiãs da Corte. Também tinha sido apaixonada por mim, ainda quando estávamos na Academia. Mas isso foi há muito tempo, um passado tão distante para mim, que nem parecia meu.

Ela era loira, com cabelos curtos e a pele bem queimada do sol, fruto dos treinamentos ao ar livre. Ela também era baixa, praticamente do mesmo tamanho de Rose e tinha grandes olhos azuis. Quando éramos estudantes, ela era uma bela garota damphir, mas agora, ali olhando para ela, percebi que a vida de guardiã tinha levado muito de sua beleza.

“Olá Margarete, quanto tempo.” Falei, puxando uma toalha e enxugando o suor que molhava todo o meu rosto.

“É. Muito tempo.” Ela me analisou por poucos segundos. Um pequeno e sagaz sorriso apareceu em seu rosto “Você está cada dia melhor. Na luta.” Eu não respondi, mas entendi perfeitamente aquele duplo sentido de suas palavras. Então ela continuou “Como sempre fechado e estóico. O que faz na Corte? Acompanhando o seu novo protegido?”

“Protegida. Sou guardião da Princesa Vanilisa Dragomir” aparentemente ela não sabia muito sobre a minha vida, muito menos sobre o julgamento e presumi que, de fato, ele estava sendo realizado de forma bastante discreta, se chegou ao ponto dos próprios guardiões da Corte não tomarem ciência do seu acontecimento.

“Ah, claro, é um belo status proteger uma princesa de uma família rara como a dela. Precisa ser muito bom para conseguir isso. E bom, é claro que você é.” Novamente, seu tom sugeria outro duplo sentido “Mas ela não deveria estar na escola?”

Eu assenti com a cabeça “Ela tinha uns assuntos para resolver por aqui.”

Ela olhou em volta, e depois voltou sua atenção para mim, realmente não entendendo que eu não estava com muita vontade de conversar.

“Você ficará na Corte até quando? Podíamos sair esta noite. Lembrar os velhos tempos. Eu não estarei em serviço e-“

“Ei, Belikov!” Peter, o outro guardião, que também veio ao julgamento me chamou, se colocando atrás de Margarete, cortando o que ela dizia “Estive lhe procurando por toda parte. A Guardiã Petrov gostaria de falar conosco, antes de partirmos para... a nossa missão. Ela tem algumas orientações para nos dar” sua voz era bem cautelosa.

“Claro, eu já estava indo me aprontar mesmo.” Me voltei para Margarete e falei “Foi um prazer lhe rever.”

“O prazer foi todo meu, Dimitri. Pense no meu convite. Você saberá como me encontrar” ela falou com uma voz baixa e piscando o olho esquerdo para mim.

Eu forcei um sorriso, quando passei por ela, agradecendo mentalmente por Peter ter aparecido. Escapadas românticas era tudo que eu não precisava hoje.

Voltei para o meu quarto, onde me aprontei rapidamente. Saí e fui diretamente para a sala onde Peter tinha dito que Alberta nos encontraria. Lá, ela passou algumas rápidas instruções sobre os procedimentos do julgamento e orientações dadas pela rainha para que tudo fluísse dentro do planejado. Nós, os guardiões, falaríamos primeiro. Depois seria a vez de Christian, Rose e, por fim, seria a vez de Lissa.

“No mais” falou Aberta depois de dar todas as instruções “vocês somente tem que dizer a verdade. Basta que falem tudo o que viram e viveram.”

Fomos direto para o tribunal e nos acomodamos nos acentos reservados para nós. De lá eu pude ver Rose sentada ao lado de Lissa. Ela usava o uniforme de guardiã que eu havia lhe enviado e sim, ela estava mais linda do que eu tinha imaginado que ela ficaria. Sorri internamente ao ver que ela tinha prendido cuidadosamente o cabelo em um rabo de cavalo no topo de sua cabeça. Olhá-la assim, trouxe a mim de volta a sensação que tive quando toquei nos cabelos dela pela primeira vez. Tinha sido no ginásio da Academia, quando ela tinha falado que não queria usar cabelos curtos. Meus pensamentos foram cortados com a entrada de Victor no recinto, com os olhos astutos, varrendo tudo ao redor. Ao mesmo tempo, usa postura era totalmente despreocupada. Dei o meu máximo para me manter imparcial.

Depois de Victor, a rainha Tatiana entrou, com seu ar típico de monarca. Todos da sala se levantaram e se ajoelharam em reverência. Permanecemos assim, até que ela se sentasse, dando início ao julgamento.

Um por um, os guardiões se colocaram no lugar reservado às testemunhas e narraram o que aconteceu. Os depoimentos eram muito parecidos, uma vez que todos estavam juntos quando o fato se deu, isso dava ainda mais credibilidade a acusação, já que ninguém entrou em contradição. Eu fui o último a ser chamado e me coloquei na frente deles, contando tudo que se passou em detalhes, não fugindo do que os outros falaram. Exceto que, eu tinha uma parte da história muito melindrosa. Um acontecimento que eu tinha que mascarar, mas que atormentava minhas noites, surgido sempre em minha mente. Fiz um esforço quase sobrenatural para manter frio e calculista, enquanto falava.

“Eu estava com a minha estudante, Rose Hathaway. Ela divide uma ligação psíquica com a princesa e foi a primeira a sentir o que tinha acontecido.”

O advogado de Victor mexeu em alguns papéis que estavam em cima da mesa e olhou para mim. Eu sabia exatamente o que ele iria me perguntar, então me preparei para a resposta.

“Baseado nos eventos, parece que houve um lapso de tempo entre ela ter descoberto o que aconteceu e o alerta dado aos outros guardiões.” Ele falou calmamente, seu tom não sugeria nada.

“Ela não pôde agir porque o Sr. Dashkov lançou um feitiço contra ela que a fez me atacar.” Falei levemente e ninguém pareceu perceber como meus sentidos estavam conflituosos dentro de mim. Eu sempre busquei fazer a coisa certa e falar a verdade entrava entre elas. Principalmente estando sob juramento. “O Sr. Dashkov é usuário da terra e uma pessoa com esse poder pode usá-lo como uma compulsão para influenciar nossos instintos. Neste caso, ele canalizou a raiva e a violência dela em relação a um objeto.” Estas minhas palavras fizeram Victor abafar uma risada irônica. A juíza se virou duramente para ele, em repreensão.

“Sr. Dashkov, respeite o decoro desta corte.”

Victor balançou a mão, ainda sorrindo “eu sinto muito Meritíssima e Vossa Majestade, mas algo no testemunho do Guardião Belikov disparou a minha risada. Não vai acontecer novamente.”

Eu não me deixei afetar por aquele comentário dele e terminei meu testemunho confiante e impassivo.

Depois do testemunho de Christian, Rose caminhou firmemente, transmitindo muita auto confiança, embora não encarasse ninguém da sala. Ela se colocou em frente a juíza e prestou juramento de falar a verdade, mas eu sabia que este juramento seria quebrado assim que o feitiço de luxúria fosse mencionado. Eu não me sentia bem com aquilo, mas não era algo que tínhamos escolha. Neste caso, a mentira era a única saída.

Rose tomou assento no banco das testemunhas e começou a narrar tudo que sabia. O seu depoimento era rico em detalhes, uma vez que ela presenciou os fatos pela mente de Lissa, porém, em alguns momentos, o testemunho se igualava com o meu e dos demais guardiões. Ela passou pela parte do feitiço com simplicidade, repetindo praticamente a mesma história minha e não se importando com a expressão irônica de Victor, que ouvia tudo com um sorriso nos lábios.

O rosto de Rose se manteve calmo todo tempo, me deixando surpreso e orgulhoso por ela conseguir manter seu controle, mesmo diante da grande ameaça que Victor ainda era. Ele podia, a qualquer momento, tomar a palavra e arruinar tudo. Mas ele não fez isso, bem, pelo menos ainda não. No final das contas, Rose tinha aprendido algo em nossas aulas, pensei comigo mesmo.

Depois de Rose, Lissa seguiu para seu testemunho. Sua maneira de narrar a história e, talvez por ter sido a vítima, fez com que todos escutassem atentamente, dando uma nova visão do acontecido. Todos a olhavam com compreensão e compaixão, principalmente quando ela narrou a tortura que Victor a impôs. Até a rainha tinha demonstrado uma expressão mais suave ao ouvir a narrativa.

Quando Lissa terminou, a acusação passou para o interrogatório de Victor, que respondeu tudo de forma alheia, como se não tivesse se passado com ele. Na realidade, aquele momento era como se não fosse com ele, de tão tranquilo e calmo que estava. Quando a advogada de acusação questionou sobre ele incentivar sua própria filha a se tornar um Strigoi, ele simplesmente respondeu sem remorso “Natalie tomou sua própria decisão”.

Infelizmente, aquela resposta dele não satisfez a acusação que levantou um ponto que eu esperava que tivesse ficado para trás e passado despercebido.

“Você pode dizer isso sobre todos que você usou para atingir seus objetivos?” ela questionou duramente “O Guardião Belikov e a Srta. Hathaway não tiveram escolha no que você os obrigou a fazer.”

Victor sorriu. Porque ela tinha que trazer isso novamente? Senti meu corpo ficar tenso, já prevendo que algo viria dele.

“Bem, isto é uma questão de ponto de vista. Honestamente, eu não acho que eles se importaram. Mas se você tiver tempo depois deste caso, Meritíssima, talvez você queira considerar que eu formalize a denúncia de um caso de estupro.”

Senti o sangue ferver em minhas veias. Ele realmente tinha começado a cumprir suas ameaças. Eu senti minha vista escurece com a fúria tomando conta de mim. Eu esperei a reação de todos, lutando para me manter em controle. Mas, ao contrário, ninguém nos olhou ou apontou para nós. Todos davam a Victor um olhar de ultraje e então percebi que era aquilo que ele queria. Ele não queria nos denunciar e sim nos provocar. As pessoas cochichavam e eu percebi que era algo que elas não imaginariam que acontecessem e que Victor só estava insinuando aquilo para tirar a atenção de cima dele. Também acredito que eu construí uma imagem séria e centrada, ninguém imaginaria que eu seria capaz de ter este tipo de conduta.

Resisti ao impulso de olhar para Rose, não queria dar a ninguém motivos para pensar que o que Victor falava era verdade. A juíza não se deixou levar por ele e o puniu por fugir do tema. Logo após isto, a rainha assumiu, dando a ele o veredito de culpado, o sentenciando a prisão perpétua. Eu considerei uma pena justa. A prisão iria reduzir muito sua atuação, muito embora eu soubesse que não que não iria deixá-lo totalmente fora de circulação. Victor permaneceu calmo e cheio de gracejos. A rainha finalizou a sessão e todos se levantaram para sair. Eu fui imediatamente para perto de Lissa, atento para cada movimento das pessoas da sala. Eu precisava lhe dar proteção, não podíamos prever do que Victor era capaz de fazer e nem quais pessoas podiam se aliar a ele.

Victor foi escoltado para fora, mas parou ao chegar perto de Lissa.

“Vasilisa, acredito que você esteja bem.” Ele falou secamente. Lissa não respondeu e ele continuou “Sinto por não termos tido a chance de conver, mas tenho certeza de que vamos fazê-lo da próxima vez.”

“Anda” um dos guardiões que o escoltava falou, o puxando para fora.

“Ele é louco” Lissa falou, enquanto observava ele ir “eu não consigo acreditar no que ele disse sobre você e Dimitri.”

Rose me olhou e não foi preciso palavra alguma para saber o que ela estava sentido. Até porque não podíamos falar ali. Seu olhar transmitia alívio e eu sabia que ela podia ver esse sentimento em mim também. Estivemos a um passo de ter as nossas vidas arruinadas.

Christian abraçou Lissa e Rose observou a cena, com enigma em seus olhos. Eu não sabia dizer o que ela estava sentindo. Foi quando vi Adrian se aproximar dela e a puxar pelo braço.

“Você está bem, pequena damphir? Dashkov disse algumas... hum... coisas sugestivas.”

A voz de Adrian era suave, ele sabia, de alguma forma, dos sentimentos que eu e Rose tínhamos um pelo outro. Ela se aproximou dele e falou baixo. Eu me esforcei para ouvir, em meio ao som das conversas paralelas da sala.

“Ninguém acreditou nele. Acho que está tudo bem. De qualquer forma, obrigada por perguntar.”

Ele sorriu e segurou o nariz de Rose “Dois agradecimentos seus em dois dias, eu não suponho que não vou ter, uh, uma gratidão especial.” Lá estava Adrian flertando com ela novamente.

“Não. Você vai ter que imaginar.”

Ele deu um meio abraço em Rose e eu me senti mal. A vontade que eu tinha era de pegar ele pela gola da camisa e jogar ele para fora dali.

“Certo. Mas eu tenho uma boa imaginação”

O grupo começou a sair e eu os acompanhei, ainda fazendo a guarda de Lissa, quando Priscilla Voda correu em direção a ela “a rainha gostaria de lhe encontrar, antes de você partir. Em particular”

“Claro.” Lissa respondeu a seguindo.





Fui até o meu quarto, arrumar minhas coisas, nós partiríamos logo. Na verdade, eu não tinha muitas coisas para guardar. Estava quase terminando, quando o meu telefone tocou. Era Alberta avisando que o vôo sofreria um atraso de três horas, por questões técnicas. Então, resolvi sair para dar umas voltas pelas lojas da Corte. Rose faria aniversário em breve, pensei que podia lhe comprar um presente. Na saída da casa de hóspedes, encontrei Lissa que vinha entrando. Ela me deu um sorriso encantador.

“Princesa” lhe dei pequeno um aceno com a cabeça.

“Ah, Dimitri, você nunca deixa essas formalidades de lado, não é?”

Eu neguei com a cabeça e ela continuou “fiquei muito indignada com a insinuação de Victor hoje. Como ele pôde falar algo assim de você e Rose? Achei isso um verdadeiro absurdo”

“Ele seria condenado e sabia disso. Ele apelou para o que podia. Ele podia ter insinuado qualquer coisa sobre qualquer pessoa. Foi uma atitude desesperada dele, como se fosse uma última cartada.” Falei de forma indiferente.

Ela fez uma expressão de concordância. “Bem, eu vou agora ao meu quarto, aguardar Rose voltar. Estou curiosa para saber o que a rainha queria falar com ela.”

“A rainha a chamou?”

“Sim, mas não adiantou qual era o assunto. Estou morrendo de curiosidade. Nessas horas eu queria que a nossa ligação fosse dos dois lados.”

Eu lhe dei um pequeno sorriso e nos despedimos. Até eu tinha ficado curioso para saber o que a rainha tinha para falar com Rose, mas dificilmente ela me contaria.

Passei pelas ruas da Corte e percebi que a notícia da condenação de Victor já corria por toda a parte. Fui em direção ao centro comercial e entrei em uma loja que vendia um pouco de tudo. Era como se fosse uma loja de departamentos compacta. Eu já sabia o que dar de presente a Rose e fui ao departamento que vendia aquele artigo. Andei pelas prateleiras e sorri mentalmente ao encontrar. Ela realmente ia adorar isso. Passei no caixa e pedi para embrulharem para presente. Voltei ao meu quarto, e coloquei o pequeno embrulho dentro da minha valise. Ainda faltaria algum tempo para decolarmos, então resolvi ler um pouco.

E, como sempre, eu estava completamente compenetrado na minha leitura, quando o telefone tocou.

“Belikov?” a voz de Aberta chamou no outro lado da linha “nosso avião já está praticamente pronto para decolar. Conseguimos antecipar um pouco a hora do vôo. Preciso que você encontre Vasilisa e Rosemarie, elas foram vistas indo em direção ao SPA há mais de uma hora.”

Vesti meu casaco e caminhei até o SPA. Uma brisa fria soprava, indicando que a temperatura havia caído ainda mais. Cheguei até a recepção e lá me indicaram o caminho da sala onde Rose e Lissa estariam cuidando das unhas. Não pude deixar de ficar surpreso por Rose se preocupar com suas unhas, diante de toda responsabilidade que a aguardava como guardiã. Lá, uma manicure chamada Eve me disse que elas tinham ido se consultar com uma vidente. Outra coisa que me deixou ainda mais surpreso. Rose não era o tipo de pessoa que se preocupava com seu lado espiritual, ainda que fosse místico. Só poderia ter sido uma idéia de Lissa.

Passei pelos corredores, seguindo mentalmente as instruções do caminho dadas por Eve. Encontrei a sala indicada, mas não havia ninguém na recepção. Então, dei uma batida leve na porta e abri, colocando minha cabeça para dentro. Vi Lissa e Rose sentadas em frente a uma mulher Moroi vestindo preto e coberta de jóias. Ela se chamava Rhonda, como haviam mencionado no salão do SPA.

“Ah, eles disseram que vocês estavam aqui.” Entrei olhando para a vidente, não deixando de me sentir tentado a pedir uma consulta. Ela me olhava com certa indagação e eu lhe dei um breve aceno em respeito “Desculpe interromper, mas eu preciso levar estas duas para o avião.”

Rhonda me olhou, como se pudesse examinar a minha alma. Eu senti calafrio passar pela minha espinha. Eu conhecia bem aquele tipo de olhar. Era igual ao que a minha avó me dava, quando tinha algum pressentimento. Ela também tinha o dom de fazer previsões sobre o futuro e eu cresci aprendendo a respeitar, admirar e, de certa forma, seguir isso. E agora, diante do olhar de Rhonda, eu experimentei novamente a sensação de que tinha algo que eu precisava saber. Algo sério iria acontecer e ela estava enxergando isso naquele momento. Algo que eu não poderia ignorar.

“Não tem nada para se desculpar” ela falou sem tirar os olhos de mim “mas, talvez você tenha tempo para uma leitura”. Seu tom não sugeria uma pergunta e sim quase uma imposição.

Realmente, eu não poderia ignorar isso. Então, puxei uma cadeira que estava ao lado de Rose e sentei em frente a mesa, começando a ficar preocupado com o que viria.

“Obrigado” falei polidamente, sentindo a preocupação tomar conta de mim.

Ela puxou as cartas que estavam dispostas na mesa e começou a embaralhar rapidamente, depois pedindo para que eu cortasse em três partes. Dali, ela tirou três cartas e arrumou na mesa. Eu conhecia bem aquelas cartas. Na verdade, eu conhecia todas as cartas. Eu vi muitas vezes minha avó jogar a sorte para mim e aprendi a ler o significado de todas, juntamente com ela, apesar de não ter o dom para fazer as previsões.

Rhonda mostrou o cavaleiro de paus, a roda da fortuna e o cinco de copas. Ela olhou para as cartas, como se elas fossem um portal para o futuro e depois me olhou profundamente.

“Você irá perder o que mais valoriza. Aprecie isso enquanto você ainda pode” ela então apontou para a carta da roda da fortuna e acrescentou “a roda está girando. Sempre girando.”

Aquelas palavras dela fizeram com que eu sentisse um calafrio ainda maior passar por mim. Não era uma leitura boa e a roda girar indicaria que seria breve. Eu sabia disso. Eu fiquei olhando para aquelas cartas, tentando buscar uma resposta para aquela previsão. O que eu perderia? O que eu mais valorizava? Fazendo uma breve lista mental, me ocorreu que eu valorizava muito mais coisas do que eu tinha conhecimento. E eu não queria perder nenhuma delas.

Senti que Lissa e Rose me olhavam de forma questionadora e voltei para a realidade que tinha me trazido até aqui. Tínhamos que viajar de volta para a Academia e já estávamos atrasados. Olhei novamente para Rhonda e lhe cumprimentei com um breve aceno “Obrigado.” Ela me devolveu o aceno e nós nos levantamos.

Um damphir que estava na sala nos cumprimentou e disse que a leitura tinha sido por conta dele “Isso valeu a pena” ele falou se dirigindo a Rose “valeu a pena ver você pensar dez vezes sobre o seu destino.”

Obviamente, Rose não estava levando nada daquilo a sério e ridicularizou “Sem ofensas, mas estas cartas não me fizeram saber nada sobre qualquer coisa que fosse”. Ele apenas sorriu em resposta.

Nós já estávamos seguindo para a sala da recepção, quando Lissa voltou para a sala de Rhonda.

“Com licença”

“Sim?” Rhonda respondeu.

“Isso vai lhe soar estranho, mas... hum, você poderia dizer em qual elemento se especializou?”

Uma leve e agradável brisa passou pelo cômodo “Ar. Por quê?”

“Nenhuma razão” respondeu Lissa “Obrigada novamente.”

Saímos andando apressadamente para a pista de decolagem. Nossas bagagens já haviam sido encaminhadas para lá. No caminho, fiquei quieto, ainda com as palavras de Rhonda em minha mente. Ela tinha razão. A todo momento algo que eu valorizava era colocado em perigo. Hoje, durante o julgamento de Victor, eu tive um exemplo disso. Ele podia ter arruinado com a minha vida em poucos minutos. Toda a minha carreira de guardião, tudo que eu me preparei e lutei para ser e conseguir, podia ter sido destruído, sem formas de conserto. E ainda tinha Rose. Eu a observei caminhando ao meu lado, também em silêncio e senti meu coração apertar. Eu a amava muito e sabia que não podia ficar com ela, mas e se Rhonda tivesse se referindo a isso? O que o futuro nos reservaria? Quanto tempo eu ainda teria com Rose ao meu lado? Eu poderia viver o resto da minha vida sem sequer ter tentado fazer com que desse certo?

Chegamos próximo ao avião e Lissa se afastou de nós, indo encontrar Christian. Rose olhou para mim, como se ela estivesse esperando somente por isso para falar: ficar sozinha comigo.

“Você ainda está pensando no que Rhonda lhe disse? Aquela mulher é uma vigarista.”

Aquela maneira espontânea que Rose tinha de falar me distraiu um pouco da tensão que eu sentia “Porque você diz isso?” falei, parando próximo ao avião. Estava muito frio ali fora, mas tínhamos que aguardar autorização para o embarque.

“Por que ela não nos disse nada! Você precisava ter ouvido o que ela falou sobre o meu futuro. Foi apenas uma frase e dizendo o óbvio. Lissa teve mais sorte, mas não foi algo tão profundo. Rhonda disse que ela será uma grande líder. Falando sério, não é muito difícil descobrir isso.”

Eu dei um pequeno sorriso. Só mesmo Rose para me distrair daqueles pensamentos que começaram a me assombrar. Ela precisava conhecer mais da vida e das coisas ocultas que nos cercavam. Principalmente quando se trata de previsões sobre o futuro. Nem sempre o que parece óbvio é o que estamos vendo. Isso pode estar revelando um momento chave para nós no futuro, enquanto só estamos conseguindo associar a previsão ao momento presente.

“Você teria acreditado se ela tive lhe dado uma leitura mais interessante?”

“Talvez se fosse boa...” Eu sorri novamente e então ela acrescentou “mas você levou a sério. Porque? Você realmente acredita nesse tipo de coisa?”

“Não é que eu acredite... ou que não acredite” falei puxando o gorro que eu usava mais para baixo, para cobrir minhas orelhas. O frio era muito grande. “Eu só respeito pessoas como ela. Elas têm acesso a um conhecimento que outras pessoas não têm.”

“Ela não é uma usuária do espírito. Então, eu não tenho certeza de onde ela consegue ter esse conhecimento. Eu ainda acho que ela é uma farsante.”

“Na verdade, ela é uma vrăjitoare.”

“Uma... uma o quê? Isso é russo?”

“Romeno. Bem, quer dizer, não tem uma tradução. ‘Bruxa’ é o mais próximo, mais ainda não é certo. A idéia de bruxa não é a mesma dos americanos.”

Rose me olhou de forma pensativa, sua expressão dizendo que ela estava se interessando por aquele assunto. Então eu continuei falando, era uma forma de me distrair da preocupação que aquela leitura tinha deixado em mim.

“Minha avó era como Rhonda. Quer dizer, ela praticava as mesmas artes. Em questão de conselhos, elas são muito diferentes.”

“Sua avó era uma v- tanto faz?”

“Se chama outra coisa em russo, mas tem o mesmo significado. Ela costumava ler cartas e dar conselhos. Era como ela ganhava a vida.”

Um ar de constrangimento passou pelo rosto de Rose. Acho que ela estava revendo o conceito dela sobre vigaristas.

“Ela acertava? Em suas predições?” ela perguntou me olhando de forma desconfiada.

“Às vezes. Não me olhe desse jeito.”

"De que jeito?"

“Você tem no seu rosto um olhar que diz que você acha que eu estou me iludindo, mas você é educada demais para falar algo a respeito.”

Ela realmente estava me olhando de forma incrédula. Era como se ela não pudesse acreditar que alguém racional como eu me deixasse levar por uma coisa tão sem fundamento. Mas ela não sabia que muitas coisas construíam nossas crenças ao longo da vida.

“Se iludindo é meio pesado. Eu só estou surpresa. Só isso. Eu nunca esperei que você acreditasse neste tipo de coisa.”

“Bem, eu cresci com isso, então não me parece totalmente estranho. Mas como lhe disse, não tenho 100% de certeza.”

Um protesto de Adrian junto do avião cortou nossa atenção. Só então percebi novamente que tinha outras pessoas próximas a nós. Por um momento tive a impressão que só tinha e eu e Rose ali. Até o frio que estava fazendo pareceu diminuir, na presença dela.

“Eu também nunca pensei que você tivesse uma avó viva. Quero dizer, obviamente você teve. Mas ainda assim... é estranho pensar em você vivendo com uma. Era estranho ter uma avó bruxa? Assustador? Ela ameaçava lançar um feitiço, caso você se comportasse mal?”

“A maior parte do tempo ela só me ameaçava me deixar de castigo no quarto.”

“Isso não me parece muito assustador para mim.”

“É porque você não a conhece.”

“Ela ainda está viva?”

“Sim. É necessário mais do que a idade para matá-la. Ela é durona. Na verdade, ela foi uma guardiã por muito tempo.”

“Verdade? Então ela desistiu porque – hum, para tomar conta dos filhos?”

“Ela tem ideias muito fortes sobre família – ideias que provavelmente soariam machistas para você. Ela acredita que todos os damphirs deveriam treinar e tornarem-se guardiões, mas todas as mulheres deveriam voltar para casa para criar seus filhos.”

“Mas não os homens?”

“Não. Ela acha que os homens deveria ficar e matar os Strigois.”

“Humm...” Rose ficou pensativa por um momento e acrescentou uma piada “Então você teve que ir. As mulheres da sua família lhe expulsaram.”

Eu tive que sorrir. Minha mãe jamais me mandaria embora. “Dificilmente, minha mãe me aceitaria de volta em um segundo, se eu resolvesse voltar para casa.”

Eu continuei sorrindo, ao lembrar da minha mãe. Como eu sentia saudades de casa, e tudo aumentava pelo fato de não poder voltar. Elas não viviam em um ambiente que eu aprovava. Eu preferia que as mulheres da minha família tivessem o mesmo comportamento de Janine. Que tivessem filhos, tudo bem, mas que seguissem a carreira de guardião. Era bem melhor do que ficar 'recebendo' Morois que nunca as valorizavam.

Não muito longe, ouvi Adrian reclamar novamente do frio, querendo embarcar logo. Realmente estávamos congelando ali, então fomos autorizados a entrar no avião, repetindo praticamente a mesma disposição dos acentos da viagem de ida. Exceto que Lissa sentou perto de Rose, contando para todos as novidades do encontro delas duas com a rainha. Falou como Rose tinha sido elogiada pela sua bravura em atacar os Strigois e dos planos que a rainha tinha em mandar Lissa para Lehigh, após a formatura. Eu não prestei muita atenção na conversa deles, mas pude perceber que, pelo tom de Rose, a sua visita à rainha não tinha sido nada boa. Provavelmente estava longe da sessão de elogios que Lissa tinha narrado.

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